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Grupos de família são o principal vetor de notícias falsas no WhatsApp

TV Jornal
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Publicado em 25/04/2018 às 17:26

-Foto: Pixabay

Você tem aquele grupo no WhatsApp com todos os integrantes da sua família? Se sim, então você já recebeu inúmeras correntes e Gifs de bom dias para animar a sua manhã. Mas também circula bastante entre esse grupos as notícias falsas. E de acordo com o resultado de uma pesquisa, isso não é exclusividade da sua mãe ou tio.

A pesquisa inédita feita pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), com respostas de 2.520 pessoas a um questionário online elaborado pelo grupo, chegou a conclusão que os grupos de famílias são os maiores transmissores das "fake news". Devido o WhatsApp ser um aplicativo de mensagens por celular extremamente disseminado no Brasil de mensagens privadas e não tem caráter público, é difícil rastrear as notícias falsas espalhadas e avaliar seu alcance, o que preocupa pesquisadores, especialmente considerando como isso poderá ocorrer nas eleições brasileiras em 2018.

A pesquisa

A metodologia se baseia em um estudo israelense que procurou a origem de boatos espalhados pelo WhatsApp após o sequestro de três jovens israelenses na Cisjordânia em 2014. O mesmo foi utilizado pelos Brasileiros, só que analisando os boatos sobre a morte da ex-vereadora Mariele Franco.

Após filtrar os dados e restringi-los aos boatos mais disseminados, segundo os resultados, os pesquisadores reuniram 1.145 respostas de pessoas que disseram ter recebido variações de textos dizendo que Marielle era ex-mulher do traficante Marcinho VP e que havia engravidado dele aos 16 anos, ou, em menor quantidade, uma foto que supostamente mostrava Marielle sentada no colo de Marcinho VP (não eram ela nem ele na imagem).

Segundo a pesquisa da USP, o boato dominante no caso de Marielle foram variações de um texto ligando a vereadora a Marcinho VP. Foi recebido por 916 pessoas que responderam ao questionário. Dessas pessoas, 51% responderam ter recebido o texto em grupos de família no WhatsApp; 32%, em grupos de amigos; 9% em grupos de colegas de trabalho e 9% em grupos ou mensagens diretas.

A imagem que mostraria Marielle no colo de Marcinho VP foi recebida por 229 pessoas que responderam ao questionário - 41% delas disseram ter recebido a foto em grupos de família.

Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) e autor do estudo ao lado do pesquisador Márcio Ribeiro, ressalta que, apesar dos dados, não se sabe a distribuição dos tipos de grupos no WhatsApp pela população. "Pode ser apenas que existam mais grupos de família do que grupos de amigos ou de colegas de trabalho e os boatos tenham circulado igualmente em todos eles, mas, como há mais grupos de famílias, nosso estudo tenha apenas captado essa distribuição dos grupos", explicou Ribeiro, em entrevista à BBC.

"Agora, caso, de fato, os boatos tenham circulado mais nos grupos de família do que nos outros grupos, temos um dado interessante. Pode ser que grupos de família sejam ambientes mais 'íntimos' que permitam compartilhar seguramente conteúdos mais especulativos sem que quem compartilhe seja alvo de julgamento."

Outros boatos disseminados, mas que não chegaram a ter representatividade, foram um vídeo que mostrava supostos assaltantes de bermuda e chinelo, ligando-os ao tráfico, e uma sequência de arquivos de áudio relatando que o crime havia sido obra do Comando Vermelho.

Essa foi outra descoberta do estudo: a forma mais disseminada dos boatos foi também a mais simples, ou seja, em texto, e não vídeo, fotos ou áudios. "Embora as formas que traziam supostas evidências, como vídeos ou fotos, pudessem parecer mais 'persuasivas', foi a forma menos amparada em evidências a que teve maior alcance", diz Ortellado.

"Isso está de acordo com os estudos sobre viés de confirmação, isto é, nossa pouca capacidade de receber criticamente informações que referendam ou confirmam nossas crenças. Menos importante do que dar evidências que amparam o boato é fazer com que ele esteja de acordo com as nossas crenças: no caso, o preconceito de que pessoas da favela tem vínculos com o tráfico", concluiu.