CONDENAÇÃO

''Esperávamos pena máxima'', desabada família de Maria Alice

TV Jornal / JC
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Publicado em 23/05/2018 às 14:55

-Foto: Luisi Marques/JC Imagem

Após 10 horas de julgamento, o pedreiro Gildo da Silva Xavier, de 36 anos, foi condenado a 35 anos de prisão por ter sequestrado, assassinado, estuprado e ocultado o cadáver da enteada Maria Alice Seabra, de 19 anos, no ano de 2015. O homem foi julgado nesta terça-feira (22) na Câmara Municipal de Itapissuma, no Grande Recife, condenado por quatro crimes e deve cumprir a pena, inicialmente em regime fechado, no Presídio de Igarassu.

Quase três anos depois da jovem ter saído com o padrasto pensando que iria para uma entrevista de emprego, a família ficou insatisfeita com o resultado e fala em recorrer. "É muito pouco, acho que vou recorrer. Não vou aceitar essa pena, porque ele praticou muitos crimes bárbaros contra a minha filha. A Justiça hoje foi uma vergonha", desabafou a mãe, Maria José de Arruda. A expectativa era de que ele fosse condenado a 48 anos de prisão. "Todo mundo esperava a pena máxima", disse a filha mais velha, Maria Angélica Seabra.

Como se trata de crime hediondo e o réu é primário, ele pode ficar apenas 14 anos no regime fechado e passar para o aberto. A mãe também criticou o fato de Gildo não ser transferido do Presídio de Igarassu para um mais distante.

Julgamento

O julgamento começou por volta das 8h30. Formado por sete mulheres sorteadas no início do julgamento, o Conselho de Sentença se reuniu por volta das 17h40. Uma das juradas, bastante emocionada, foi dispensada pela juíza Fernanda Vieira Medeiros, sendo substituída por outra mulher.

O Ministério Público selecionou três testemunhas de acusação. A delegada Gleide Ângelo, que participou da investigação do crime; a mãe de Maria Alice, Maria José de Arruda; e a irmã da vítima, Maria Angélica de Amorim. Gildo não teve testemunha de defesa. O réu foi interrogado antes do intervalo para o almoço.

Nova versão dos fatos

Durante a sessão, ele apresentou uma nova versão para os fatos e negou o crime, apesar de ter confessado em depoimento à polícia. Gildo acusou a polícia de ter manipulado o local dos crimes, disse ter sido coagido a depor na delegacia e dizer ter premeditado o crime para estuprar Alice e classificou tudo como fatalidade. Segundo o padrasto, ele chamou a jovem para conversar, porque ela tinha saído de casa e, numa discussão, ela teria lhe dado um tapa no rosto, ao que ele revidou com dois murros. Então ela teria batido com o rosto no cinto de segurança e morrido em consequência da hemorragia. A roupa dela, ele teria arrancando para estancar o sangue.

A respeito da mão da jovem ter sido decepada, ele alegou que poderia ter sido um animal, embora a perícia tenha apontado que o corte tenha sido provocado por um instrumento contundente, como machado e facão. O réu chorou durante o depoimento e saiu da sessão sob gritos de "assassino" e ''monstro'', proferidos por populares.

Na foto, mãe e irmãs de Maria Alice. Foto: Luisi Marque/JC Imagem

O crime

Segundo as investigações, Gildo premeditou o crime dois meses antes, pois queria manter relações sexuais com Maria Alice. Então, prometeu levá-la a uma entrevista de emprego, inventou para o patrão que a filha de 11 anos teria sido atropelada e pediu R$ 300 emprestado. Com isso, alugo um carro. No caminho, teriam discutido por conta da tatuagem que ela fez no braço, em homenagem ao pai biológico. E bateu a cabeça da jovem na coluna do carro. A mãe dela ligou na hora e Alice gritou pedindo socorro.

Então, ela teria sido espancada, sufocada com o cinto de segurança e estuprada. Em seguida, ele teria amarrado as mãos da garota com uma cueca, cortado a mão da tatuagem e largado a jovem no canavial. Cerca de 10 minutos depois, arrependeu-se, voltou para tentar reanimá-la, mas ela já estava morta. Dessa forma, ele fugiu para Aracati, no Ceará.

Delegada se emociona

Visivelmente abalada ao relembrar os detalhes do caso, a delegada Gleide Ângelo contou em seu depoimento como se deu a investigação do caso desde o momento em que a mãe da jovem Maria Alice, 19 anos, procurou a delegacia até o dia da prisão e a versão contada por Gildo naquela ocasião.

Ela lembrou ainda que o réu chegou a admitir que o desejo sexual pela enteada surgiu quando ela tinha 16 anos, num determinado momento em que estavam todos em casa e Maria Alice cruzou as pernas de forma descuidada e deixando a calcinha aparecer.

Gleide ainda reafirmou que, em depoimento gravado, Gildo confessou ter planejado o crime com pelo menos três meses de antecedência. Ela ainda fez diversas acusações contra Gildo e acabou sendo repreendida pela juíza Fernanda Vieira Medeiros, que preside a sessão. O teor das acusações da delegada rebatiam o fato de Gildo negar o estupro contra Maria Alice, mesmo tendo assumido o crime na ocasião em que foi preso.

Crueldade

"Eu senti que ele é uma pessoa má, perversa, cruel. Ele destruiu a vida de uma moça de 19 anos. Não só a de Alice, mas da mãe de Alice, da irmã de Alice... tudo para satisfazer um desejo sexual. [...] Ele não só matou, como matou com requintes de crueldade. Matou estuprando, quebrando os dentes, torando a mão, da pior forma que pode existir", disse Gleide Ângelo, emocionada, após prestar seu testemunho no julgamento.

Relembre o caso

Em junho de 2015, Maria Alice Seabra, 19 anos, havia saído de casa após conflitos com o padrasto. Ela estava morando na casa da irmã mais velha, embora preferisse dizer a Gildo que estava passando um tempo com um tio. Com a promessa de levá-la a uma entrevista de emprego, ele buscou a jovem em casa usando um carro alugado. No caminho do suposto compromisso, Gildo espancou, drogou, violentou e matou a enteada.

O corpo da jovem foi encontrado cinco dias após o sequestro, num canavial em Itapissuma, na Região Metropolitana do Recife. Preso, Gildo confessou os crimes alegando um "desejo sexual" pela jovem como motivo do crime. Perícias realizadas pelo Instituto Médico Legal (IML) comprovaram que a mão esquerda de Maria Alice Seabra foi decepada pelo padrasto com o auxílio de um instrumento contundente pesado, como um machado ou facão.