A falta de um lugar digno para a população viver é constante em todo o país. No Recife, de acordo com a prefeitura, o déficit habitacional é de 71 mil moradias. Esse número aponta que várias famílias convivem com o descaso e se sentem abandonadas pelo poder público. Um dos exemplos é a comunidade do Beco do Sururu, localizada no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife. É a primeira história da série de reportagens 'Soluções urbanas, habitação', que teve inicio nesta segunda-feira (23).
Perca do filho
A catadora de materiais recicláveis, Leidiane Gomes, afirmou que perdeu um filho de 11 meses. Ela catava sururu, quando de repente o bebê escorregou entre as tábuas, caiu na água e morreu afogado. "É difícil passar pelo canto onde eu sei que meu filho morreu, porque a prefeitura não está nem aí para a gente. Fica só na promessa, em dizer vai sair e do canto não sai. A gente vive abandonado. É triste, mas é a realidade.", relatou.
Omissão
O arquiteto, Geraldo Marinho, afirma que as últimas gestões da prefeitura do Recife foram e estão sendo omissas em relação ao tema. "A gente precisa construir respostas para diferentes públicos, porque tem uma população muito sofrida, sem nenhuma alternativa", falou.
Mais prejudicados
As comunidades das palafitas na Zona Sul, são apenas um dos exemplos da falta de moradia que atinge toda a Região Metropolitana do Recife. Os mais prejudicados, segundo a prefeitura da cidade, são os grupos que ganham até três salários mínimos. O problema é que a conta está longe de fechar. O número de casas construídas pelo poder público vem caindo ao longo dos anos.
Argumento da prefeitura
Ao todo, em 19 anos, as gestões municipais do Recife construíram 10.071 moradias populares e bem longe das 71 mil que a sociedade necessita. Segundo o Secretário de Planejamento Urbano do Recife, Antônio Alexandre, a redução dos investimentos nas novas construções populares da cidade está ligada com esgotamento do modelo que financia habitações do país.
"No caso do Recife, cada vez menos existe a possibilidade de encontrarmos terrenos vazios e urbanos que possam acolher esses conjuntos habitacionais, por um modelo de financiamento, que era sustentado muito fortemente em cima de orçamento público. Uma situação que nossa realidade fiscal hoje não permite mais. Por isso, grandes desafios estão postos agora. No Brasil inteiro há essas discussões sobre qual modelo habitacional substituiu e o atual já não consegue mais responder as nossas necessidades", comentou.