RELATO

'Coisa de demônio': fiel que foi baleado por policial dentro de igreja após discussão política

Fiel foi baleado durante uma briga política dentro da igreja. Vítima está internado desde a sexta-feira (2)

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 05/09/2022 às 10:07 | Atualizado em 05/09/2022 às 10:13
Notícia
Arquivo pessoal
A discussão que motivou a reação do PM teria sido motivada por questões políticas - FOTO: Arquivo pessoal

O fiel e assessor empresarial Davi Augusto de Souza, de 40 anos, que foi baleado dentro de uma igreja da Congregação Cristã do Brasil em Goiânia, Goiás, disse que ainda não entende os motivos que levaram o seu amigo Vitor da Silva Lopes, policial militar, a atirar contra ele durante um culto evangélico.

O caso aconteceu na última sexta-feira (2). A discussão que motivou a reação do PM teria sido motivada por questões políticas. Em entrevista ao portal UOL, Davi disse que não se lembra de quantos tiros levou do PM.

Davi revelou que apenas sabe que as duas pernas foram transpassadas por balas. Em uma delas, o projétil acabou danificando a artéria femoral, prolongamento da artéria aorta, e ele já teve que enfrentas duas cirurgias. Nos próximos dias, terá de ser submetido a uma terceira intervenção.

"Minha perna está aberta, inchada. Dói muito, queima como se tivesse fogo. A outra está melhor. Mas os médicos não dizem quais são os prognósticos. Só por Deus mesmo", declarou.
VItor é amigo de Davi há mais de 10 anos. O PM trabalhava com ferragens e Davi era seu cliente. "Eu insisti muito para que ele se inscrevesse na PM. E foi o meu irmão, Daniel, quem trouxe ele para a igreja", contou. "Mas fazia uns 4, 5 anos que eu não o via, porque eu tinha me mudado para o interior".

PEDIDO DE PERDÃO

Davi afirmou que foi participar do culto na sexta-feira com o irmão, porque os membros da hierarquia superior da igreja teriam definido que seu irmão, Daniel, e o pastor Djalma, teriam que, juntos, pedir perdão aos membros da congregação por conta de uma discussão que haviam tido por causa de política.

"O pastor Djalma ia pedir perdão porque falou de política no meio do culto e o meu irmão ia pedir perdão aos irmãos porque chamou a atenção do pastor e discutiu com ele no meio do culto. Já estava tudo acertado para isso".

Assim, na sexta-feira, Davi, que é músico há 30 anos e costuma tocar nos cultos, pegou seu instrumento musical e, acompanhado de outros membros da banda da igreja, tocou três hinos de louvor. "Daí me deu sede e eu resolvi fazer uma pausa para tomar água".

Ao chegar na copa da igreja, Davi avistou um ex-cunhado, chamado Maycom, a quem cumprimentou, estendendo a mão. Ele estava acompanhado do PM Vitor, que estava de folga naquele momento, estando ali apenas como membro da congregação.

COISA DE DEMÔNIO

"Eu fiquei feliz em ver o Vitor. E fui logo estendendo a mão para ele. De repente, ele pulou para trás e me chamou de vagabundo. Ele pegou o copo de água que tinha na mão e jogou tudo na minha cara. Eu me aproximei dele para perguntar o que tinha acontecido, por que ele estava fazendo aquilo. Foi coisa do demônio, mesmo. Não fazia sentido nenhum, todo mundo ficou assustado". Assim que se aproximou do amigo de 10 anos, Vitor sacou seu revólver e atirou.

VÍTIMA ESTÁ EM CHOQUE

Davi diz que está em choque com a situação. E que está preocupado também, porque tem três filhos para criar e não sabe o que poderia acontecer se tivesse que parar de trabalhar.

Ele estava começando a estruturar uma confecção para produção de uniformes e camisetas, mas agora não sabe mais como será o seu futuro.

"Não tenho ideia do jeito que está minha perna, só um milagre de Deus na minha vida", afirmou Davi. "Meu irmão, Daniel, está muito abalado com tudo o que aconteceu. Minha família também. Minha esposa e minha ex estão cuidando das crianças".

INVESTIGAÇÃO

A Polícia Civil investiga o caso. A ocorrência, registrada como agressão por arma de fogo e lesão corporal culposa (sem intenção de machucar a pessoa agredida), tem apenas as versões dos policiais militares que atenderam o chamado na igreja, de onde a vítima saiu em uma maca do Samu.

"No local, segundo informações, houve uma discussão entre dois indivíduos e o cabo Vitor da Silva Lopes. Os indivíduos tentaram entrar em luta corporal com o policial, que para se desvencilhar de um deles efetuou um disparo que alvejou a perna do envolvido", diz o documento.

A Polícia Militar de Goiás limitou-se a informar que instaurou um procedimento de apuração e que o cabo estava de folga no dia em que fez o disparo.

"Assim que a Polícia Militar tomou conhecimento do caso, determinou a instauração de procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato. Informamos ainda, que o policial militar apresentou de forma espontânea na delegacia de polícia civil para os procedimentos cabíveis", diz nota da PM goiana.

IGREJA EMITIU CIRCULAR CONTRA PARTIDOS POLÍTICOS

Fiéis da Congregação Cristã do Brasil em Goiânia têm relatado que os pastores do templo usam o microfone para defender o governo do presidente Jair Bolsonaro e atacar legendas de esquerda como o PT, PDT, PSOL PCdoB.

A direção nacional da congregação, inclusive, publicou uma circular, no começo de agosto, com teor político.

“Conforme Tópico de Ensinamento publicado na última RGE, em abril de 2022, alertamos o Ministério e a irmandade sobre a orientação ali contida, referente às eleições, onde diz o texto: Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher”, destaca o texto

A circular foi lida pelos pastores da igreja durante as suas pregações, destacando negativamente partidos como o PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário de Bolsonaro na corrida pelo Palácio do Planalto.

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