Coronavírus

Pandemia: Situação é grave, mas poderia melhorar com série de ações, aponta pesquisa

Enquanto óbitos se aproximam dos 100 mil, rede de pesquisadores avalia razões que levaram Brasil a chegar a esse índice, e propõe ações

Jornal da USP
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Publicado em 06/08/2020 às 10:45
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O Brasil caminha para a marca das 100 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus, atingindo o segundo lugar em maior número de vítimas no mundo.

Os Estados Unidos lideram o número de casos da doença e de mortes. Baseado em ações de países que obtiveram maior eficiência no controle da pandemia e em orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto de Saúde Global de Harvard, pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária (RPS) acreditam que, embora os resultados sinalizem a gravidade da situação, há políticas que ainda podem ser adotadas para melhorar a resposta da sociedade à pandemia.

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Desafio

O Boletim nº 18 da rede traz como desafio o avanço do debate público no que diz respeito a trabalhar as razões que fizeram chegar a esse número de óbitos. Na opinião dos pesquisadores, as políticas públicas adotadas pelos governantes brasileiros falharam, em algumas regiões. A flexibilização foi precipitada e houve pouca adesão da sociedade ao distanciamento social.

A Rede de Pesquisa Solidária adaptou critérios do Instituto de Saúde Global de Harvard e avaliou os riscos de agravamento da pandemia no Brasil com base nos dados das secretarias estaduais de saúde na média de novos casos de covid-19, entre os dias 19 e 25 de julho. Os resultados indicam que todos os Estados brasileiros se encontram nas duas zonas mais elevadas dos quatro níveis de risco possíveis.

Os trabalhos do Instituto de Harvard sugerem também medidas de controle da pandemia que deveriam ser adotadas a partir da situação de risco alcançada. Assim, os Estados que se encontram no nível verde, com a pandemia mais controlada, estariam no caminho adequado de contenção da transmissão da doença e poderiam, portanto, flexibilizar as medidas de distanciamento social, embora mantendo a testagem e o rastreamento de contatos.

De modo distinto, a cor vermelha representa as situações de risco alto, em que a pandemia ainda não foi controlada. Neste caso, os Estados são aconselhados a adotar políticas mais rígidas de distanciamento social para que as pessoas permaneçam em casa e a transmissão da doença se reduza. No mesmo sentido, a cor laranja foi utilizada para os Estados ameaçados de elevação dos níveis de transmissão da covid-19, com potencial para retornar ao nível de risco mais elevado.

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Testagem como estratégia para controlar a pandemia

Segundo orientações da OMS e do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, 2020), o controle da pandemia depende diretamente da massificação de testes que subsidia, inclusive, as decisões sobre medidas não farmacológicas de controle da doença.

Conforme apresentado na Tabela 3, nenhum Estado brasileiro obteve a taxa de positividade sugerida pela OMS, de 5%, tanto em relação aos testes totais realizados quanto aos testes RT-PCR. Destaca-se também que os resultados referentes à positividade de testes RT-PCR são superiores à positividade dos testes totais em todos os Estados, exceto Pará e Tocantins.

Em relação aos dispêndios com testes moleculares RT-PCR na composição das despesas estaduais relativas à testagem por covid-19, é possível observar que sete Estados não apresentaram informações sobre gastos com testes (valor zero na tabela 3). Nove estados realizaram despesas superiores a 50% dos gastos informados (Goiás, Minas Gerais, Paraná, Acre, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Ceará, Santa Catarina e São Paulo).

Os demais Estados claramente priorizaram os testes sorológicos, capazes de detectar quem já manteve algum contato com o vírus e produziu anticorpos e não pessoas infectadas.

Ao se analisar as normativas emitidas pelos gestores estaduais, foi observado que somente seis Estados (Paraná, Santa Catarina, Alagoas, Ceará, Goiás e Distrito Federal) apresentaram normativas referentes ao uso de testes como instrumentos de vigilância epidemiológica, além de orientar quais grupos devem ser prioritários na testagem e o aumento na disponibilidade de testes covid-19.

Destaca-se que todos os Estados emitiram majoritariamente normativas referentes ao aumento na disponibilidade de testes, principalmente devido à compra de testes e insumos, exceto Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte. O Tocantins não emitiu normativa sobre testagem no período analisado.

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Estratégias para diminuir a velocidade de transmissão

A Rede de Pesquisa Solidária tem alertado para as consequências da ausência de uma estratégia nacional de contenção da pandemia e para a falta de coordenação entre o governo federal e os Estados, a começar pelo enfraquecimento das políticas de distanciamento físico.

Adesão da população às medidas de distanciamento físico

A análise da adesão da população às medidas de distanciamento físico baseou-se nos dados agregados de mobilidade que rastreiam a geolocalização de aproximadamente 60 milhões de usuários de smartphones em todo o Brasil fornecidos pela Inloco.

Considerando a porcentagem de telefones celulares que permanecem na mesma localização geográfica durante o dia (das 6h às 22h) de onde estiveram durante a noite (das 22h às 6h). A figura 5 mostra a porcentagem de todos os celulares que estiveram em casa durante o dia por Estado, desde março até 20 de julho.

Em todos os Estados, houve um salto no número de pessoas que permaneceram durante o dia no mesmo local em que estavam à noite, na primeira semana após o início das medidas de distanciamento social. No entanto, de forma contraintuitiva, verifica-se que este porcentual não foi maior nos Estados que implantaram políticas de distanciamento mais rígidas.

A figura 6 apresenta as médias do Índice de Rigidez de Políticas de Distanciamento Social (RPDS) e da mobilidade dos indivíduos durante o dia, com relação à média móvel de mortes por 100 mil habitantes nos 26 Estados e no DF. Os Estados adotaram políticas moderadas para aumentar o distanciamento físico em março.

Porém, apesar do crescimento da pandemia, ao invés de ampliarem as medidas, os governos estaduais, de forma geral, reduziram gradativamente as medidas ao longo do tempo, mesmo com a tendência nacional de crescimento acentuado nas mortes.

Rede de Pesquisa Solidária

A Rede de Pesquisa Solidária é uma iniciativa de pesquisadores para calibrar o foco e aperfeiçoar a qualidade das políticas públicas dos governos federal, estaduais e municipais que procuram atuar em meio à crise da covid-19 para salvar vidas. O alvo é melhorar o debate e o trabalho de gestores públicos, autoridades, congressistas, imprensa, comunidade acadêmica e empresários, todos preocupados com as ações concretas que têm impacto na vida da população.

Trabalhando na intersecção das Humanidades com as áreas de Exatas e Biológicas, trata-se de uma rede multidisciplinar e multi-institucional que está em contato com centros de excelência no exterior, como as Universidades de Oxford e Chicago.

A coordenação científica está com a professora Lorena Barberia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. No comitê de coordenação estão: Glauco Arbix (FFLCH e Observatório da Inovação), João Paulo Veiga (FFLCH), Graziela Castello, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Fábio Senne (Nic.br) e José Eduardo Krieger, do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

O comitê de coordenação representa quatro instituições de apoio: o Cebrap, o Observatório da Inovação, o Nic.br e o Incor. A divulgação dos resultados das atividades será feita semanalmente através de um boletim, elaborado por Glauco Arbix, João Paulo Veiga e Lorena Barberia. São mais de 40 pesquisadores e várias instituições de apoio que sustentam as pesquisas voltadas para acompanhar, comparar e analisar as políticas públicas que o governo federal e os Estados tomam diante da crise.

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

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A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização.
  • Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
  • Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada: