CORONAVÍRUS

Pesquisadores encontram novas alterações em linhagens do vírus SARS-CoV-2

Fiocruz reforça importância de vigilância genômica do coronavírus

TV Jornal
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Publicado em 23/03/2021 às 17:30 | Atualizado em 24/10/2022 às 9:00
Tânia Rêgo/Agência Brasil
FOTO: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com informações da Agência Brasil

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e instituições parceiras detectaram novas variações genéticas em amostras do SARS-CoV-2 coletadas no Brasil.

Os cientistas fazem parte da Rede Genômica Fiocruz, que reúne diversos grupos de pesquisa do país na vigilância genômica do vírus.

Entre outros motivos, esse trabalho é importante para acompanhar as mutações do coronavírus, orientando as políticas públicas no combate à crise sanitária.

Segundo a Fiocruz, foram encontrados, em 11 sequenciamentos genéticos, alterações importantes na proteína spike (S), um dos principais alvos dos anticorpos produzidos pelo corpo humano para combater o vírus.

As 11 alterações encontradas ainda não são recorrentes o suficiente para caracterizar uma nova linhagem, de acordo com a Fiocruz.

Apesar disso, as amostras que apresentaram essas mudanças foram coletadas em sete estados brasileiros: Amazonas, Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia, Minas Gerais e Alagoas.

O coronavírus começou a circular no Brasil em 2020 com as linhagens B.1.1.28 e B.1.1.33. A partir delas, já foram caracterizadas mutações que deram origem às linhagens P.1, P.2 e, mais recentemente, N.9.

Apesar de diferentes geneticamente, as três variantes têm em comum a mutação conhecida como E484K, que já foi associada à evasão do sistema imune em pesquisas envolvendo outras variantes.

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As alterações encontradas nas 11 amostras citadas incluem indivíduos das linhagens P.1, P.2, B.1.1.28 e B.1.1.33.

As mudanças detectadas agora se deram tanto por perda de material genético como por inserção de aminoácidos na estrutura NTD que forma parte da proteína S, estrutura que o vírus usa para invadir as células humanas.

Possivelmente, tais mudanças também podem ajudar o vírus a escapar do sistema imunológico, o que ainda precisa ser comprovado por pesquisas complementares.

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Monitoramento genômico do coronavírus

A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, considera que a descoberta é precoce e reforça a importância das ações de vigilância genômica.

A virologista Paola Cristina Resende, que também integra o laboratório, concorda com o reforço da vigilância e avalia que o impacto da descoberta ainda precisa ser dimensionado:

"Vale ressaltar que as novas mutações foram, até o momento, detectadas em baixa frequência, apesar de encontradas em diferentes estados", diz Resende.

E conclui: "ainda precisamos dimensionar o impacto deste achado e, sem dúvidas, ampliar cada vez mais o monitoramento genômico".

Mutação convergente

Os cientistas observam que as alterações encontradas podem estar associadas a uma evolução convergente do vírus, já que as 11 amostras são de diferentes linhagens.

Além disso, as mutações se assemelham a descobertas feitas em outros países, como o Reino Unido e a África do Sul.

Na África do Sul, inclusive, a mutação da variante encontrada seguiu o mesmo percurso das variantes brasileiras, apresentando primeiro a mutação E484K, entre outras mudanças, como nas variantes P.1, P.2.

Posteriormente, acarretando ainda na perda de material genético no domínio NTD encontrada em parte das amostras observadas no estudo.

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O trabalho foi liderado por uma parceria entre os Laboratórios de Vírus Respiratório e do Sarampo e de Aids e Imunologia Molecular do IOC/Fiocruz e pelo Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz-Bahia).

A ainda participaram os institutos Leônidas e Maria Deane (Fiocruz-Amazônia) e Aggeu Magalhaes (Fiocruz-Pernambuco), e pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Também participaram a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas e Laboratórios Centrais de Saúde Pública do Amazonas, Maranhão, Alagoas, Minas Gerais, Paraná e Bahia.

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Linhagem N.9

A Fiocruz deu ainda mais detalhes sobre a caracterização da linhagem N.9, cuja origem estimada se deu em agosto de 2020.

O local mais provável em que a mutação teria ocorrido é São Paulo, mas os pesquisadores não descartam a possibilidade de a linhagem ter nascido na Bahia ou Maranhão.

A Rede Genômica encontrou essa variante do SARS-CoV-2 em 35 amostras coletadas em dez estados diferentes: São Paulo, Santa Catarina, Amazonas, Pará, Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Sergipe.