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Em 103 dias, coronavírus chegou a quase todos municípios pernambucanos, aponta estudo

Uma pesquisa realizada pela Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ) apontou que apenas um município está livre o coronavírus em Pernambuco

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 23/06/2020 às 12:15
Filipe Jordão/JC Imagem
FOTO: Filipe Jordão/JC Imagem

Das 185 cidades pernambucanas, apenas uma não tem registros do novo coronavírus. De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), o município de Manari, localizada no Sertão do Estado com mais de 21 mil habitantes, está livre da pandemia do Covid-19. A constatação de que a cidade sertaneja está livre, até agora, foi de pesquisadores do Centro Integrado de Estudos Georeferenciados para pesquisa social da Fundaj.

SES discorda

Mas, a Secretária de Saúde de Pernambuco discorda e confirma que o único município sem a doença é Mirandiba, também no Sertão. De acordo com os pesquisadores, que realizaram o levantamento junto às secretarias de saúde das cidades, Mirandiba já tem caso de morte suspeita do coronavírus. Enquanto que Marani não tem.

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Mapeamento da Fundaj

O site da Fundaj conta com um mapa da doença atualizado. A última atualização dele mostra como a pandemia se disseminou em quase todos os 185 municípios pernambucanos em pouco mais de 3 meses. De acordo com a Fundaj, o mapeamento de casos começou a ser feito no dia 17 de maio, com atualização constante desde então.

Naquela data o mapa apontava 16 casos. O número subiu para 82 no dia 31 de março, pulou para 6.860 em 30 de abril e subiu novamente para 34.401 no dia 31 de maio. Assim, atingiu 52.025 casos confirmados e 4.234 óbitos, nesta segunda-feira (22). Números divergentes aos divulgados pela SES-PE nesta segunda, quando o órgão informou que Pernambuco totaliza 52.494 casos e 4.252 mortes.

Últimos municípios a serem contaminados

Os últimos municípios a serem contaminados pelo coronavírus em Pernambuco foram: Belém de Maria, Calçado, Dormentes, Granito, Iati, Moreilândia, Santa Cruz da Baixa Verde, Santa Filomena, Santa Maria da Boa Vista e Solidão e Mirandiba. Essas cidades possuem populações que variam de 6.007 habitantes (Solidão) até 41.931 habitantes (Santa Maria da Boa Vista). Se comparados aos demais municípios do estado, todos eles estão em alta vulnerabilidade social. Isso em relação aos indicadores de renda, acesso a água e esgoto, e a inadequação de coleta de lixo domiciliar.

Análise espaço-temporal da pandemia

Analisando o mapeamento temporal do avanço no estado, os pesquisadores concluíram que a pandemia apresentou, até o momento, quatro fases distintas. A primeira delas foi no início da pandemia no estado e se caracterizou por uma difusão do novo coronavírus de forma mais lenta e gradual, localizando-se, principalmente, nos bairros de classes média e alta da capital, “os chamados ‘casos importados’, devido ao fato de que inicialmente foram confirmados casos em passageiros vindos do exterior, especialmente da Itália”, pontuou Neison

A segunda fase, ocorrida entre meados de março e início de abril, caracterizou-se por uma maior velocidade de difusão do vírus, marcado pelos casos agora chamados de “transmissão comunitária”. Nesse momento, a pandemia atingiu toda a Região Metropolitana do Recife (RMR). A partir da segunda quinzena de abril a pandemia conquistou o agreste do estado e as matas norte e sul, tomando os eixos rodoviários como vetores de transmissão (especialmente as BR-232 e BR-101), caracterizando-se como a terceira fase da pandemia em Pernambuco.

A quarta e última fase observada até o momento se refere ao avanço da pandemia em direção às pequenas e médias cidades do semiárido pernambucano. Nesse aspecto, a Nota Técnica, publicada pelo Cieg no dia 26 de maio, mapeou e analisou as 20 últimas cidades ainda não contaminadas naquela data, a maioria localizada no sertão. Essas cidades se caracterizavam pelo isolamento geográfico, baixa densidade populacional e adoção de medidas preventivas, tais como: a instalação de barreiras sanitárias nas entradas das cidades e os decretos de isolamento social e fechamento de comércio não essencial e escolas. De fato, estas foram as cidades mais resistentes à pandemia no estado.

Os tempos de disseminação das pandemias

Se a última pandemia antes da Covid-19 (a gripe espanhola) levou pouco mais de um ano para se espalhar por todo o planeta, em Pernambuco, por exemplo, foram necessários apenas 3 meses para o coronavírus atingir todo o estado, numa primeira onda. Isso aconteceu apesar de todas as ações dos governos, tanto estaduais como municipais, para retardar essa difusão.

“Acredita-se que sem essas intervenções, certamente esse tempo teria sido mais curto. Por outro lado, caso as medidas tivessem sido mais rigorosas e a adesão maior, certamente esse tempo de difusão ainda estaria se alongando no estado. Para entender como isso ocorreu de forma tão rápida, torna-se necessário compreender as características gerais de como as pessoas e grupos sociais se relacionam entre si e, também, entre outras cidades e países”, afirmou ainda Neison.

Convém alertar que ainda permanece desconhecido, na pandemia da Covid-19, qual será o seu ápice de casos e óbitos. Bem como, qual a probabilidade de ocorrerem novas e sucessivas ondas de contágio no território e, consequentemente, quais seriam suas intensidades em termos de coeficientes de contágio e letalidade. Portanto, prevenir ainda é necessário e possível.

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