A médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, mostrou preocupação com as aglomerações que estão sendo registradas nas festas de fim de ano no Brasil e é enfática ao apontar para o início da segunda onda da pandemia da covid-19 em janeiro de 2021.
A pesquisadora concedeu entrevista ao Passando a Limpo nesta quinta-feira (31), último dia do ano.
“O momento epidêmico que estamos vivendo é muito grave (...) Ainda conclamamos às pessoas para que repensem essas aglomerações. Temos visto situações que nos entristecem muito pelo risco que elas geram!, disse a especialista.
"Nós não temos dúvidas de que a segunda onda deverá se materializar no Brasil no mês de janeiro, ao qual já me referi como o mais triste janeiro de nossas vidas”.
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Espera pela vacina da Covid-19 no Brasil
A pesquisadora da Fiocruz lamenta a demora para que o Brasil inicie a vacinação.
“O Brasil está numa situação paradoxal. O país foi um celeiro bom e produtivo para os estudos de fase 3 das vacinas e, neste momento, nos encontramos com um certo atraso em algumas providências e até na negociação para obtenção das vacinas", disse.
"No entanto, as que foram testadas no Brasil, sobretudo a CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac junto ao Instituto Butantan, e a vacina da Astrazeneca junto à Fiocruz, se encontram com estudos da fase 3 publicados e um iminente momento de pedido de registro no Brasil”, detalhou.
Segundo a médica, a vacina da Astrazeneca e Oxford com a Fiocruz está com o cronograma mantido.
“A Fiocruz vai entregar ao Ministério da Saúde o primeiro lote de vacinas no mês de fevereiro. O momento em que vai começar a vacinação na hierarquia dos grupos previstos pelo Ministério da Saúde nós não podemos precisar, mas eu suponho que no final do verão nós possamos começar a vacinar as pessoas de acordo com as prioridades”, apontou.
Na avaliação da especialista, tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz conseguirão produzir uma quantidade suficiente de vacinas para o país.
“Pela capacidade de produção do Butantan e da Fiocruz, uma vez as duas vacinas registradas, não tenho dúvidas de que o Brasil será capaz de produzir vacina suficiente para cobrir um percentual suficiente para interromper a epidemia no país”, garantiu Margareth Dalcolmo.
A partir de que momento a vacina irá controlar a pandemia?
A pneumologista Margareth Dalcolmo explica em que momento será possível afirmar que a pandemia está controlada graças à vacinação.
“É preciso que haja uma proporção de pessoas vacinadas sobre o total. Nós conseguiremos interceptar a cadeia de transmissão da epidemia quando nós tivermos alcançado, não apenas os grupos de prioridade, mas o percentual de população equivalente a 50% ou 60% da população".
"Não tenho dúvidas de que num país como o Brasil nós precisaremos vacinar aproximadamente 100 milhões de pessoas para que nós tenhamos alguma tranquilidade de que interceptamos a epidemia e controlamos o número de infecções”, detalhou.
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Dalcolmo ainda comenta que a vacinação, além de interromper a transmissão, também ajudará a prevenir casos graves da covid-19 e os óbitos.
“Essas vacinas têm um impacto muito importante na prevenção da doença, sobretudo os casos graves e as mortes. Isso já é um efeito benéfico extremamente potente sobre essas ações. É preciso que a população entenda que vacinar é muito importante”, afirmou.
Todas as vacinas contra Covid-19 são boas
A pneumologista reforça que todas as vacinas são seguras e é preciso que a população confie nos pesquisadores.
“Todas as vacinas serão boas, seguras e eficazes. Foram testadas com todo rigor necessário, nenhuma etapa foi pulada nesse processo (...) Nunca o ser humano produziu tanto em tão pouco tempo em prol do bem comum e da humanidade. É preciso que a população confie no que estamos dizendo”, comentou Margareth Dalcolmo.
Segundo a especialista, o ideal é que as duas doses da imunização sejam feitas com a mesma vacina.
“O recomendado é que sejam tomadas as duas doses da mesma vacina para que tenhamos controle do que foi usado".
"O paciente vai receber no cartão de vacina a informação de que recebeu a dose X da vacina X e a segunda dose deve ser da mesma vacina", continuou.
"Pode acontecer algum atraso com relação ao dia marcado [para tomar a dose]”, disse, acrescentando que a situação não exclui os estudos cruzando o uso de duas vacinas para atestar a eficácia.
Crítica aos movimentos antivacinas
O movimentos antivacinas têm usado o argumento de que pessoas imunizadas sofreram reações alérgicas. Sobre a situação, a especialista critica duramente essas manifestações.
“Eu considero os movimentos antivacinas marginais e criminosos. Não vacinar um idoso ou uma criança com qualquer vacina eu considero um ato absolutamente de violação de direitos humanos, considerando que as vacinas foram o grande modificador de nossas vidas no século 20".
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"O que impede uma criança, hoje, de morrer de uma doença simples com difteria ou sarampo são as vacinas. Não há dúvida nenhuma. Para as viroses respiratórias, como a covid-19, a grande solução, igualmente, são as vacinas", disse.
"Não estamos apostando em tratamentos ou em remédios porque sabemos que para uma virose aguda o melhor tratamento é a vacina”, afirmou.
“Reações alérgicas são facilmente controláveis (...) Não houve nenhum choque anafilático ou efeito adverso grave. Usar esses argumentos me parece obscurantista e fora de qualquer propósito”, completou Margareth Dalcolmo.
De acordo com a médica, os relatos de que pessoas imunizadas têm sido bastante otimistas.
“O que estamos recebendo de feedback de colegas e familiares que já se imunizaram em outros países, os efeitos colaterais são felicidade, alívio, grande contentamento nos núcleos familiares pelo fato das pessoas estarem sendo vacinadas”, contou.