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'Ela sabia das regras de conduta e do ritual propagado', diz Igreja Universal após justiça mandar devolver dinheiro a fiel

Durante a defesa, a igreja afirmou ser 'mentira' da fiel e que a religiosa sabia das regras do templo

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 08/04/2022 às 9:27 | Atualizado em 08/04/2022 às 9:30
Notícia
Marcelo Aprígio
Fiel relatou que, entre dezembro de 2017 e junho de 2018, fez as maiores doações, repassando R$ 204.500 à igreja - FOTO: Marcelo Aprígio

Na defesa apresentada à Justiça de São Paulo, a Igreja Universal do Reino de Deus, que foi condenada pelo juiz Carlos Bottcher e terá que devolver cerca de R$ 200 mil doados por uma fiel, que afirmou ter sido coagida a fazer a contribuição para garantir um lugar no céu, relatou que 'era mentira' que 'coagiu' a cristã.

"A autora [do processo] é maior [de idade] e, portanto, absolutamente capaz de entender e refletir sobre a consequência dos atos praticados, não podendo agora alegar ter sido vítima de coação psicológica, decorrente do discurso litúrgico dos pastores", disse.

A Universal também destacou que a fiel frequentou a igreja por 18 anos, "sendo profunda conhecedora dos preceitos litúrgicos pregados" pela instituição, e que sempre teve liberdade para escolher outra igreja que melhor lhe atendesse. "Ela sabia das regras de conduta e do ritual propagado".

O caso

Segundo informações do UOL, a cristã, que é professora e não teve o nome revelado, contou à justiça que procurou a igreja no ano de 1999, pois estava enfrentando muitos problemas pessoais e precisava de orientação.

Ela também disse que, ao longo dos anos, participou rigorosamente de todas as práticas religiosas, fez as ofertas solicitadas e os sacrifícios financeiros por acreditar que, só assim, seria abençoada por Deus.

A fiel disse, segundo informações do UOL, que, entre dezembro de 2017 e junho de 2018, fez as maiores doações, repassando R$ 204.500 à igreja. A professora, que declarou receber atualmente um salário líquido de R$ 1.500 por mês, afirmou que os valores entregues eram suas economias de 30 anos de trabalho.

Recompensa divina

A mulher disse no processo que os líderes religiosos vinculavam a recompensa divina à entrega do dinheiro e que sempre conviveu com um sentimento de culpa de que estava em falta com a igreja.

A igreja destacou também que a professora frequentou a igreja por 18 anos, "sendo profunda conhecedora dos preceitos litúrgicos pregados" pela instituição, e que sempre teve liberdade para escolher outra igreja que melhor lhe atendesse. "Ela sabia das regras de conduta e do ritual propagado".

Dízimo bíblico

Na ocasião, a igreja também afirmou que o dízimo bíblico, "necessário para o sustento do trabalho religioso", é uma prática que "remonta milênios" e que "não configura violação à lei ou aos costumes". Declarou ainda que a professora se arrependeu de ter feito as doações, mas que isso não é permitido pelos contratos de doação realizada para pessoas jurídicas.

Condenação

O juiz Carlos Bottcher afirmou na sentença que a professora foi, sim, vítima de coação, "considerando as pressões psicológicas empreendidas pelos membros da organização religiosa para realização das ofertas".

O juiz condenou a igreja a devolver os R$ 204,5 mil, valor que deverá ser acrescido de correção monetária e juros desde as datas em que as doações foram realizadas. A Igreja Universal recorrerá da decisão.

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