ENTREVISTA

Caso Miguel: "O delegado ainda não conhece a versão dela", diz advogado de patroa

Sarí Corte Real, patroa da mãe de Miguel e esposa do Prefeito de Tamandaré, foi filmada no elevador com a criança de 5 anos momentos antes do acidente

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 08/06/2020 às 12:45
Cortesia
FOTO: Cortesia

Autuada por homicídio culposo pela morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, Sarí Corte Real ainda não prestou depoimento e, por isso, não fala com a imprensa, de acordo com o advogado de defesa, Pedro Avelino. Sarí é patroa da emprega doméstica Mirtes Renata Santana da Silva, mãe de Miguel, e esposa do prefeito do município de Tamandaré, Sérgio Hacker. Ela foi filmada deixando o menino sozinho no elevador momentos antes dele cair do nono andar do prédio onde ela mora, em um condomínio de luxo no Recife.

"A investigação, que segue sob sigilo, conta com várias outras imagens que tem uma narrativa diferente do que muitas vezes é veiculado na imprensa. Então, a gente precisa aguardar a finalização das investigações para a gente tomar qualquer tipo de conclusão. O delegado que ainda não conhece a versão dela, deve ser o primeiro a ouvir. Então, é por isso que, nesse primeiro momento, ela não fala com a imprensa", revelou Avelino em entrevista para a TV Jornal.

Sobre a relação de Sarí com a família de Mirtes, o advogado garante que era em bons termos. "Ela tinha uma relação muito boa com dona Mirtes, com Marta e especialmente com Miguel que brincava com seus filhos. Então, ela está muito triste com toda essa tragédia, porque nunca passou por sua cabeça o que aconteceria", afirmou o advogado.

>>"Estou precisando parar, respirar. Estou cansada" diz mãe de Miguel, menino que caiu de prédio no Recife

Carta para mãe de Miguel

Em uma carta, Sarí Corte Real se pronunciou pela primeira vez e pediu perdão para Mirtes Renata, mãe de Miguel, além de afirmar que está ''sendo condenada pela opinião pública'' e que ''a Justiça esclarecerá a verdade''. Clique aqui e leia a carta na íntegra. Antes da divulgação da carta, Mirtes contou em entrevista à TV Jornal que a patroa pediu perdão quando quando se encontram em depoimento. ''Ela pediu perdão, disse que me amava muito e minha mãe e que não tinha culpa (morte de Miguel). Foi sem querer'', revelou.

''Faltou paciência'', diz mãe de Miguel

A mãe de Miguel também contou que não sente raiva e nem ódio de ninguém pelo ocorrido, mas acredita que ''faltou paciência'' para Sarí Corte Real para tirar o menino de dentro do elevador. "Infelizmente, faltou um pouco de paciência dela para tirar o meu filho de dentro do elevador. Se ela tivesse um pouquinho mais de paciência, se ela tivesse pego ele pela mão, ao invés de ficar só falando, pegasse ele pela mão e tirasse [ele do elevador], meu filho tava hoje comigo", desabafou.

Funcionária da Prefeitura de Tamandaré

A empregada doméstica Mirtes Renata Santana de Souza, que é mãe de Miguel, consta como funcionária da Prefeitura Municipal de Tamandaré, segundo informações apuradas pelo Jornal do Commercio. A informação sobre a mãe da criança está registrada no cadastro da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), órgão ligado ao Ministério da Economia.

Investigação

Imagens do circuito interno de vigilância, divulgadas pela Polícia Civil de Pernambuco na quarta-feira (3), mostram que a patroa deixou a criança entrar sozinha no elevador para procurar a mãe e o enviou para um andar acima do que estavam. Perdido, o pequeno Miguel teria entrado se apoiado nos condensadores de ar e caído de uma altura de 35 metros.

Ao voltar para o prédio, a empregada se deparou com o filho caído. Miguel ainda foi socorrido para o Hospital da Restauração, no Recife, mas não resistiu.

O caso vem gerado repercussão e comoção nacional. Mais de 2,5 milhões de pessoas já haviam assinado a petição que cobra por justiça pela vida do menino, esse domingo. O abaixo-assinado, criado na quarta, faz um apelo à Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) e ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

A conclusão do inquérito policial deverá ser encaminhada ao MPPE nos próximos dias. Sarí foi autuada por homicídio culposo, - crime cuja pena pode chegar a até 3 anos de detenção -, porque, segundo o delegado Ramon Teixeira, a suspeita foi negligente por deixar Miguel usar um elevador sozinho, mas não teve a intenção de matá-lo. Mesmo assim, o caso pode ter um rumo diferente ao chegar no Ministério Público.

Caso o promotor decida denunciar por homicídio doloso, Sarí Côrte Real poderá ser levada à júri popular. Neste caso, a pena pode chegar a 20 anos de prisão.

Relembre o caso

Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morreu na tarde da última terça-feira (2) ao cair do nono andar do Condomínio Píer Maurício de Nassau, também conhecido como Torres Gêmeas, no bairro de Santo Antônio, área central do Recife. Ele era filho de Mirtes Renata Santana de Souza, empregada doméstica na casa do prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker.

O fato aconteceu quando Mirtes saiu passear o cachorro da família e Sarí Côrte Real, esposa de Hacker, se responsabilizou por olhar o garoto. Sarí Côrte Real foi detida em flagrante e autuada por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), e liberada após pagamento de fiança de R$ 20 mil.

+VÍDEOS