EFEITOS DA PANDEMIA

Pandemia afeta saúde mental de crianças e jovens, dizem psiquiatras

Reações e sintomas dos efeitos causados pela pandemia de Covid-19 nas crianças e adolescentes podem ser mais difíceis de serem detectados

TV Jornal
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Publicado em 21/03/2021 às 18:45 | Atualizado em 01/11/2022 às 12:43
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Com informações da Agência Brasil

A chegada da pandemia de Covid-19 vem afetando a vida, não some dos adultos, mas também das crianças e adolescentes. Nuances na saúde mental dos pequenos devem ser observadas.

O professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), Guilherme Polanczyk fala a respeito do assunto e da gravidade dele.

“A pandemia, e todo o contexto que a acompanha, têm gerado situação de estresse em crianças, adolescentes e adultos", diz o profissional, e explica que esse grupo precisa de atenção e cuidado.

"Como as crianças e adolescentes são menos infectados e como, muitas vezes, o sofrimento deles fica mais desapercebido, eles tendem a ser mais negligenciados”, disse Polanczyk.

Segundo o especialista, irritabilidade, mudanças de humor, insônia, dificuldade de concentração podem ser fáceis de se identificar em adultos, mas apresentam diversas nuances quando se trata de crianças e adolescentes.

Como as crianças lidam com a pandemia

As crianças menores, por serem mais dependentes dos pais, vão lidar com a pandemia muito em função de como os pais estão lidando e como o ambiente está organizado, analisa Polanczyk.

“As crianças maiores sentem falta dos amigos. Elas já têm capacidade maior de compreensão de uma forma autônoma, muitas vezes não completamente adequada, ou de uma forma não completamente realista"

Por isso, segundo o médico, essas crianças podem "interpretar de forma mais catastrófica algumas situações”.

O professor defende a retomada das aulas presenciais ou híbridas, desde que garantidas as medidas de segurança aos alunos e profissionais da educação, pois representa uma nova fase de desenvolvimento para os pequenos.

“É preciso sensibilidade para poder explicar para as crianças o que está acontecendo", fala o especialista.

"[É preciso] mostrar a importância de enfrentar, eventualmente, o desconforto social ou o medo da contaminação, e que esse cenário é combatido com os cuidados de higiene, por exemplo”.

Crianças que apresentam sintomas como dificuldade para dormir, relatos de preocupação, alterações de comportamento e até queixas de dor física merecem atenção especial.

Os pais devem ficar atentos a qualquer um desses sinais e buscar a ajuda de um profissional de saúde.

Sofrimento indireto

O professor de Psiquiatria da Escola Médica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), Daniel Monnerat, diz que, apesar das crianças serem menos infectadas, elas acabam sofrendo indiretamente.

O sofrimento, segundo ele, acontece primeiro com uma “menor” preocupação dos seus familiares em termos delas estarem com menor fruição, aproveitando menos as rotinas diárias.

Segundo, por estarem reclusas, mais introspectivas. Atualmente, as crianças vivem uma vida mais caseira porque os pais, ao cumprirem as medidas de isolamento, ficam mais tempo em casa.

De acordo com Monnerat, isso interfere na socialização desse grupo, nas atividades lúdicas e recreativas. “Essas crianças acabam, de alguma forma, sofrendo por essa reclusão que se impôs a todos nós pela pandemia”.

Monnerat explicou que, para afirmar que o maior efeito da pandemia se dá em crianças maiores ou menores, é preciso analisar como era o estilo de vida diária dessas crianças e adolescentes pré-pandemia.

Muitas vezes, alguns deles já eram mais introspectivos, mais caseiros, usavam ferramentas, como redes sociais e internet, para fazer contatos com os amigos.

Para esses, o isolamento pode não ter afetado muito o modus operandi (modo de agir) que eles tinham anteriormente.

Quadros de depressão em crianças e adolescentes

Segundo o professor, para aqueles adolescentes que faziam viagens e socializavam nos finais de semana, com certeza esse isolamento mais rígidos que a população está enfrentando este ano está sendo mais difícil.

Monnerat observou ainda que para pacientes que já tinham algum diagnóstico psiquiátrico, a pandemia pode exacerbar esses sintomas, fazendo com que eles precisem de mais atendimento médico.

Nesses casos é possível que seja necessária ainda, uma intervenção de medicamentos mais incisiva e, quando isso não é realizado, pode fazer com que quadros de depressão, de ansiedade e de rejeição se acentuem.

É importante que os pais e responsáveis expliquem às crianças que as medidas de isolamento social impostas pelas autoridades sanitárias não são um castigo, mas foram determinadas pensando na coletividade.

“Eu acredito que as crianças tendem a sofrer menos, porque elas estão sendo sensibilizadas, desde o começo da pandemia, a pensar no coletivo", diz o psiquiatra.

"Mas se são crianças que vivem em família com algum desfalque emocional, com ausência de progenitores e vivem mais à deriva, no sentido emocional e educacionalmente falando, elas já estão sofrendo muito e sofrerão mais ao perceberem que poderão retomar as atividades”.

É preciso contextualizar os casos e entender os anseios dessas crianças e jovens, disse.