Investigação

Após mortes de mulheres ao dar à luz, Cremepe fiscaliza maternidade em Timbaúba

Em um intervalo de três dias, duas mulheres morreram, após dar à luz na recém-inaugurada maternidade Dr. Tito Ferraz, em Timbaúba, na Zona da Mata de Pernambuco.

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 03/05/2021 às 12:30
Ilustrativa/Pixabay
FOTO: Ilustrativa/Pixabay

A repercussão do caso de duas mulheres que morreram após dar à luz na Maternidade Doutor Tito Ferraz, que fica localizada no Hospital Memorial Doutor João Ferreira Lima, em Timbaúba, na Zona da Mata de Pernambuco, continua. As famílias das vítimas dizem que os partos foram realizados pelo mesmo médico, e que teria havido negligência médica.

O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE) disse à equipe da TV Jornal que, na manhã desta segunda-feira (3), realizou uma fiscalização na unidade de saúde. A Polícia Civil de Pernambuco, junto com o Cremepe, investiga o caso.

Caso Amanda Lorraine

O primeiro caso ocorreu na quarta-feira (28). A vendedora Amanda Lorraine Gonçalves de Lima, de 23 anos, foi submetida a um parto cesáreo e veio a óbito, após o nascimento da sua segunda filha. A criança nasceu normalmente, porém, após o parto, Amanda teve complicações no quadro de saúde.

O esposo de Amanda, Joanderson Gomes, se lembra da última conversa que teve com a mulher. Ele acredita que houve falha no procedimento cirúrgico. “Ela estava super feliz e ansiosa, mas, infelizmente, aconteceu isso. Quem estava acompanhando ela era a minha sogra, porque eu não podia ficar, mas, desde as 15h, ela estava sentindo dor e ninguém fazia nada. A primeira pessoa a saber fui eu. Foi chocante para mim. Eu fiquei arrasado. Ela disse que me amava e que estava muito feliz com o nascimento da filha da gente. Minha esposa ficou das 15h até a meia-noite sofrendo, e ninguém fez nada. A gente quer justiça para que não aconteça com mais famílias. Infelizmente, aconteceu com outra”, desabafou Joanderson, se referindo ao caso de Amanda Ramos de Melo.

Segundo Joanderson, a esposa não tinha problemas de saúde, e havia realizado todos os exames do pré-natal. Apesar das complicações ocorridas no parto, que levaram Amanda Lorraine a óbito, a recém-nascida, chamada de Julia, passa bem.

Caso Amanda Ramos

Amanda Ramos de Melo, 34 anos, teve o parto realizado na tarde da última sexta-feira (30). Depois de complicações, foi transferida para a UPA da cidade e, em seguida, para o Hospital Ermírio Coutinho, em Nazaré da Mata, também na Zona da Mata de Pernambuco.

Segundo o advogado de Amanda Ramos de Melo, Gilderson Correia, a mulher pariu por volta das 16h30 de sexta-feira. A família dela relatou a ele que, após o parto Amanda começou a sentir fortes dores e cólicas. "Como não havia médico na maternidade, ela foi transferida para a UPA de Timbaúba, e de lá para Nazaré da Mata, onde teve uma parada cardíaca. Faleceu às 23h40", explicou Gilderson.

O bebê de Amanda, um menino chamado Lucas Miguel, está bem. Ele é o segundo filho dela, que já tinha outro garoto, com 8 anos de idade. "A informação é que ela teve uma hemorragia e que o útero dela foi retirado pelo médico, após o parto. Na maternidade não há UTI neonatal, nem de adulto", contou o advogado. Amanda chegou a pegar o bebê no colo e amamentá-lo. Seu corpo foi sepultado na tarde do sábado, em Carpina, também na Zona da Mata, onde ela residia com a família.

De acordo com a prima da vítima, Rayane Prazeres, o útero de Amanda foi retirado, durante o parto, sem que a gestante e a família fossem informadas. “A data foi predefinida pelo médico. Ela passou pelo pré-natal normalmente, fez todos os exames regulares, tomou todos os medicamentos necessários para que fosse uma gravidez tranquila (...) Não houve o consentimento da família. O esposo dela, Marcelo, estava na sala assistindo ao parto e ele [o médico] só fez comunicar a retirada do útero. Disse que ia retirar e acabou. Isso foi o divisor de águas para toda a situação tomar essa dimensão”, garante Rayane. “Iremos até o fim buscar por justiça para que outras famílias não sofram a dor da perda, como nós estamos”, desabafou.

Famílias pedem justiça

Em um intervalo de três dias, duas mulheres morreram após dar à luz, na recém-inaugurada Maternidade Dr. Tito Ferraz, que fica no Hospital Memorial Doutor João Ferreira Lima, em Timbaúba, na Zona da Mata de Pernambuco. Os partos foram realizados pelo mesmo médico, que não teve o nome revelado, e as famílias acreditam que houve negligência. Agora, os familiares das vítimas querem justiça.

Defesa das famílias

O advogado Gilderson Correia está representando as famílias das duas vítimas. “Já fizemos o requerimento junto ao Ministério Público para apuração do acontecido para possível responsabilização. Pedimos a suspensão total do serviço da maternidade, bem como a suspensão do exercício profissional do médico responsável", disse. Segundo o advogado, o parto de Amanda Lorraine, de 23 anos, foi realizado no hospital, pelo SUS. Já o de Amanda Ramos foi pago pela mulher. A unidade de saúde é uma instituição filantrópica, e atende de forma privada e pública. O advogado espera a conclusão do inquérito policial para ter provas mais fundamentadas dos casos.

Resposta da maternidade

Confira a resposta da maternidade, na íntegra:

O Hospital Memorial João Ferreira Lima lamenta este fatídico acontecimento se solidarizando com as famílias das parturientes e coloca-se à disposição para dirimir eventuais dúvidas e questões acerca do triste ocorrido. A comissão de óbitos da instituição aguardará o laudo técnico do IML para seu pronunciamento oficial, considerando que este é o protocolo padrão. O hospital tem mais de 60 anos de atuação na cidade de Timbaúba, cuja primordial finalidade sempre foi de contribuir com a melhoria na saúde dos timbaubenses, e lamenta profundamente os fatos ocorridos na última semana. Acrescentamos ainda que os fatos estão sendo devidamente apurados pelas equipes competentes.

Resposta da Prefeitura de Timbaúba

Diante dos dois casos, a Prefeitura de Timbaúba decidiu suspender o convênio que permite atendimentos públicos na unidade de saúde. Por meio de nota, a gestão municipal informou que "devido à evidente falha no cumprimento no plano operacional acordado com o Instituto Memorial João Ferreira Lima, suspendemos todos os atendimentos públicos de maternidade e cirurgia por tempo indeterminado, até que o hospital prove, de forma legal, o cumprimento correto e integral do plano operacional". A unidade, de caráter filantrópico, continua aberta para receber pacientes particulares.

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