Sonho realizado

Rebeca Andrade: A trajetória da ginasta que conquistou a prata histórica nas Olimpíadas de Tóquio ao som de 'baile de favela'

Rebeca Andrade entrou para a história da ginástica artística do Brasil e ainda pode ganhar mais medalhas

Karina Costa Albuquerque
Karina Costa Albuquerque
Publicado em 30/07/2021 às 9:32 | Atualizado em 29/04/2022 às 16:24
Reprodução/Twiter/Time Brasil
FOTO: Reprodução/Twiter/Time Brasil

A paulista Rebeca Andrade entrou para a história da ginástica artística do Brasil, aos 22 anos, ao se tornar a primeira medalhista Olímpica brasileira. Reveja a apresentação da atleta na final individual clicando aqui.

“Eu estou muito feliz. Feliz demais. Passei por muita coisa e coloquei essa Olimpíada como objetivo. Mas meu objetivo aqui era fazer o meu melhor, era brilhar da melhor maneira possível, e eu acho que eu brilhei. Consegui a nossa primeira medalha”, disse.

Na disputa pela medalha, Rebeca passou pelas quatro etapas da ginástica artística: salto, barras assimétricas, trave e solo.

Mas para subir ao pódio Rebeca teve que treinar muito e passar pela recuperação de cirurgias no joelho.

“Tenho três cirurgias. Eu tive várias oportunidades de desistir, mas eu não desisti e estou aqui com a minha medalha de prata. Tem como estar mais grato que isso? Não tem”, disse.

“O esporte muda vida. dá educação, dá inteligência, sabedoria, você cresce, vira um ser humano melhor”, ressaltou.

Na etapa do solo, a música escolhida por Rebeca foi o funk Baile de Favela. “Eu gosto de funk, adoro dançar. As batidas são demais”, contou.

Mas para inspiração ela busca a letra de outra canção, Sabor de Mel, e citou uma parte durante entrevista após a conquista da medalha:

"Você é o escolhido, a sua história não acaba aqui. Você pode estar chorando agora, mas amanhã você irá sorrir". 

Mais oportunidades

Rebeca Andrade ainda pode conquistar mais medalhas nas Olimpíadas de Tóquio. Nessa quinta-feira (29), ela levou a prata no individual. Rebeca somou, ao final dos quatro aparelhos, 57.298 pontos.

A ginasta brasileira foi atrás somente da norte-americana Sunisa Lee (57.433) e à frente de Angelina Melnikova, do Comitê Olímpico Russo (ROC, sigla em inglês) que totalizou 57.199.

A brasileira ainda tem chances reais de conquistar mais medalhas, nas disputas de salto e solo. A final do salto ocorrem no domingo (1º), às 5h, e o solo, na segunda-feira (2), também às 5h, no horário de Brasília. 

História de superação marca trajetória da ginasta

Rebeca Andrade começou a treinar aos quatro anos, no Ginásio Bonifácio Cardoso, da prefeitura de Guarulhos, em São Paulo. Lá, ela ficou conhecida como a "Daianinha de Guarulhos", uma referência à ídola, Daiane dos Santos.

"A Rebeca desde pequena sempre foi muito travessa, tudo que ela fazia era pulando, ela levava muito jeito para a coisa, mas eu não tinha muita noção de como funciona as coisas, onde tinha ginásio", contou a mãe da ginasta, Rosa Rodrigues, de 51 anos, ao G1.

Vida pessoal e família

Rebeca tem sete irmãos. A família teve dificuldades para manter o sonho da ginasta. "No começo, eu trabalhava como empregada doméstica, então estava tudo certo.

Mas teve uma época que as contas apertaram, e ela teve que parar de treinar, por falta de condições financeiras. Mas quando retornou, não parou mais.

Ia de ônibus e, quando não tinha dinheiro, ia a pé, mesmo com a distância do local do treino — cerca de 2 horas a pé", contou a mãe de Rebeca.

 

Com dificuldades financeiras, Rebeca chegou a parar de treinar por um período, mas os técnicos organizaram um esquema de rodízio para levar a menina aos treinos.

Depois, um dos irmãos de Rebeca, Emerson Rodrigues, que hoje está com 30 anos, comprou uma bicicleta para levar a irmã aos treinos.

"No começo, ele levava ela a pé, mas teve a ideia de comprar a bicicleta em uma fábrica de reciclagem. Ela tinha entre 6 e 7 anos, e ele, cerca de 15", lembra a mãe.

Nos dias de treino, o irmão de Rebeca realizava apenas uma refeição por dia.

"Ela almoçava no ginásio, por ser atleta, depois disso os dois iam para a escola, ele não conseguia chegar a tempo de comer no local, só a noite, depois que chegava em casa".

Após a vitória da filha nas Olimpíadas, dona Rosa declarou à TV Globo: "é prata com gosto de ouro".

DADOS DE REBECA ANDRADE:

  • PRATA NA INDIVIDUAL GERAL DA GINÁSTICA NAS OLIMPÍADAS DE TÓQUIO
  • 22 ANOS DE IDADE
  • 1,54 METROS DE ALTURA
  • TREINA NO FLAMENGO
  • PRATA NAS BARRAS ASSIMÉTRICAS NA COPA DO MUNDO DE GINÁSTICA
  • BRONZE NA TRAVE NA COPA DO MUNDO DE GINÁSTICA
  • 11º LUGAR NO INDIVIDUAL GERAL DA RIO 2016
  • 8º LUGAR NA COMPETIÇÃO POR EQUIPE DA RIO 2016.
  • JÁ SUPEROU TRÊS CIRURGIAS

Ginástica Artística

A ginástica artística está presente desde a primeira edição dos Jogos, em 1896, na Grécia. Mas a modalidade era reservada aos homens e, em 1928, na edição de Amsterdã, Holanda, as mulheres passaram a competir.

Atualmente, a modalidade conta com seis aparelhos nas competições para os homens: solo, cavalo com alças, argolas, salto, barras paralelas e barra fixa.

No feminino, são quatro: salto, barras assimétricas, trave e solo.

Os sete integrantes da seleção de ginástica artística classificados para Tóquio fazem parte do Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro.

Seis deles pertencem à categoria Pódio, a principal do programa.