O youtuber Felipe Neto adquiriu 14 mil livros com temática LGBT expostos na Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, e irá distribuir os exemplares gratuitamente aos interessados. A entrega acontece neste sábado (7), no evento.
A atitude de Neto é uma resposta a tentativa da Prefeitura do Rio de Janeiro de censurar a revista em quadrinhos "Vingadores: A Cruzada das Crianças", da Marvel que traz um beijo gay. O prefeito Marcello Crivella postou um vídeo em sua conta no Twitter atacando a publicação. "Livros assim precisam estar em um plástico preto, lacrado, avisando o conteúdo", disse ele em vídeo nas redes sociais.
Pessoal, precisamos proteger as nossas crianças. Por isso, determinamos que os organizadores da Bienal recolhessem os livros com conteúdos impróprios para menores. Não é correto que elas tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades. pic.twitter.com/sFw82bqmOx
— Marcelo Crivella (@MCrivella) September 5, 2019
Na noite desta sexta-feira (6), Felipe Neto postou um vídeo em seu canal do YouTube anunciando que iria doar os livros. Os livros estão sendo entregues lacrados e com um aviso: "Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas. Felipe Neto agradece a luta pelo amor, pela inclusão e pela diversidade".
Só da Companhia das Letras, foram 10 mil livros:
Todos os livros da nossa estante LGBT+ foram vendidos!
Quem comprou foi o @felipeneto, que irá distribuir mais de 10 mil livros — nossos e de outras editoras — amanhã, a partir de meio-dia, na @bienaldolivro. Saiba mais: https://t.co/L57yMU5T8P #leiacomorgulho pic.twitter.com/YxJpmvNQY9
— Companhia das Letras (@cialetras) September 6, 2019
Os livros embalados e prontos para serem entregues:
Os 14 mil livros impróprios para os preconceituosos sendo embalados na @bienaldolivro #leiacomorgulho pic.twitter.com/FJsZAhqRaV
— Companhia das Letras (@cialetras) September 7, 2019
Justiça concede liminar que impede apreensão de livro na Bienal do Rio
O desembargador da 5a. Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, Heleno Pereira Nunes, concedeu liminar agora à noite à Bienal do Livro, impedindo que a prefeitura do Rio realize o recolhimento de livros de qualquer conteúdo em exposição e venda na feira literária. Na decisão, o magistrado escreveu: “Desta forma, concede-se a medida liminar para compelir as autoridades impetradas [prefeitura do Rio] a se absterem de buscar e apreender obras em função do seu conteúdo, notadamente aquelas que tratam do homotransexualismo”.
O desembargador escreveu na decisão que a medida se estende também ao funcionamento pleno da Bienal do Livro. “Concede-se a liminar, igualmente, para compelir as autoridades impetradas a se absterem de cassar a licença para a Bienal, em decorrência dos fatos veiculados nesta decisão”.
Entenda o caso
O mandado de segurança impetrado pela Bienal na Justiça é contra decisão anunciada ontem (5) pelo prefeito Marcelo Crivella, que determinou que os organizadores do evento recolhessem o livro Os Vingadores, a Cruzada das Crianças. Segundo Crivella, a publicação traz conteúdo imprório para menores. "Livros assim precisam estar embalados em plástico preto e lacrado, informando o conteúdo. Desta forma, a prefeitura do Rio está protegendo os menores de nossa cidade”, diz a nota do prefeito.
Escrito há dois anos por Allan Heinberg e Jim Chang, o livro traz uma ilustração de dois homens se beijando.
Hoje, a prefeitura do Rio distribuiu nota para informar que a notificação visa a adequar obras expostas na feira aos artigos 74 a 80 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Artigo 78 do ECA diz que “as revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo”.
“No caso em questão, a prefeitura entendeu inadequado, de acordo com o ECA, que uma obra de super-heróis apresente e ilustre o tema do homossexualismo [homossexualidade] a adolescentes e crianças, inclusive menores de dez anos, sem que se avise antes qual seja o seu conteúdo”, diz a nota.
A prefeitura alega também que houve reclamação de frequentadores da feira: “A obra estava lacrada. Não havia, porém, uma advertência neste sentido, para que as pessoas fizessem sua livre opção de consumir obra artística de super-heróis retratados de forma diversa da esperada. Houve reclamação de frequentadores da feira, que têm direito à livre opinião e opção quanto ao conteúdo de leitura de filhos e adolescentes, pessoas em formação”.