Teatro

Teatros voltam aos poucos e seguem protocolo de segurança

O Governo anunciou a reabertura dos aparelhos culturais no estado, podendo receber 30% da capacidade total do local

Joao Luis Carvalho Paes
Joao Luis Carvalho Paes
Publicado em 29/08/2021 às 9:00 | Atualizado em 26/03/2022 às 18:30
Divulgação/Teatro Rio Mar
FOTO: Divulgação/Teatro Rio Mar

Ariel Sobral

O Recife é reconhecido como uma cidade artística em várias vertentes. Na música, na dança, na culinária, nas artes plásticas e até mesmo no cinema. Mas o teatro sempre esteve muito presente na história da capital pernambucana.

Conhecido inicialmente como “Casa da Ópera”, o primeiro teatro construído na cidade foi o “Teatro São Francisco”, em 1722, demolido no ano de 1850. Desde então, vários outros espaços teatrais são facilmente encontrados pela cidade até os dias de hoje.

Contudo, em 2020, assim como todo setor cultural do mundo, o teatro teve que interromper suas atividades para impedir a proliferação do novo coronavírus. O teatro, que é essencialmente o contato direto entre o público e o ator, foi uma das áreas artísticas mais prejudicadas do setor.

Agora, em 2021, com o avanço da vacinação contra o coronavírus no Recife, a cidade prossegue em mais uma etapa do plano de convivência, flexibilizando as regras na abertura de estabelecimentos e realizações de eventos.

No dia 21 de Junho, o Governo de Pernambuco anunciou a reabertura dos aparelhos culturais no estado, podendo receber 30% da capacidade total do local. Atualmente, os teatros podem receber 50% da capacidade máxima, o que vem alegrando ainda mais a classe.

Mas o presente não é exatamente o que inquieta diretores, dramaturgos e atores, é a reflexão sobre o futuro do teatro que gera bastante especulação de como será a nova cena que surge a partir da pandemia.

Teatro e pandemia

O ator, dramaturgo, músico, professor, e diretor da Companhia Fiandeiros de Teatro, André Filho, acredita que a pandemia do coronavírus só evidenciou ainda mais os problemas que a classe já vem enfrentando:

“Não acredito em muitas mudanças. A pandemia interrompeu toda uma cadeia de produção que já estava em crise. A pulverização dos recursos dos Sistemas de Incentivo à Cultura do Estado, ausência e falta de manutenção dos teatros, são apenas algumas discussões que foram interrompidas com a chegada da COVID 19, mas que não desapareceram do cenário."

"O maior exemplo disso é o plano municipal de cultural que foi encaminhado à Câmara Municipal do Recife em 2008 e que traçava diretrizes para o fomento da cultura até 2018, e que até hoje nenhuma de suas diretrizes foi regulamentada em lei. Vivemos num vácuo de discussões artísticas culturais. Com políticos que estão mais preocupados em licitar compras de celulares para si mesmos, censurar artistas e impor seus pontos de vista religiosos. É um retrocesso tremendo nunca visto antes", pontuou André Filho.

Para a atriz pernambucana, Mônica Vilarim, que desde 1994 vem participando de espetáculos infantis no projeto de formação de público para a rede escolar, o cenário é diferente.

Para ela, a retomada do estilo de teatro que faz será fundamental para a formação de um futuro melhor:

“A pandemia só veio reforçar o quanto o teatro é essencial para todos. Depois de tanto tempo confinados em uma vida virtual, o público está ávido por esse retorno.”

Mas afirmou que o início da pandemia foi um momento bastante difícil: “No início eu estava estreando a bela adormecida, teatro infantil, e de um hora pra outra tivemos que parar, e isso me deixou muito abalada e angustiada”.

Para Raíssa Moura, estudante de teatro da escola Construção do Ator, desde 2019, a pandemia mudou a maneira que o teatro será feito e visto:

“Apesar de estar ansiosa, acho que será desafiador para quem faz arte e quem vai ser espectador. Por que nada será como antes, ainda é tudo muito novo, não sabemos como vai ser a partir de agora.”

Teatro on line


Neste período de pandemia o teatro teve que se adaptar a novas formas de existir, e encontrou na tecnologia uma maneira de continuar exercendo sua função que é a de provocar.

Grupos como a Companhia Fiandeiros de Teatro e o Magiluth, assim como escolas de teatro do Recife, se adaptaram ao ambiente virtual em busca de manter viva a arte na cidade. Raíssa Moura, acredita que a pandemia veio para abrir as possibilidades do que é teatro e de como ele pode se manifestar:

“Não necessariamente quer dizer que aquele tipo de teatro presencial é o único que pode ser feito. Muitos grupos realizaram peças online e que tiveram magníficos materiais. Eu acho que agora não se restringe há 'já que voltou presencial, vamos só fazer presencial’, poder fazer online também aproxima as pessoas, pessoas de outros estados e países para consumir arte.”

André filho também enxerga as novas possibilidades oferecidas pela tecnologia como um grande agregador do teatro. Mas destaca que não há nada mais necessário para esse ofício que a presença física das pessoas:

“Durante a pandemia vi experiências maravilhosas de teatro híbrido, grupos que buscaram se reinventar nas suas linguagens, dramaturgos que misturam conceitos de audiovisual e teatro presencial, atores e atrizes se apresentando de suas casas, plataformas de exibição teatral sendo criadas no “cyber universe”, isto é maravilhoso. Companhia como Teatro Armazém (Rio de Janeiro), Grupo Trama (Minas Gerais), e pra citar exemplos locais o Grupo Magiluth, A Casa Maravilhas e a Companhia Fiandeiros de Teatro, entre outros. Todos buscaram se reorganizar neste novo cenário de criação. Mas a essência do teatro é e sempre será presencial. Por mais que busquemos dialogar com outras linguagens, nenhum verbo traduzirá melhor o fenômeno teatral do que “comungar” do mesmo espaço físico. Esta experiência ainda é e, creio, será sempre a verdadeira alma do teatro.”

Por mais que a volta dos teatros seja algo extremamente positivo tanto para quem trabalha diretamente com o setor, quanto para a sociedade civil, a pandemia de longe é o principal desafio dessa manifestação cultural na cidade.

A falta de investimento, a desvalorização e o distanciamento dos espaços culturais pela grande massa, são desafios que devem ser superados para a garantia da vida teatral do Recife.

“A sociedade brasileira tem vergonha de si mesma e o teatro é o responsável por colocar um espelho diante dessa realidade. Não acredito num “fenômeno de valorização do teatro”, mas acredito que o público estará sedento de abraço, de comunhão com o outro, de vontade de se ver em cena, ainda que inconscientemente."

Do ponto de vista econômico foi e está sendo um verdadeiro desastre, principalmente pelo atual momento político em que vivemos que se reflete na ausência de políticas públicas consistentes de amparo aos artistas.

As poucas iniciativas de repasse de verbas de apoio, como é o caso da Lei Aldir Blanc, esbarram num excesso de burocracia e exigências fiscais engessadas que não se alinham com a situação de emergência que vivemos.” afirmou, André Filho.