Estudo

Contato anterior com outros tipos de coronavírus influencia gravidade da covid-19

Histórico de exposições de cada pessoa a outros tipos de coronavírus pode influenciar na severidade da covid-19

Jornal da USP
Jornal da USP
Publicado em 11/08/2020 às 10:12
Pixabay
FOTO: Pixabay

Uma pesquisa internacional com participação de cientistas da USP analisou o possível impacto no grau de severidade da covid-19 do histórico de infecções causadas por coronavírus endêmicos – outras espécies de coronavírus, que em sua grande maioria causam apenas resfriados.

>> Pernambuco soma mais de 104 mil casos e se aproxima das 7 mil mortes pelo coronavírus

>> Vacina contra coronavírus só a partir de 2021, informa Fiocruz

>> Recife é a 2º capital do Nordeste com maior taxa de mortalidade devido ao coronavírus

>> Teste positivo para coronavírus em quem já teve a doença leva cientistas a investigarem se é possível reinfecção

>> Covid-19 põe em risco anos de progresso em saúde nas Américas, diz OMS

Reatividade cruzada

Uma das possibilidades levantadas é de que a exposição prévia aos outros coronavírus provoque uma reatividade cruzada com o SARS-CoV-2, vírus causador da covid-19, e que esta pode ser benéfica ou prejudicial dependendo do número de exposições, o que está relacionado à idade. Assim, pacientes mais velhos tenderiam a ter uma forma mais grave da doença do que os mais jovens. Os resultados do artigo, que ainda está em revisão, estão disponíveis na plataforma MedRxiV (preprint).

De acordo com Daniel Santa Cruz Damineli, pesquisador na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que atua na área de Biologia Computacional, a ideia central das investigações era entender por que os coronavírus endêmicos atacam mais a população infantil e menos as pessoas mais velhas, e com o vírus da covid-19 acontece o contrário. “A população poderia ter uma suscetibilidade ao novo coronavírus diferente de acordo com a idade e queríamos explorar o porquê”, contou ao Jornal da USP.

>> OMS: Índice de jovens com coronavírus triplica em 5 meses no mundo

>> Nova síndrome em crianças associada ao coronavírus é monitorada; entenda a doença

>> Coronavírus: Mulheres são mais afetadas por crise econômica na pandemia

>> Coronavírus: Araripina e Ouricuri retrocedem no Plano de Convivência e entram em isolamento social rígido

Estudo

O estudo foi feito no Departamento de Pediatria, dentro do Laboratório de Genômica Pediátrica, que é coordenado pelo professor Carlos Alberto Moreira Filho, da FMUSP, em colaboração com o Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP.

Para buscar respostas, os cientistas simularam uma equação que descreve a severidade da covid-19 de acordo com a exposição a infecções causadas por coronavírus endêmicos. Os dados que alimentaram o modelo são de países da União Europeia e do Reino Unido.

Os resultados mostraram que a heterogeneidade nos históricos de exposição individual a coronavírus endêmicos consegue explicar os padrões de idade e hospitalizações causados pela covid-19. Uma das hipóteses levantadas é de que as primeiras infecções com outros tipos de coronavírus conferem uma proteção inicial ao SARS-CoV-2, porque ambos os vírus possuem similaridades em proteínas estruturais.

Essa proteção, conhecida como reatividade cruzada ou heterotípica, que acontece quando um indivíduo responde a um patógeno com memória imunológica de outro, pode ser maléfica ao longo do tempo porque o nosso organismo começa a especializar a resposta imune para os coronavírus endêmicos, o que dificultaria o combate ao vírus da covid-19.

>> Infectologista explica que transporte público pode ser vetor importante na propagação do coronavírus

>> Coronavírus: Pernambuco regulamenta lei que torna obrigatório o uso de máscaras

>> Infectologista responde como algumas pessoas possuem defesa contra o novo coronavírus mesmo sem terem sido infectadas

>> Coronavírus: Procape fecha enfermaria e UTI pediátrica por causa de funcionários doentes

>> Professora, paciente de número 2.500 diagnosticada no Recife com coronavírus recebe alta

Faixa etária

A relação com a idade baseia-se na probabilidade de pessoas mais velhas já terem tido mais contato com diversos outros tipos de coronavírus. “Isso poderia tanto conferir uma proteção inicial como levar a uma piora conforme você fica mais velho”, detalhou Damineli. Uma criança, por exemplo, que teve pouco contato com coronavírus endêmicos pode desenvolver uma resposta heterotípica benéfica quando exposta ao vírus da covid-19, o que faria a doença menos severa.

Outro resultado apontado pelo modelo é a diferença na severidade da covid-19 dentro da própria população infantil. Segundo o pesquisador, fazendo-se comparações entre a população pediátrica, os mais jovens têm uma severidade ligeiramente maior ao SARS-CoV-2.

Isso poderia ser explicado pelo fato de os infantes não terem tido contato com os coronavírus endêmicos, que iriam conferir uma proteção inicial, através da reatividade cruzada, ao vírus da covid-19. “Esse dado mostra uma característica interessante do modelo: não é um perfil monotônico, pois nem sempre ele aumenta. Há uma queda inicial e depois uma piora bem grande com a idade”, explicou.

Hipótese para o aumento da severidade

O mecanismo de piora da reatividade cruzada não está contido no modelo, entretanto Damineli explica que existe uma hipótese, levantada pelos pesquisadores, para explicar o fenômeno.

Essa suposição está relacionada a um artifício para sabotar o sistema imune: o ADE (Antibody-dependent enhancement), sigla para potenciação dependente de anticorpos. O que acontece é que a imunidade contra um subtipo de vírus acaba atrapalhando a defesa contra outro subtipo.

Neste caso, a defesa contra coronavírus endêmicos, que fica mais especializada e refinada com o tempo, atrapalharia o sistema imune no momento de montar uma reação contra o vírus da covid-19. “Se você tem um monte de anticorpos não neutralizantes cobrindo o vírus, você cria uma forma nova do vírus infectar outras células”, explicou o pesquisador. Esse mecanismo já é conhecido para SARS, MERS e dengue, por exemplo.

Com esta pesquisa, os cientistas chamam atenção para a necessidade de se estudar mais detalhadamente a reatividade cruzada. “Precisamos entender como anticorpos que foram desenvolvidos ao coronavírus endêmicos reagem ao SARS-CoV-2. Se não entendermos isso, podemos estar perdendo um mecanismo que explica grande parte do que está acontecendo na pandemia”, finalizou Damineli.

A pesquisa Potential impact of individual exposure histories to endemic human coronaviruses on age-dependence in severity of COVID-19, disponível em preprint, já está passando pela revisão por pares para ser publicada.

>> Mulher com doença na mama faz apelo para conseguir atendimento no SUS
>> Mãe enfrenta problema de saúde, perde auxílio do governo e faz apelo para cuidar da filha com deficiência intelectual e epilepsia
>> Campanha incentiva doação de sangue no Brasil
>> Grávida afirma ter sido vítima de golpe e precisa de doações após ficar sem benefício do governo
>> ONG distribui 450 refeições para comunidade em Olinda; veja como doar

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

>> Núcleo de Apoio à Criança com Câncer afirma que doações caíram pela metade por causa do coronavírus
>> Pandemia do coronavírus: Lar do Neném pede doações para se manter
>> Delegacia de Boa Viagem e ONG fazem campanhas para arrecadar doações
>> Hospital de Câncer precisa de ajuda para continuar atendendo pacientes
>> Paróquia do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio realiza campanha de arrecadação de máscaras para moradores de rua

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização.
  • Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
  • Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada: