DESCASO

Estudo alerta para falta de manutenção nas pontes do Recife

AMANDA RAINHERI
AMANDA RAINHERI
Publicado em 22/03/2018 às 14:15

-Foto: Bobby Fabisak/ JC Imagem

Elas são cartões-postais da cidade e ajudam a contar a história do Recife. Apesar disso, as 28 pontes da capital pernambucana não escapam do descaso público. Buracos, infiltrações, ferros expostos, passeios e guarda-corpos danificados são comuns à maioria das construções. Os problemas, que não são novidade para os recifenses, viraram assunto de sala de aula quando dois estudantes de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) adotaram quatro pontes como objeto de estudo para o Trabalho de Conclusão de Curso. A pesquisa, realizada entre o fim de 2017 e o início deste ano, mostrou que as diferentes falhas, na verdade, têm a mesma origem: a falta de manutenção.

As pontes analisadas foram as da Torre, na Zona Norte da capital; Motocolombó, em Afogados, Zona Oeste; Estácio Coimbra, no Derby, e Princesa Isabel, ambas localizadas no Centro do Recife. Pelas imediações das estruturas estudadas circulam mais de 120 mil veículos diariamente, de acordo com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU). “Escolhemos estudar essas obras de arte justamente pela importância que elas têm para a vida dos recifenses, que fazem uso das edificações diariamente”, justificou a agora engenheira civil Bruna Veiga.

Na Motocolombó, o cenário é de completo abandono. As estruturas da ponte estão expostas, os encanamentos enferrujados e é possível ver rachaduras, buracos e manchas de infiltração. Nem o passeio escapa: está esburacado em vários trechos. “Aqui nunca teve manutenção. Vivo aqui há anos e nunca vi”, confessa o aposentado Emanuel Arruda, morador do entorno.

Na ponte do Derby, os problemas são semelhantes. Na parte de baixo, a estrutura metálica, além de exposta, está rompida pela ação da água. Os guarda-corpos parecem ter sido pintados recentemente, por cima das várias rachaduras.

A Princesa Isabel, mesmo localizada ao lado do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo Estadual, também reflete descaso público. A construção está repleta de manchas brancas, chamadas lixiviações. O problema é causado pela infiltração de água.

Foram cerca de seis meses de trabalho. As visitas às estruturas aconteceram com o auxílio um barco e estão documentadas em fotos. “Utilizamos esse meio de transporte porque, às vezes, a parte de cima da ponte passou por alguma intervenção, mas os problemas estruturais continuam na parte de baixo”, esclarece Bruna.

A má conservação das construções, que fazem parte da paisagem recifense há pelo menos quatro décadas, preocupou os estudantes. “A parte estrutural está desgastada, demandando ações corretivas e precisando de manutenção para o futuro. A gente está falando de obras de engenharia de uso geral dos pernambucanos, que precisam de atenção. Uma obra não avisa quando vai cair”, destacou o estudante e um dos autores do trabalho, João Pedro Fortunato.

Durante a pesquisa, uma das maiores dificuldades foi encontrar dados sobre as intervenções nas pontes. “Percebemos que falta o governo ter um sistema de gestão destas pontes, que possibilite inspeções rotineiras, de forma que as intervenções não sejam corretivas, depois que o problema apareceu, mas preventivas, antes que surjam. Assim, se diminui muito os custos que a gente tem com manutenção”, argumenta a engenheira.

Para o professor que orientou os alunos, Tibério Andrade, a ponte em pior estado é a da Torre. “Ela tem em torno de 40 anos e, muito provavelmente, nunca passou por uma intervenção. Se observa nos pilares um processo de corrosão nas estacas. Já deveria ter sido feita uma manutenção corretiva.”

Resposta

A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) está ciente dos problemas. No entanto, não há previsão para a execução dos reparos. “Na última perícia, foi identificada a necessidade de manutenção. Os projetos foram desenvolvidos, tanto da ponte Princesa Isabel quanto da Motocolombó. Diante do montante do valor, que ultrapassa os R$ 25 milhões, foi encaminhado um pleito para captação de recursos do governo federal”, informou a diretora do órgão, Fernandha Batista. As pontes da Torre e do Derby, estão em fase de conclusão de projeto e orçamento.

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