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PE: Número internações por acidente de trânsito sobe 725% em 10 anos

No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito

Conselho Federal de Medicina
Conselho Federal de Medicina
Publicado em 08/06/2019 às 11:04
Arquivo Agência Brasil
FOTO: Arquivo Agência Brasil

Pernambuco registrou um aumento no número de acidentes de trânsito. De acordo com o Conselho Federal de Medicina, o número de internações no Estado subiu 725% entre 2009 e 2018. O levantamento do CFM também indicou que, no mesmo período, Pernambuco gastou R$64.948.268,63 com internações de vítimas de acidente de trânsito. Já entre 2008 e 2016, o Estado contabilizou 16.897 mortos por acidentes de trânsito.

No Brasil, a cada 60 minutos, em média, pelo menos cinco pessoas morrem vítimas de acidente de trânsito. Os desastres nas ruas e estradas do País também já deixaram mais de 1,6 milhão de feridos nos últimos dez anos, ao custo direto de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Os números fazem parte de um levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)

Para o coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do CFM, José Fernando Vinagre, os números mostram que os acidentes de trânsito constituem um grave problema de saúde pública e que provoca sobrecarga nos serviços de assistência, em especial nos prontos-socorros e nas alas de internação dos hospitais. “É preciso reconhecer o importante aprimoramento da legislação ao longo dos anos e também o aumento na fiscalização, especialmente após a Lei Seca. No entanto, precisamos avançar nas estratégias para tornar o trânsito brasileiro mais seguro”, destacou.

Segundo a análise do CFM, a cada hora, em média, cerca de 20 pessoas dão entrada em um hospital da rede pública de saúde com ferimento grave decorrente de acidente de transporte terrestre. Ao avaliar o volume total de vítimas graves do tráfego nos últimos dez anos (1.636.878), é possível verificar que 60% desses casos envolveram vítimas com idade entre 15 e 39 anos, sendo menor a frequência nas faixas etárias que vão de zero a 14 anos (8,2%) e em maiores de 60 anos (8,4%). Outra constatação: quase 80% das vítimas eram do sexo masculino.M

Mais vítimas

Entre 2009 e 2018, houve um crescimento de 33% na quantidade de internações em todo o País. O pior cenário, proporcionalmente, foi identificado no estado de Tocantins, que saiu das 60 internações, em 2009, para 1.348, no ano passado (aumento de 2.147%). Na sequência aparece Pernambuco, onde o salto foi de 725% na última década. Apenas cinco estados registraram queda no número de internações por acidente de transporte: Maranhão (redução de 40%), Rio Grande do Sul (22%), Paraíba (20%), Distrito Federal (16%) e Rio de Janeiro (2%).

Confira abaixo a quantidade de internações por estado:

Capturar

Em números absolutos, 43% do volume total de internações registradas no SUS no período ficou concentrado em estados do Sudeste, região que reúne também metade da frota de veículos automotores do País. Outros 28% dos casos graves ficaram no Nordeste e o restante ficou diluído entre o Sul (12%), Centro-Oeste (9%) e Norte (7%).

Para a presidente da CFM, Carlos Vital, a solução para reduzir os acidentes depende de uma série de fatores de prevenção, reforço na fiscalização e sinalização, além de questões de infraestrutura e aprimoramento dos itens de segurança dos veículos. “Neste contexto, os médicos desempenham papel fundamental nas discussões sobre direção veicular segura. O impacto desses acidentes nos serviços de saúde é alto. Leitos são ocupados, hospitais e médicos se dividem no atendimento entre os acidentados e os que procuram assistência médica para patologias que não poderiam prevenir, diferentemente dos acidentes de trânsito, que podem ser reduzidos e prevenidos”, destacou.

Sobrecarga para o SUS

Se por um lado as tragédias no trânsito trazem dor e sofrimentos aos pacientes e seus familiares, por outros elas também estendem suas consequências para o bolso dos brasileiros. Na última década, as internações hospitalares decorrentes de acidentes de trânsito consumiram cerca de R$ 2,9 bilhões do SUS, em valores atualizados pela inflação do período.

Confira aqui as despesas com internações em Pernambuco de 2009 até 2018:

2009 - R$1.170.396,16

2010 - R$3.448.704,15

2011 - R$5.603.441,83

2012 - R$7.891.653,48

2013 - R$10.828.957,73

2014 - R$7.591.440,75

2015 - R$8.018.777,95

2016 - R$6.729.075,78

2017 - R$6.963.528,89

2018 - R$6.702.291,90

Total - R$64.948.268,63

Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS) Notas: ¹Valors atualizados pelo IPCA. ²V01-V09 Pedestre traumatizado acid transporte, V10-V19 Ciclista traumatizado acid transporte, V20-V29 Motociclista traumatizado acid transp, V30-V39 Ocup triciclo motor traum acid transp, V40-V49 Ocup automóvel traum acid transporte, V50-V59 Ocup caminhonete traum acid transporte, V60-V69 Ocup veíc transp pesado traum acid tran, V70-V79 Ocup ônibus traumatizado acid transport, V80-V89 Outros acid transporte terrestre

Confira aqui as despesas com internações por estado

Antonio Meira Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e membro da Câmara Técnica do CFM, lembra que os custos com os acidentes de trânsito vão além das hospitalizações. “Estamos falando de um custo médio de aproximadamente R$ 290 milhões ao ano, que obviamente foi investido para salvar vidas, o que é justificável. Se conseguíssemos diminuir o número de vítimas do trânsito, no entanto, teríamos um impacto muito grande também nas contas públicas. São recursos que poderiam ser direcionados para outras áreas prioritárias da assistência em saúde no País”, pontua.

Estimativas conservadoras, segundo ele, calculam em cerca de R$ 50 bilhões ao ano os gastos com os acidentes, incluindo atendimento médico-hospitalar, seguros de veículos, danos a infraestruturas, perda ou roubo de cargas, entre outras despesas. “É preciso lembrar que existem outros custos envolvidos neste contexto, como o do absenteísmo por doença (falta do trabalhar por atestado ou licença-saúde), com auxílios doença e tudo o mais que o País tenha investido no indivíduo que veio a óbito ou que ficou inválido em idade produtiva. Mais grave do que toda essa matemática, porém, são as sequelas físicas e emocionais – muitas vezes irreversíveis – que cada um destes acidentes deixa na vida das pessoas”.

Mortalidade em queda

Segundo o levantamento do CFM, que considerou ainda dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, só em 2016 (ano mais recente disponível), foram registrados 37.345 óbitos decorrentes de acidentes de transportes terrestres. Embora a quantidade seja a menor registrada no período analisado (2007 a 2016), o número de mortes tem avançado em alguns estados, sobretudo das regiões Nordeste e Norte do País.

Confira abaixo a quantidade de óbitos em Pernambuco de 2008 até 2016

2008 - 1.569

2009 - 1.762

2010 - 1.981

2011 - 2.014

2012 - 2.037

2013 - 1.867

2014 - 1.912

2015 - 1.886

2016 - 1.869

TOTAL - 16.897

Fonte: MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM
Óbitos por Causas Externas - Brasil
Óbitos p/Residênc por Unidade da Federação e Ano do Óbito
Categoria CID 10: V01-V89¹
¹V01-V09 Pedestre traumatizado acid transporte, V10-V19 Ciclista traumatizado acid transporte, V20-V29 Motociclista traumatizado acid transp, V30-V39
Ocup triciclo motor traum acid transp, V40-V49 Ocup automóvel traum acid transporte, V50-V59 Ocup caminhonete traum acid transporte, V60-V69 Ocup veíc
transp pesado traum acid tran, V70-V79 Ocup ônibus traumatizado acid transport, V80-V89 Outros acid transporte terrestre

Confira aqui a quantidade de óbitos por estado

Na região Norte, a mortalidade por acidentes subiu 30%. Da mesma forma, no Nordeste houve um crescimento de 28% dos casos. No Centro-Oeste também houve aumento do indicador (7%), enquanto nas regiões Sul e Sudeste apresentaram menor quantidade de óbitos em 2016, frente à 2007, com queda de 15% e 18%, respectivamente.

Embora os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná liderem o ranking nacional em números absolutos de mortes no trânsito durante os últimos dez anos, o Piauí foi a federação que apresentou o maior crescimento proporcional no período: 56%. Em 2007, 670 óbitos haviam sido registrados naquele estado, número que saltou para 1.047 dez anos depois. Na mesma proporção, de 56%, cresceram os registros vítimas fatais no Maranhão no período. Ao todo, 16 estados notificaram aumento desse tipo de agravo.

De outro lado, o estado mais populoso do País informou queda na quantidade de óbitos desta natureza. Em 2016 foram 5.740 mortes, 24% a menos que o indicado em 2007 (7.550). No quadro nacional, também figuraram com redução significativa de casos fatais no período os estados de Santa Catarina e Roraima, ambos com queda de 23%; Distrito Federal (22%); e Espírito Santo (20%).

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