POLÊMICA

Presbítero de igreja evangélica famosa é afastado do cargo após ser acusado de criticar Bolsonaro

Religioso também foi afastado por questões esquerdistas

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 29/07/2022 às 10:47 | Atualizado em 29/07/2022 às 10:50
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Reprodução / Facebook
Presbítero foi afastado do cargo - FOTO: Reprodução / Facebook

O presbítero e teólogo Flávio Macedo Pinheiro, da Igreja Presbiteriana de São Paulo, foi afastado do cargo.

Segundo informações do Estadão, o recado do afastamento do religioso foi dado através do reverendo Ageu Magalhães, um dos líderes da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).

“Ou você muda teu pensamento, abandonando as posições esquerdistas e todo o conteúdo marxista cultural que vem com elas, ou você deve, diante de Deus, renunciar ao presbitério. Esta relação está altamente incompatível", disse o reverendo.

O aviso foi enviado ao presbítero no dia 12 de dezembro de 2019. Um ano e dois meses depois, Pinheiro foi afastado do cargo. Além de criticar Bolsonaro, o religioso também foi afastado por questões esquerdistas.

“Eu fico triste porque a igreja não é para isso. A igreja não deveria usar o púlpito para defender nem quem é de esquerda nem quem é de direita. A política é menos importante, há temas muito mais importantes para tratar”, diz o teólogo, hoje fora de qualquer cargo de liderança na IPB.

Ageu Magalhães, autor da denúncia contra o presbítero, é um líder influente na IPB, conhecido por ter um pensamento conservador.

Ele dirige o Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, em São Paulo. Em 2018, Magalhães declarou voto em Bolsonaro e publicou uma foto de perfil no Facebook com a inscrição “PT não”.

Membros da igreja temem que essa postura se multiplique neste ano, no meio das eleições, e crentes que não concordam com a postura da cúpula sejam forçados a deixar os cargos e bancos da igreja.

IGREJA DIZ QUE NÃO APOIA NENHUM GOVERNO

Oficialmente, a IPB afirma que não apoia nenhum governo e que os fiéis têm liberdade para se posicionarem politicamente. O comando da igreja, porém, está diretamente ligado ao governo Bolsonaro.

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso no âmbito de uma investigação sobre o gabinete paralelo de pastores no Ministério da Educação, caso revelado pelo Estadão, e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, indicado por Bolsonaro, são pastores da instituição.

O relator da proposta de resolução para expurgar os “esquerdistas” da igreja, reverendo Osni Ferreira, usou o púlpito em Londrina (PR) para pedir apoio à reeleição do atual presidente.

O reverendo Roberto Brasileiro, líder máximo da IPB no País, já participou de eventos com Bolsonaro e tem um filho que ocupou cargo de confiança do MEC.

Nas publicações que motivaram o afastamento, o presbítero criticou Bolsonaro em função do discurso ideológico do presidente, se colocou a favor da descriminalização da maconha e do aborto e defendeu os direitos da mulher e da comunidade LGBT, temas sensíveis no meio evangélico.

Até mesmo referências a Paulo Freire e aos teólogos Karl Barth e Ariovaldo Ramos foram usadas para pedir a punição.

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