Protesto

SDS identifica policial que atirou no olho do homem e o deixou parcialmente cego em protesto contra Bolsonaro no Recife

Investigação da SDS analisa como foi ação em protesto. Até agora, Governo de Pernambuco não disse de quem partiu a ordem

João Carvalho
João Carvalho
Publicado em 03/06/2021 às 6:47 | Atualizado em 22/11/2022 às 17:28
Felipe Ribeiro/JC Imagem
FOTO: Felipe Ribeiro/JC Imagem

A Secretaria de Defesa Social já sabe quem fez os disparos de elastômero, conhecida como “bala de borracha”, contra o arrumador de contêiner Jonas Correia de França, de 29 anos, na ponte Princesa Isabel.

O caso aconteceu durante um protesto contra o governo de Jair Bolsonaro no sábado (29), no Centro do Recife. Jonas não participava do ato e foi atingido no olho direito.

O resultado da investigação da SDS, responsável pela identificação, teria sido encaminhado ao governador Paulo Câmara.

Para nossa reportagem ele disse que os médicos já deram o diagnóstico de que o arrumador perdeu a visão. O militar identificado é do Batalhão de Choque e deve ser afastado ainda hoje das ruas.

Nesta quarta-feira (2), alguns PMs que participaram da operação durante a passeata foram ouvidos durante todo dia. Os responsáveis pela investigação apontam que o tiro disparado contra Jonas teria sido um ato isolado de um militar.

Outro homem atingido no olho durante o protesto, Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, passou por uma cirurgia e recebeu alta na terça-feira (1).

Ele perdeu a visão do olho esquerdo. O Governo de Pernambuco prometeu salário mínimo e auxílios a feridos pela PM no protesto. Ajuda será dada até que uma indenização seja definida.

Até agora foram afastados sete policiais militares: um major, um capitão, um tenente, um sargento e três soldados. Todos teriam participado diretamente da ação. A SDS já teve acesso às armas de elastômero usadas pela Polícia Militar.

“Estão tentando identificar, através de imagens registradas por uma câmera num prédio da região, quem são os militares que participaram diretamente dos disparos e se esses disparos foram feitos dentro das normas técnicas exigidas pela Polícia Militar”, disseram as fontes ouvidas pela reportagem da TV Jornal.

O comandante geral da Polícia Militar, o coronel Vanildo Maranhão, entregou o cargo e foi substituído pelo coronel José Roberto Santana, que exercia o cargo de de diretor de Planejamento Operacional da PM.

A Secretaria de Defesa está trabalhando com várias hipóteses sobre a passeata. Já se sabe por exemplo que, inicialmente, o Batalhão de Choque foi posicionado ao lado de uma estação de BRT da Avenida Guararapes, no Centro do Recife.

“Também existem imagens daquele ponto para descobrir o que aconteceu", disseram as fontes.

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"As imagens estão em análise e mostram alguns manifestantes sendo detidos por desacato e um grupo que teria tentado evitar as prisões. Em seguida a tropa avançou para a ponte (Duarte Coelho). Foi quando começou o confronto”.

Até agora o Governo de Pernambuco não explicou de quem partiu a ordem direta para a ação do Batalhão de Choque e de outras unidades, como Rádio Patrulha e 13º Batalhão.

Integrantes das duas unidades tiveram imagens registradas no momento em que disparavam balas de borracha e bombas de efeito moral contra integrantes da passeata. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, disse nesta quarta-feira (2) falou sobre o papel da PM no estado.

“A Polícia Militar vai continuar cumprindo o seu papel, protegendo o cidadão e atuando firmemente contra a criminalidade, mas, acima de tudo, respeitando as ações democráticas”, disse Câmara.

ELASTÔMERO

Um militar ouvido por nossa reportagem e preferiu não se identificar, disse que existe um padrão de uso do equipamento pelo BPChoque mas que o batalhão usa também referências de outras polícias.

“ A tropa também se espelha no padrão usado pela Polícia Militar de São Paulo”, disse.

A produção da TV Jornal entrou em contato com a PM de São Paulo, que se limitou a dizer, através de uma nota oficial, que:

“A Polícia Militar do Estado de São Paulo esclarece que adquire seus equipamentos por meio de processos licitatórios transparentes, regidos por critérios técnicos, de qualidade e preço, seguindo os melhores padrões nacionais e internacionais”.

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Procuramos nesta quarta-feira (2) a assessoria de imprensa da Polícia Militar de Pernambuco sobre o material usado pelo Batalhão de Choque. Mas até o fechamento desta reportagem, não tivemos retorno.

A TV Jornal teve acesso a um documento que orienta o uso do material por parte da tropa de Choque de São Paulo.

O texto, denominado Procedimento Operacional Padrão (POP), é de 2014 e foi publicado no site Ponte. Lá são citados os pontos sobre o socorro de pessoas atingidas por bala de borracha.

“Se o agressor à tropa estiver em distância inferior a 20 (vinte) metros, não realizar disparo com munição de elastômero”, diz o documento. Em outro ponto, afirma sobre a segurança para um disparo.

“Se o local for de aclive ou declive (plano de tiro, terreno), o policial militar deverá considerar seu posicionamento em relação ao agressor ativo, mantendo sempre os disparos na região dos membros inferiores.

Sobre a sequência das ações, o documento afirma a necessidade de socorro por parte da tropa. “Isolar a área e retirar o indivíduo do meio da multidão (se possível), socorrendo ou providenciando o socorro aos feridos, após o disparo ou a dispersão da massa”.