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CASO MIGUEL: Morte de Miguel expôs corrupção e condição do trabalho doméstico

Miguel Otávio, 05 anos, morreu após cair do 9º andar de um prédio de luxo no Centro do Recife, no dia 02 de junho de 2020

Marcelo Soares
Marcelo Soares
Publicado em 03/06/2021 às 10:21 | Atualizado em 28/11/2022 às 16:49
Reprodução/TV Jornal
FOTO: Reprodução/TV Jornal

“Eu vi realmente quem é Sari Corte Real. Uma mulher fria”.

O desabafo é de Mirtes Renata Santana de Souza, empregada doméstica e mãe de Miguel Otávio Santana da Silva, 05 anos, que morreu após cair do 9º andar de um prédio de luxo no Centro do Recife, no dia 02 de junho de 2020.

O garoto acompanhava a mãe no local de trabalho devido ao fechamento de creches e escolas e às restrições de circulação nas ruas por conta da pandemia do Covid-19.

Foi no dia 03 de junho de 2020, no dia do velório do filho, que Mirtes Renata foi apresentada à versão que ela nunca imaginou conhecer da ex-patroa.

A casa de Sari Corte Real foi o primeiro local de trabalho de Mirtes Renata como empregada doméstica. A mãe dela, Marta Santana, já trabalhava para a família e conseguiu o emprego para a filha.

Além do apartamento no Recife, as duas também trabalhavam como empregada doméstica na casa de praia de Sari Corte Real, em Tamandaré, Litoral Sul do Estado, onde o marido dela, Sérgio Hacker, era prefeito.

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Foram quatro anos trabalhando para o casal e mesmo tendo que ir para o serviço em meio a uma pandemia, e testando positivo para a Covid-19, o relacionamento com toda a família era o melhor possível.

Mas a queda de Miguel foi um divisor de águas. Apesar do bombardeio de informações, Mirtes Renata só soube no enterro do filho que Sari Corte Real havia deixado o garoto sozinho no elevador para continuar fazendo as unhas em casa, onde a manicure a aguardava.

Essa atitude da ex-patroa foi uma das coisas que mais incomodou a cantora e compositora Adriana Calcanhotto, que escreveu a música 02 de Junho como forma de homenagear Miguel.

“A ex-patroa da Mirtes perde tempo na hora de ajudar. Ele (Miguel) está com vida no chão, ela sobe para pegar a chave do carro e para para conversar. Ela está preocupada com ela, e não com ele”, pontua a artista.

A morte de Miguel revelou esquema de desvio de dinheiro público

A tragédia da morte de Miguel Otávio também revelou um desvio de dinheiro público. O salário que Mirtes Renata e a mãe, Marta Santana, recebiam saía dos cofres da prefeitura de Tamandaré desde 2017.

Os nomes das duas constavam como servidoras na folha de pagamento do município, mesmo que elas exercessem nenhuma função na administração pública. O salário era de R$ 1.315.

“A gente não questionou pelo fato de que a gente precisava trabalhar. E, segundo, por que a gente não via nada de errado nisso. Havia uma outra funcionária que recebia pela prefeitura”, explicou Mirtes.