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Pesquisa em Pernambuco confirma transmissão sexual do vírus da Zika

O estudo referente ao vírus da Zika foi feito pela FioCruz com a Universidade Estadual do Colorado (CSU), dos Estados Unidos

Robert Sarmento
Robert Sarmento
Publicado em 15/10/2020 às 17:20 | Atualizado em 17/05/2023 às 12:44
Sumaia Villela/Agência Brasil
FOTO: Sumaia Villela/Agência Brasil

A Fiocruz Pernambuco revelou, nesta quinta-feira (15), o resultado da pesquisa feita em parceira com a Universidade Estadual do Colorado (CSU) dos Estados Unidos.

De acordo com a FioCruz, foram encontradas evidências científicas da importância da transmissão sexual do vírus na epidemia de Zika em Pernambuco. Ao todo, 60% dos mais de 250 pacientes analisados foram confirmados de infecções com os vírus Zika e chikungunya, sendo pouquíssimos casos de dengue.

"A via sexual não parece ser unicamente responsável pelo contágio sustentado do Zika, mas associada à transmissão pelo mosquito pode contribuir significativamente para a disseminação eficiente do vírus", explica a pesquisadora Tereza Magalhães (CSU e Fiocruz PE).

Tereza coordenou o projeto ao lado dos pesquisadores Ernesto Marques (Fiocruz PE e Universidade de Pittsburgh, EUA) e Brian Foy (CSU).

Os riscos

Os resultados apontaram que, no caso do Zika, o risco de ter sido exposto ao vírus foi significativamente maior (risco relativo de 3.9) para o parceiro sexual do que para o morador no mesmo espaço que não era parceiro sexual (risco relativo de 1.2).

Para chikungunya, utilizado nessa pesquisa como "controle", o resultado foi bem diferente e o risco se mostrou igual para todos os moradores (parceiros sexuais ou não; risco relativo de 2-2.5).

Na segunda parte das análises, os pares sexuais das residências tiveram uma maior probabilidade de terem sorologia concordante para o Zika do que os pares sem relação sexual, fato que não foi observado com o grupo chikungunya.

Como foi feita a pesquisa?

Foram coletadas amostras de sangue, realizados testes sorológicos e aplicados questionários, para responder a dois tipos de análise.

Primeiro foi avaliado o risco da pessoa ser positiva para Zika ou chikungunya quando morando com paciente index soropositivo para o respectivo vírus, sendo ela parceira sexual ou não.

Depois, esse mesmo risco foi observado em todos os pares de uma mesma residência, independente de serem formados pelo paciente index.

"Isso pode indicar que, se essas pessoas dos pares sexuais foram infectadas com o Zika através de relação sexual e não da picada de mosquitos, talvez a sintomatologia seja diferente de acordo com a forma de transmissão", declara Tereza.

"É muito importante até para o manejo clínico, pois pode ser que o médico não consiga fazer um diagnóstico correto se avaliar somente sintomas típicos", complementa a pesquisadora.

Ainda de acordo com a FioCruz foram convidados os participantes de uma pesquisa feita entre 2015 e 2016 (denominados index), seus parceiros sexuais e até mais dois moradores da mesma residência, formando uma coorte de 425 pessoas.

O objetivo foi comparar, através de sorologia, a exposição prévia dos participantes aos vírus Zika e chikungunya.

A hipótese era que a exposição ao Zika seria maior entre os parceiros sexuais, já que esse vírus é transmitido por sexo e pela picada do mosquito. A comparação com o chikungunya foi muito importante no estudo já que não é transmitido sexualmente (somente pela picada do mosquito).