Exploração

Trabalho Infantojuvenil: a dura realidade dos jovens no interior de PE

Crianças e adolescentes são vistos com frequência trabalhando como gente grande em feiras e na Zona Rural de cidades do interior do Estado

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FOTO: Reprodução/TV Jornal

Desde o ano de 2013, o Ministério Público do Trabalho cobra de 23 municípios do Agreste políticas públicas que possam erradicar o trabalho infantil. No entanto, crianças podem ser vistas trabalhando nas feiras livres da região, e também no Sertão de Pernambuco.

A segunda reportagem da série especial "Trabalho não pode ser infantil" mostra crianças e adolescentes do interior do Estado que trabalham como gente grande.

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Confira o especial

Família Miguel

Na Zona da Mata, uma família em que todos trabalhavam desde pequenos resolveu ir contra essa realidade e deixar no passado as atividades proibidas para os menores. As quatro gerações da família Miguel vivem em uma granja, na Zona Rural de Nazaré da Mata, na Mata Norte de Pernambuco. Boa parte dos integrantes da família precisaram trabalhar quando crianças para ajudar em casa. "Trabalhava na roça, plantava algodão, feijão, fava. Tinha que ajudar meus pais. Já sofri muito", diz Elias Miguel, que nunca frequentou salas de aula.

Já o seu filho, Eládio Miguel, apesar de conhecer, aos 12 anos, a dura rotina de trabalho, conseguiu, com sacrifício, frequentar a escola. "Eu pegava um carro no engenho aqui vizinho, ia para Vicência, chegava tarde em casa, mas saía correndo para pegar o ônibus para a escola. Chegava em casa só às onze da noite", contou o avicultor.

Exemplo de superação

Elex Miguel foi o último da família que precisou trabalhar quando criança, mas ele conseguiu superar barreiras e ir além: concluiu os estudos e foi aprovado em um concurso público. "Quando eu passei no concurso público foi uma liberdade para mim. Comecei a respirar, me libertei da tortura e agora tenho uma vida diferente", afirmou Elex.

Flagras de exploração

O trabalho infantil ainda não está apenas no passado. Em maio deste ano, nos municípios de Ipubi e Araripina, no Sertão de Pernambuco, o MPT flagrou 13 crianças e adolescentes trabalhando em casas de produção de farinha de mandioca.

Nas feiras livres de Caruaru, no Agreste, a TV Jornal flagrou crianças e adolescentes realizando diversas tarefas de adultos. Manipulando facas, vendendo cigarros, carregando alimentos em carrinhos de mão e lidando com dinheiro.

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Fiscalização

Como procurador regional do Trabalho em Caruaru, José Adilson é responsável por fiscalizar o trabalho infantil em 90 municípios do Agreste e do Sertão de Pernambuco. Dos 90, 23 municípios estão sendo cobrados e acompanhados pelo MPT. As condições sociais são o maior obstáculo para todos. "Quem emprega essas crianças acha que é melhor dar dois reais a eles, em troca do trabalho, do que verem passando fome", afirmou Adilson.

Cor e classe social

Para a procuradora do Trabalho (MPT-PE), Jailda Pinto, o trabalho infantil possui cor e classe social. "A pobreza é causa e consequência do trabalho infantil. Não há esse tipo de exploração nas famílias que têm condições de sustentar os filhos. As vítimas são os filhos e filhas de pessoas negras e pobres", afirmou Jailda.

Nota

A Prefeitura de Caruaru informou, por meio de nota, que tem um programa de erradicação do trabalho infantil, com abordagem das famílias, e que busca orientar, informar e identificar violência contra crianças e adolescentes nas feiras livres. Segundo a nota, uma equipe formada por assistentes atua de segunda à sábado no Parque 18 de Maio, onde também existe um espaço para acolher crianças e adolescentes em situação de risco.

A Prefeitura informa ainda que o Conselho Tutelar tem o dever de intervir em qualquer situação em que haja a situação do trabalho infantojuvenil. No entanto, segundo a Prefeitura, a competência de fazer autuações dos responsáveis pelos menores é do Ministério do Trabalho. O Disque 100 recebe denúncia desse tipo de situação.

Última reportagem

Nesta sexta-feira (30), será exibida a última reportagem da série, que mostrará ações que contribuem para erradicar o trabalho infantil.