Caso Miguel

"Aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento", diz mãe de Miguel sobre Sarí

Autuada por homicídio culposo pela morte de Miguel, Sarí Corte Real pagou fiança de R$ 20 mil e foi liberada pela polícia

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 10/06/2020 às 13:58
Reprodução/TV Jornal
FOTO: Reprodução/TV Jornal

"A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente", escreveu Mirtes Renata Santana da Silva, mãe de Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos. Nesta quarta-feira (10), a empregada doméstica divulgou uma carta, através de seu advogado, e falou sobre o perdão pedido pela sua patroa, autuada por homicídio culposo e liberada ao pagar fiança de R$ 20 mil. Miguel morreu no dia 2 de junho após cair do 9º andar do condomínio de luxo Píer Maurício de Nassau, conhecido como Torres Gêmeas, no bairro de São José, na área central do Recife, onde a mãe trabalhava como empregada doméstica.

Na carta, Mirtes escreveu um relato bastante emocionado sobre a perda do filho. "Eu não tenho rancor. Tenho saudade do meu filho. O sentido da vida de quem é mãe passa pelo cheiro do cabelo do filho ao acordar, pelo sorriso nas suas brincadeiras, pelo “mamãe” quando precisa do colo e do abrigo de quem o trouxe ao mundo. Uma mãe, sem seu filho, sofre uma crise, não apenas de identidade, como também de existência. Quem sou eu sem Miguel?", questionou a mãe.

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Leia a carta na íntegra

Sobre o perdão pedido por Sarí
Eu não recebi qualquer pedido de desculpas. A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me faz pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser esse um ano de eleição.

Eu não tenho rancor. Tenho saudade do meu filho. O sentido da vida de quem é mãe passa pelo cheiro do cabelo do filho ao acordar, pelo sorriso nas suas brincadeiras, pelo “mamãe” quando precisa do colo e do abrigo de quem o trouxe ao mundo. Uma mãe, sem seu filho, sofre uma crise, não apenas de identidade, como também de existência. Quem sou eu sem Miguel? Ela tirou de mim o meu neguinho, minha vida, por quem eu trabalhava e acordava todos os dias.
Quando eu grito que quero justiça, isso significa que eu preciso que alguém assuma a minha dor, lute minha luta, seja o destilado da cólera que eu não quero e nem posso ser. Eu não tenho forças neste momento, não tenho chão. Não tenho vida!
Após poucos dias é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível. Afinal, sabemos que ela não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser “filho da empregada”.
Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente.
Mirtes, mãe de Miguel

"Essa carta não chegou a mim, chegou à mídia", diz mãe de Miguel sobre carta da patroa

Na manhã dessa terça-feira (09), a mãe do menino Miguel, em uma entrevista para a TV Jornal, já havia revelado não ter recebido a carta divulgada pela imprensa assinada por Sarí Corte Real. Na carta, Sarí pede perdão para Mirtes.

Zelador e morador prestam depoimento

As investigações do Caso Miguel continuam. Na manhã desta quarta-feira (10), o zelador do condomínio de luxo prestou depoimento à Polícia Civil na Delegacia de Santo Amaro, na Área Central do Recife. Segundo informações apuradas pelas equipe de reportagem da TV Jornal, um morador do prédio, que teria ajudado no socorro do menino, também prestou depoimento ao delegado nessa terça-feira (9).

Ainda segundo informações, o funcionário do prédio deve voltar ainda na Delegacia para ser ouvido novamente pelo delegado responsável pelo caso, Ramom Teixeira.

Não se pronunciaram ainda

Ainda não foram ouvidas pela polícia a manicure que estaria na casa da patroa no dia da tragédia, bem como Sarí Corte Real, autuada em flagrante por homicídio culposo - quando não há intenção de matar - por deixar a criança sozinha no elevador momentos antes do acidente.

De acordo o advogado de Sarí, Pedro Avelino, uma petição foi elaborada e ainda esta semana a mulher deverá ser chamada para prestar um novo depoimento, já que no dia do acidente ela não falou com a polícia.

Apelo à manicure

Durante a entrevista à TV Jornal nessa terça-feira (9), a mãe de Miguel fez um apelo para a manicure que estaria na casa da patroa no dia do acidente. "Eu só peço uma única coisa: Por favor, vai até a delegacia e preste esclarecimento. Eu preciso da sua ajuda. Porque tudo o que aconteceu com Miguel precisa se resolver e eu preciso da sua ajuda. Por favor, apareça e preste esclarecimento. Eliane, eu estou pedindo, é um pedido de uma mãe. Você também é mãe, se fosse com o seu filho e se eu estivesse no seu lugar, eu iria lá e dava os esclarecimentos. Por favor, eu estou pedindo por favor" apela Mirtes para manicure.

Investigações

Ao todo, três perícias já foram feitas no prédio onde ocorreu o acidente. Segundo os peritos, que investigam o caso, várias imagens estão sendo analisadas e estudadas. Ainda não há um prazo para os laudos sejam entregues ao delegado. A Polícia civil tem um prazo de 30 dias para concluir o inquérito. Porém, esse prazo pode ser prorrogado dependendo do andamento das investigações.

Agilidade

A família pede agilidade na conclusão do caso que ainda segue em investigação. Na tarde da segunda-feira (8), uma equipe do instituto de criminalística voltou pela terceira vez ao prédio de luxo e fez uma nova análise no trecho que Miguel percorreu dentro do elevador de serviço até o momento do acidente no nono andar do edifício.

Mirtes, mãe de Miguel, era contratada

Sobre a questão trabalhista, Mirtes revelou que não tinha a carteira assinada, mas que assinou um contrato. "Ainda tem esse contrato, fiquei sabendo ontem pelo pessoal da prefeitura que não deu baixa ainda. Meu nome e o da minha mãe [Marta Maria Santana Alves] ainda estão na prefeitura, desde o período que começamos a trabalhar para o casal", reforçou. A mãe de Miguel contou ainda que, no momento, seu dinheiro está preso no banco e ela não consegue pagar as contas, que já estão ficando atrasadas.

Sarí cadastrada no auxílio emergencial

O nome de Sarí também está sendo investigado por constar no pedido do auxílio emergencial de R$ 600 reais. O benefício é destinado pelo Governo Federal aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais, autônomos e desempregados que tiveram a renda afetada pela crise do coronavírus. A informação foi divulgada pelo Portal Notícia Preta e confirmada pelo Jornal do Commercio.

No sistema da Dataprev, órgão que analisa os pedidos do auxílio , a solicitação em nome de Sarí foi feita no dia 14 de maio e até hoje consta que o pedido encontra -se em processamento.

Questionado sobre este caso o advogado de Sarí, afirmou que não ia comentar sobre o assunto já que o trabalho dele está restrito apenas à defesa do caso envolvendo a morte de Miguel.

Uma semana da tragédia

Nessa terça-feira (9), fez uma semana da tragédia que resultou na morte do pequeno Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, após cair do 9º andar do condomínio de luxo Píer Maurício de Nassau, conhecido como Torre Gêmeas, localizado no bairro de São José, na área central do Recife, no último dia 02 de junho.

"Se fosse o filho dela? Minha irmã já estava na cadeia", diz tia de Miguel em protesto no Recife

Mesmo abalada, uma das tias do pequeno, Renata Sousa, foi até o local do protesto e pediu que a justiça seja feita depressa. Além disso, ela ainda relatou que o sonho do menino foi interrompido brutalmente.

Mesmo abalada, uma das tias do pequeno, Renata Sousa, foi até o local do protesto e pediu que a justiça seja feita depressa. Além disso, ela ainda relatou que o sonho do menino foi interrompido brutalmente.

"Se fosse o filho dela? Se fosse o contrário? Minha irmã já estava na cadeia por causa dela. Por causa de um capriche de uma madame, meu sobrinho está morto hoje. Eu quero justiça pela minha irmã, justiça pelo meu sobrinho, de 5 anos. Ele era uma criança cheia de sonhos que foi interrompido por uma madame. Foi interrompida a vida do meu sobrinho. Ela destruiu uma família, ela despedaçou todos nós e a gente só quer a justiça", afirmou.

Relembre o caso

O caso aconteceu na tarde da última terça-feira (2), quando Mirtes Renata deixou o filho sob a responsabilidade da patroa e desceu para passear na rua, com o cachorro da família. Ao voltar para o prédio, ela se deparou com o filho praticamente morto. Miguel ainda foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos provocados pela queda.