NOVO CORONAVÍRUS

"Brasil terá janeiro mais triste de sua história", afirma pneumologista

Médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, concedeu entrevista a Rádio Jornal nesta quinta-feira (31)

Gustavo Henrique
Gustavo Henrique
Publicado em 31/12/2020 às 16:30 | Atualizado em 20/12/2022 às 17:24
Acervo pessoal
FOTO: Acervo pessoal

Em entrevista ao Passando a Limpo desta quinta-feira (31), último dia do ano, a médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, mostrou preocupação com as aglomerações que estão sendo registradas nas festas de fim de ano no Brasil.

Ela é enfática ao apontar para o início da segunda onda da pandemia da covid-19 em janeiro de 2021.

“O momento epidêmico que estamos vivendo é muito grave (...) Ainda conclamamos às pessoas para que repensem essas aglomerações", disse.

"Temos visto situações que nos entristecem muito pelo risco que elas geram. Nós não temos dúvidas de que a segunda onda deverá se materializar no Brasil no mês de janeiro, ao qual já me referi como o mais triste janeiro de nossas vidas”, alertou a especialista.

Espera pela vacina no Brasil

A pesquisadora da Fiocruz lamenta a demora para que o Brasil inicie a vacinação.

“O Brasil está numa situação paradoxal. O país foi um celeiro bom e produtivo para os estudos de fase 3 das vacinas e, neste momento, nos encontramos com um certo atraso em algumas providências e até na negociação para obtenção das vacinas", contou.

"No entanto, as que foram testadas no Brasil, sobretudo a CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac junto ao Instituto Butantan, e a vacina da Astrazeneca junto à Fiocruz, se encontram com estudos da fase 3 publicados e um iminente momento de pedido de registro no Brasil”, detalhou.

Segundo a médica, a vacina da Astrazeneca e Oxford com a Fiocruz está com o cronograma mantido.

“A Fiocruz vai entregar ao Ministério da Saúde o primeiro lote de vacinas no mês de fevereiro", disse.

"O momento em que vai começar a vacinação na hierarquia dos grupos previstos pelo Ministério da Saúde nós não podemos precisar, mas eu suponho que no final do verão nós possamos começar a vacinar as pessoas de acordo com as prioridades”, apontou.

Na avaliação da especialista, tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz conseguirão produzir uma quantidade suficiente de vacinas para o país.

“Pela capacidade de produção do Butantan e da Fiocruz, uma vez as duas vacinas registradas, não tenho dúvidas de que o Brasil será capaz de produzir vacina suficiente para cobrir um percentual suficiente para interromper a epidemia no país”, garantiu Margareth Dalcolmo.

A partir de que momento a vacina irá controlar a pandemia?

A pneumologista Margareth Dalcolmo explica em que momento será possível afirmar que a pandemia está controlada graças à vacinação.

“É preciso que haja uma proporção de pessoas vacinadas sobre o total. Nós conseguiremos interceptar a cadeia de transmissão da epidemia quando nós tivermos alcançado, não apenas os grupos de prioridade, mas o percentual de população equivalente a 50% ou 60% da população", falou.

"Não tenho dúvidas de que num país como o Brasil nós precisaremos vacinar aproximadamente 100 milhões de pessoas para que nós tenhamos alguma tranquilidade de que interceptamos a epidemia e controlamos o número de infecções”, detalhou.

Dalcolmo ainda comenta que a vacinação, além de interromper a transmissão, também ajudará a prevenir casos graves da covid-19 e os óbitos.

“Essas vacinas têm um impacto muito importante na prevenção da doença, sobretudo os casos graves e as mortes. Isso já é um efeito benéfico extremamente potente sobre essas ações. É preciso que a população entenda que vacinar é muito importante”, afirmou.

Todas as vacinas são boas

A pneumologista reforça que todas as vacinas são seguras e é preciso que a população confie nos pesquisadores.

“Todas as vacinas serão boas, seguras e eficazes. Foram testadas com todo rigor necessário, nenhuma etapa foi pulada nesse processo (...) Nunca o ser humano produziu tanto em tão pouco tempo em prol do bem comum e da humanidade. É preciso que a população confie no que estamos dizendo”, comentou Margareth Dalcolmo.

Segundo a especialista, o ideal é que as duas doses da imunização sejam feitas com a mesma vacina.

“O recomendado é que sejam tomadas as duas doses da mesma vacina para que tenhamos controle do que foi usado. O paciente vai receber no cartão de vacina a informação de que recebeu a dose X da vacina X e a segunda dose deve ser da mesma vacina", disse.

"Pode acontecer algum atraso com relação ao dia marcado [para tomar a dose]”, disse, acrescentando que a situação não exclui os estudos cruzando o uso de duas vacinas para atestar a eficácia.

Crítica aos movimentos antivacinas

O movimentos antivacinas têm usado o argumento de que pessoas imunizadas sofreram reações alérgicas. Sobre a situação, a especialista critica duramente essas manifestações.

“Eu considero os movimentos antivacinas marginais e criminosos. Não vacinar um idoso ou uma criança com qualquer vacina eu considero um ato absolutamente de violação de direitos humanos, considerando que as vacinas foram o grande modificador de nossas vidas no século 20.

O que impede uma criança, hoje, de morrer de uma doença simples com difteria ou sarampo são as vacinas. Não há dúvida nenhuma.

Para as viroses respiratórias, como a covid-19, a grande solução, igualmente, são as vacinas. Não estamos apostando em tratamentos ou em remédios porque sabemos que para uma virose aguda o melhor tratamento é a vacina”, afirmou.

“Reações alérgicas são facilmente controláveis (...) Não houve nenhum choque anafilático ou efeito adverso grave. Usar esses argumentos me parece obscurantista e fora de qualquer propósito”, completou Margareth Dalcolmo.

De acordo com a médica, os relatos de que pessoas imunizadas têm sido bastante otimistas.

“O que estamos recebendo de feedback de colegas e familiares que já se imunizaram em outros países, os efeitos colaterais são felicidade, alívio, grande contentamento nos núcleos familiares pelo fato das pessoas estarem sendo vacinadas”, contou.