PANDEMIA

COVID-19: pesquisa aponta queda nos serviços de radioterapia no país

Um dos motivos é o deslocamento do paciente para fazer o procedimento

TV Jornal
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Publicado em 26/11/2020 às 16:00 | Atualizado em 08/03/2023 às 8:15
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Com informações da Agência Brasil

Um levantamento/pesquisa feito pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBR) revela que durante a pandemia de coronavírus, 60% dos serviços de radioterapia do país tiveram queda no atendimento.

Nas cinco regiões do país as informações coletadas apontam que 61% desse serviço teve mais de 20% de redução do movimento, sendo que 15% viram o número cair em mais da metade.

Dos 256 serviços de Radioterapia existentes no país apenas 126 responderam o questionário. Não houve respostas de serviços do estado de Rondônia.

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As causas apontadas pelos serviços de radioterapia para a redução do volume de pacientes atendidos foram multifatoriais e, em alguns casos, mais de uma foi relatada.

As três principais foram o não encaminhamento dos pacientes, por seus médicos, para a radioterapia; medo do paciente e familiares em realizar a radioterapia e a redução do diagnóstico de novos casos de câncer.

“A demanda reprimida pode gerar filas para tratamento e aumento dos casos mais avançados de câncer”, avaliou a SBR.

Distância

A distância que o paciente precisaria percorrer para receber o tratamento, ao longo de semana foi um dos motivos que levaram à redução dos encaminhamentos dos médicos para radioterapia.

Com a recomendação de isolamento social, a situação se agravou.

Ainda segundo o mapeamento, no Brasil, a média de deslocamento até o local mais próximo para um procedimento de radioterapia é de 76 quilômetros (km).

Enquanto no estado de São Paulo a distância média é 33 km, um paciente que mora em Roraima e no Acre, estados que não contam com esse serviço, a distância média é de 1.605,5 km e de 1.487,3 km, respectivamente.

Hipofracionamento

Para reduzir a necessidade de vezes que o paciente precisa se descolar uma medida adotada é o hipofracionamento.

A técnica permite utilizar, de forma segura eficiente, menos aplicações com frações mais altas de radiação por sessão comparada ao método convencional.

“O tratamento é mais rápido e ainda preserva os resultados terapêuticos. Na prática, significa que ao invés das 40 sessões de tratamento, o paciente poderá ser submetido a 2 ou até a cinco sessões, o que resulta em uma redução de oito vezes".

"Medida, portanto, essencial nesse momento de pandemia”, explica o radio-oncologista e presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, Arthur Accioly Rosa, que é também diretor de Radioterapia do Grupo Oncoclínicas.

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Entre serviços mapeados, 98 (77,8%) adotaram medidas de hipofracionamento. O modelo de tratamento foi mais frequente no Centro-Oeste, com oito dos nove serviços (88,9) realizando este procedimento.

Na sequência estão as regiões Nordeste (16 de 20 serviços - 80%), Norte (4 de 5 – 80%), Sudeste (52 de 66 – 52%) e Sul (18 de 26 – 69,2%).

As principais indicações/localizações para hipofracionamento foram para pacientes com diagnóstico de câncer de mama, metástase óssea, metástase cerebral, assim como pele, próstata, sistema nervoso retal e reto.

Covid-19

A pandemia de covid-19 também impactou equipes dos serviços de radioterapia. Mais da metade dos serviços tiveram pacientes (52%) e colaboradores (54%) com casos diagnosticados do novo coronavírus.

A frequência média à radioterapia com pacientes e funcionários diagnosticados com covid-19 foi de 52,4%: Centro-Oeste (44,4%), Nordeste (75%), Norte (60%), Sudeste (53%) e Sul (34,6%).

As principais condutas frente ao diagnóstico de covid-19 foram interrupção da radioterapia e isolamento do paciente (34,5) e realização da radioterapia no final do expediente (26,5%).

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O impacto causado pela pandemia também demandou a adoção de sistemas de teleatendimento.

Dentre os serviços, 80 adotaram serviço telefônico, 41 atuaram nas mídias sociais, 23 efetuaram atendimento por telemedicina e 17 trabalharam com videoconferência.

“A SBRT propôs diversas recomendações para o enfrentamento do novo coronavírus", diz o coordenador do comitê de enfrentamento e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia, Harley Francisco de Oliveira.

"Agora pretendemos analisar a adesão e o impacto destas ações, no intuito de planejar medidas para não haver atraso no tratamento dos pacientes com câncer”, relata ele.