CORONAVÍRUS

Covid-19: 'Pior cepa possível é a má gestão da epidemia', diz epidemiologista da Fiocruz sobre Bolsonaro

Especialista criticou negacionismo da gravidade da pandemia de covid-19 no Brasil por parte de autoridades políticas

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 12/01/2021 às 16:39 | Atualizado em 08/05/2023 às 9:07
AMAZÔNIA REAL
FOTO: AMAZÔNIA REAL

A má gestão da pandemia de covid-19 e o negacionismo de autoridades políticas, como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, são um dos principais motivos para o país estar sendo duramente afetado pelo novo coronavírus, de acordo com o epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana. 

Para o especialista, o presidente Jair Bolsonaro foi um dos "principais vetores da disseminação viral", com uma participação negativa e importante, e que o que está acontecendo no Brasil "poderia ter sido plenamente evitado". 

"Nós estamos falando de cepas que ajudam o vírus a circular, mas a pior cepa possível é a má gestão da epidemia. E, nesse quesito, não tenho nenhuma dúvida de que o presidente teve uma participação negativa e importante", afirmou. 

Orellana ainda criticou as recentes declarações do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre o chamado "tratamento precoce", em Manaus, em que diz que a testagem para diagnóstico da covid-19 não é tão importante.

"Ouvir esse tipo de declaração de um ministro da Saúde é algo que nos deixa desapontados e sem referência. Ao lado do presidente da República, ele deveria ser uma das figuras que deveria assumir o protagonismo de levar informação correta à população, e não fake news", afirmou.

Situação de Manaus preocupa

Em Manaus, capital do Amazonas, casos de infecção e mortes por covid-19 dispararam no final de dezembro de 2020 e começo de 2021.

A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) informou que, nesta segunda-feira (11), houve o diagnóstico de 2.151 novos casos da doença, totalizando 216.112 casos no estado.

Segundo o boletim, também foram confirmados 55 óbitos por covid-19, dos quais 34 ocorreram no domingo (10) e 21 foram encerrados por critérios clínicos, de imagem, clínico-epidemiológico ou laboratorial, somando um total de 5.756 mortes.

De acordo com dados da Prefeitura de Manaus, somente no domingo (10) foram registrados 62 sepultamentos em função da covid-19.

"Caso mais dramático de todos"

"O caso de Manaus é o mais dramático de todos. Você tem filas de espera para leitos clínicos, de UTI, pessoas morrendo em casa", comentou o epidemiologista da Fiocruz.

"Está faltando até oxigênio nos hospitais de Manaus. É uma situação realmente caótica, e, para piorar, ainda temos vestígios da circulação de uma variante até então não identificada no Amazonas", concluiu.

Nova cepa em investigação

No domingo (10), o Ministério da Saúde do Japão anunciou a detecção de uma nova variante do coronavírus em quatro viajantes que estiveram no Brasil, especificamente no estado do Amazonas, e que retornaram ao país de origem no dia 2 de janeiro.

A informação foi confirmada pelo Ministério da Saúde brasileiro, que afirmou ter sido notificado no sábado (9) pelo governo japonês.

O especialista ressalta que as mutações do vírus são esperadas, e que essas mudanças podem torná-lo mais ou menos infeccioso ou danoso à saúde.

"Essas informações precisam ser confirmadas, mas eu diria que é provável que nós estejamos com uma nova cepa que se dispersa mais rápido no ambiente circulando em Manaus, porque o aumento das taxas de infecção, e sobretudo da mortalidade no final de dezembro, foi muito abrupto e inesperado", disse.

De acordo com Jesem Orellana, apenas um fator como esse "poderia nos ajudar a entender uma aceleração tão rápida como essa". Contudo, o epidemiologista da Fiocruz voltou a criticar a má gestão como um dos fatores para a situação caótica.

"A gente não pode atribuir, única e exclusivamente, essa tragédia a essa possível nova cepa. Nós sabemos que, na verdade, o grande problema de Manaus e do estado do Amazonas é de gestão na epidemia", iniciou.

Segundo ele, houve uma falha na gestão da primeira onda, da segunda onda e, "infelizmente, estamos mergulhados nessa crise".

"A população também não contribuiu, muito em função do que temos visto desde o início da epidemia: a minimização da crise por diferentes atores políticos, por parte de personalidades do mundo artístico e empresários, que levaram muitas pessoas a acreditar que o novo coronavírus é inofensivo", encerrou.