FÉ E POLÍTICA

Lula e Bolsonaro juntos? Bancada Evangélica 'une' adversários e alcança 80% dos partidos

Os dados são do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB)

Marcelo Aprígio
Marcelo Aprígio
Publicado em 23/05/2022 às 10:15
Notícia
TOMAS CUESTA/AFP E ISAC NÓBREGA/PR
Partidos de Lula e Bolsonaro integram Bancada Evangélica - FOTO: TOMAS CUESTA/AFP E ISAC NÓBREGA/PR

Dados do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB) apontam que cerca de 18 dos 23 partidos representados na Câmara dos Deputados conta com ao menos um parlamentar membro da Bancada Evangélica.

O número representa 80% das legendas com assento na Casa, incluindo agremiações antagônicas como PL e PT, 'unindo' adversários como Lula e Bolsonaro por meio de seus partidos.

Apesar da capilaridade, a pauta de costumesprincipal mote do grupo — não avançou na Câmara ao longo da atual legislatura, considerando o total absoluto de projetos. 

O estudo aponta que apenas 62 dos 4.879 projetos propostos na pauta de costumes na Casa foram efetivamente aprovados, dos quais só quatro deles são de autoria da Frente Parlamentar Evangélica.

RICARDO STUCKERT/CAROLINA ANTUNES/MONTAGEM
Partidos de Lula e Bolsonaro integram Bancada Evangélica - RICARDO STUCKERT/CAROLINA ANTUNES/MONTAGEM

Segundo a pesquisa, os deputados da frente votam mais alinhados às propostas do governo Jair Bolsonaro (PL) do que o conjunto de parlamentares. A adesão às pautas governamentais é de 77% contra 66% do total da Câmara.

Debora Gershon, do Observatório do Legislativo Brasileiro, afirma que ainda falta uma pauta específica a ser definida pelos membros da frente, além da construção de uma agenda coletiva para reunir os parlamentares.

"O eleitor evangélico que busca na frente alavancagem dos projetos de seu interesse não encontra nela um espaço capaz de brigar por essa movimentação", pontua a pesquisadora.

O estudo aponta ainda que o grupo sofre com grau baixo de institucionalização em comparação a outras frentes parlamentares, como a da agropecuária.

BANCADA EVANGÉLICA

Criada em 2003 e oficializada em 2015, a frente representa quase 30% da população e 24% do eleitorado. Sua composição é dividida entre parlamentares evangélicos (46%) e católicos (43%).

A adesão maior dos deputados da frente às pautas governamentais pode ser explicada nos três maiores partidos que a integram.

PL, Republicanos e Progressistas somam 45% dos seus membros e representam o núcleo mais estruturado e coeso do Centrão, grupo que apoia o presidente Bolsonaro no Congresso.

A presidência da Frente, ocupada atualmente pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), esteve em uma disputa interna entre lideranças da Assembleia de Deus.

No fim de 2020, houve um acordo para que Sóstenes e Cezinha de Madureira (PSD-SP) se revezassem no cargo entre 2021 e 2022.

"A frente não é de representação dos evangélicos. É de deputados e senadores. Somos de denominações e de partidos diferentes", afirmou a deputada Benedita da Silva (PT-RJ).

"São evangélicos, estão defendendo interesses dos seus partidos e não sei onde pode prosperar. Podemos ter mais evangélicos na Câmara, mas lá somos políticos. Faço parte da frente, mas sou da bancada do PT."

Com informações do Estadão Conteúdo.

Comentários