PEDIDO DE JUSTIÇA

‘’Por que deixou o menino só?’’, questiona o pai de criança que morreu após cair de prédio no Recife

A morte Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, causou revolta e vários pedidos por justiça

Robert Sarmento
Robert Sarmento
Publicado em 04/06/2020 às 16:38
Reprodução/TV Jornal
FOTO: Reprodução/TV Jornal

A tristeza que tomou conta da mãe do menino Miguel Otávio Santana da Silva não foi menor para o pai. Indignado com a perda do filho de apenas 5 anos, que caiu do 9º andar do condomínio de luxo Píer Maurício de Nassau, conhecido como Torres Gêmeas, no bairro de São José, na área central do Recife, na última terça-feira (02), ele cobrou mais investigações sobre o caso e quer que a dona do apartamento onde a mãe do menino trabalhava explique tudo o que aconteceu.

‘’A gente vai correr atrás (de justiça). Hoje foi meu filho, estou com dor, mas vamos correr atrás e descobrir o que houve. Vamos querer saber tudo. A patroa dela tem que explicar. Tem que explicar por que deixou o menino só? Por que não deixou o (filho) dela só e deixou o meu?’’, questionou.

Velório

Dor e revolta. Assim foi marcado o enterro do corpo de Miguel Otávio Santana da Silv no Cemitério de Bonança, no município de Moreno, na Zona da Mata de Pernambuco. Os parentes do menino não conseguiram conter a emoção.

Negligência

Em entrevista à TV Jornal, a empregada doméstica Mirtes Renata Santana da Silva, mãe de Miguel, desabafou e revelou que a patroa disse que iria tomar tanto da própria filha quanto do garoto, pois eles costumavam brincar juntos, enquanto Mirtes precisou sair para passear com o cachorro de estimação dos proprietários do imóvel. Diante da dor e tristeza, ela acredita que a patroa deveria ter tido mais paciência no momento em que Miguel estava no elevador.

"Infelizmente, faltou um pouco de paciência dela para tirar o meu filho de dentro do elevador. Se ela tivesse um pouquinho mais de paciência, se ela tivesse pego ele pela mão, ao invés de ficar só falando, pegasse ele pela mão e tirasse [ele do elevador], meu filho tava hoje comigo"

Investigações

As imagens da câmera de segurança do elevador foram a principal prova da "negligência" da mulher, de acordo com a Polícia Civil. como a polícia definiu. O vídeo mostra que a patroa de Mirtes aperta o botão do elevador e os momentos finais de Miguel antes da queda. A perícia concluiu que o garoto teria se pendurado em um guarda-peito de metal e caído de uma altura de 35 metros e revelou que testemunhas informaram que o garoto estaria procurando pela mãe.

Liberada após fiança

A Polícia Civil autuou por homicídio culposo a dona do apartamento onde trabalhava a mãe de Miguel, mas ela pagou a fiança determinada pelo delegado Ramón Teixeira no valor de R$ 20 mil e foi liberada. Uma petição nas internet pedindo justiça pela morte da criança já ultrapassou 400 mil assinaturas e o número segue crescendo.

*O nome da suspeita não foi divulgado pela Polícia Civil em cumprimento da Lei de Abuso de Autoridade nº 13.869/2019, que, entre outros pontos, proíbe a divulgação de imagens e nomes por parte dos policiais e servidores públicos membros dos Poderes Legislativo, Executivo, Judiciário e do Ministério Público. A pena é de até quatro anos de prisão, caso a autoridade descumpra a legislação.

Confira a íntegra da entrevista com a mãe de Miguel

TV Jornal: Mirtes, a gente sabe que é um momento difícil. Qual o sentimento hoje?

Mirtes: O sentimento que prevalece em mim é dor. Dor pela perda do meu filho, e só. Não sinto raiva, ódio, depois que vi os vídeos, não. Só sinto uma dor muito forte no peito. Meu coração está sangrando pela perda da minha vida. Do amor da minha vida.

TV Jornal: Como era Miguel?

Mirtes: Miguel era uma criança extrovertida, extremamente feliz. Como criança ele tinha tudo, eu dava educação, saúde, vestuário, o que fosse necessário para o meu filho, eu dava. Eu deixava faltar para mim, mas para ele não deixava faltar nada. E tinha planos para o futuro dele. Mas infelizmente os planos do futuro para o futuro do meu filho foram interrompidos.

TV Jornal: Mirtes, você sabia que o Miguel estava no elevador no momento desse incidente?

Mirtes: Não. Quando eu saí do apartamento, eu deixei ele dentro do apartamento. Antes de sair, disse para minha patroa que não iria levar as crianças para passear com a cadela porque eles aperrearam. Eu disse que, por não terem se comportado, eu não iria levar. E, se depois eles obedecessem, de tardezinha eu levaria.

A menina (a filha dos patrões) se conformou, mas meu filho não se conformou, ficou chorando. Ela disse que eu fosse, que ela ficaria com Miguel

TV Jornal: Quem era a menina?

Mirtes: A filha da minha patroa.

TV Jornal: Eles costumavam brincar juntos quando você estava trabalhando?

Mirtes: Sim, sim, eles tinham um bom convívio, brincavam bastante. Normal de criança, brincar, aperrear...

TV Jornal: Pelas imagens, dá para perceber que a patroa foi até o elevador; ela teria saído do apartamento e ido ao elevador. Você tinha ciência disso?

Mirtes: Tinha. Que ela foi atrás de Miguel. Ontem, quando eu vi o vídeo, entendi o motivo da revolta que houve no velório do meu filho. Antes disso, eu não tinha visto nada. Porque quando eu estava na delegacia e os vídeos chegaram, eu não quis ver porque não estava em condições de ver nada

TV Jornal: Diante das imagens que você viu, você tirou alguma conclusão?

Mirtes: A conclusão que eu tirei é que, infelizmente, faltou um pouco de paciência dela para tirar meu filho de dentro do elevador. Se ela tivesse tido um pouquinho de paciência, tivesse pegado ele pela mão, antes de ficar só falando, meu filho hoje estaria comigo.

TV Jornal: Você me falou que ele costumava passar alguns dias numa casa de praia em Tamandaré. Ele teria chegado essa semana. Ele passou na sua casa, inclusive, você até mostra aqui uma bicicleta que ele gostava muito de brincar.

Mirtes: Ele gostava muito, ele estava com saudade da bicicleta dele.

TV Jornal: Vocês chegaram na segunda e, antes de ir para o apartamento na terça, ele passou aqui para brincar um pouco.

Mirtes: Na segunda-feira quando ele passou aqui, o pneu tava murcho, a gente passou na casa da vizinha, ela encheu o pneu dele, e ele ficou durante a noite na rua brincando, com os amigos dele na rua.

TV Jornal: (À Marta, avó de Miguel): Seu filho-neto, seu único neto, que a senhora tinha como filho. O que a senhora está sentindo nesse momento, o que é que a família mais quer agora?

Marta: Eu estou sentindo muita dor. É dor. Meu coração esta sangrando. E tudo que eu quero é só justiça. Só justiça mesmo.

TV Jornal: Mirtes, em relação ao boletim de ocorrência, você está com ele? Foi entregue à você?

Mirtes: Não me entregaram o boletim de ocorrência. Eu assinei três vias e não me entregaram nada. Só me pediram para aguardar do lado de fora, que dois policiais iriam me trazer em casa. Foi o que fizeram, a mim não me entregaram nada.

TV Jornal: Agora é só esperar.

Mirtes: Agora é só esperar, pela Justiça de Deus e do homem.

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