PANDEMIA

COVID-19: "Nós não temos dúvidas de que a segunda onda deverá se materializar", diz pesquisadora da Fiocruz

A médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo pediu que a população acredite nas vacinas

Suzyanne Freitas
Suzyanne Freitas
Publicado em 31/12/2020 às 14:00 | Atualizado em 22/12/2022 às 17:40
Acervo pessoal
FOTO: Acervo pessoal

A médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, mostrou preocupação com as aglomerações que estão sendo registradas nas festas de fim de ano no Brasil e é enfática ao apontar para o início da segunda onda da pandemia da covid-19 em janeiro de 2021.

A pesquisadora concedeu entrevista ao Passando a Limpo nesta quinta-feira (31), último dia do ano.

“O momento epidêmico que estamos vivendo é muito grave (...) Ainda conclamamos às pessoas para que repensem essas aglomerações. Temos visto situações que nos entristecem muito pelo risco que elas geram!, disse a especialista.

"Nós não temos dúvidas de que a segunda onda deverá se materializar no Brasil no mês de janeiro, ao qual já me referi como o mais triste janeiro de nossas vidas”.

VEJA TAMBÉM: NOVA ONDA COVID-19: crematórios na China LOTAM com mudança no tempo de duplicação do vírus

Espera pela vacina da Covid-19 no Brasil

A pesquisadora da Fiocruz lamenta a demora para que o Brasil inicie a vacinação.

“O Brasil está numa situação paradoxal. O país foi um celeiro bom e produtivo para os estudos de fase 3 das vacinas e, neste momento, nos encontramos com um certo atraso em algumas providências e até na negociação para obtenção das vacinas", disse.

"No entanto, as que foram testadas no Brasil, sobretudo a CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac junto ao Instituto Butantan, e a vacina da Astrazeneca junto à Fiocruz, se encontram com estudos da fase 3 publicados e um iminente momento de pedido de registro no Brasil”, detalhou.

Segundo a médica, a vacina da Astrazeneca e Oxford com a Fiocruz está com o cronograma mantido.

“A Fiocruz vai entregar ao Ministério da Saúde o primeiro lote de vacinas no mês de fevereiro. O momento em que vai começar a vacinação na hierarquia dos grupos previstos pelo Ministério da Saúde nós não podemos precisar, mas eu suponho que no final do verão nós possamos começar a vacinar as pessoas de acordo com as prioridades”, apontou.

Na avaliação da especialista, tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz conseguirão produzir uma quantidade suficiente de vacinas para o país.

“Pela capacidade de produção do Butantan e da Fiocruz, uma vez as duas vacinas registradas, não tenho dúvidas de que o Brasil será capaz de produzir vacina suficiente para cobrir um percentual suficiente para interromper a epidemia no país”, garantiu Margareth Dalcolmo.

A partir de que momento a vacina irá controlar a pandemia?

A pneumologista Margareth Dalcolmo explica em que momento será possível afirmar que a pandemia está controlada graças à vacinação.

“É preciso que haja uma proporção de pessoas vacinadas sobre o total. Nós conseguiremos interceptar a cadeia de transmissão da epidemia quando nós tivermos alcançado, não apenas os grupos de prioridade, mas o percentual de população equivalente a 50% ou 60% da população".

"Não tenho dúvidas de que num país como o Brasil nós precisaremos vacinar aproximadamente 100 milhões de pessoas para que nós tenhamos alguma tranquilidade de que interceptamos a epidemia e controlamos o número de infecções”, detalhou.

VEJA TAMBÉM: CORONAVIRUS: Estudos mostram que vírus da covid-19 pode ser transmitido por cadáveres; entenda 

Dalcolmo ainda comenta que a vacinação, além de interromper a transmissão, também ajudará a prevenir casos graves da covid-19 e os óbitos.

“Essas vacinas têm um impacto muito importante na prevenção da doença, sobretudo os casos graves e as mortes. Isso já é um efeito benéfico extremamente potente sobre essas ações. É preciso que a população entenda que vacinar é muito importante”, afirmou.

Todas as vacinas contra Covid-19 são boas

A pneumologista reforça que todas as vacinas são seguras e é preciso que a população confie nos pesquisadores.

“Todas as vacinas serão boas, seguras e eficazes. Foram testadas com todo rigor necessário, nenhuma etapa foi pulada nesse processo (...) Nunca o ser humano produziu tanto em tão pouco tempo em prol do bem comum e da humanidade. É preciso que a população confie no que estamos dizendo”, comentou Margareth Dalcolmo.

Segundo a especialista, o ideal é que as duas doses da imunização sejam feitas com a mesma vacina.

“O recomendado é que sejam tomadas as duas doses da mesma vacina para que tenhamos controle do que foi usado".

"O paciente vai receber no cartão de vacina a informação de que recebeu a dose X da vacina X e a segunda dose deve ser da mesma vacina", continuou.

"Pode acontecer algum atraso com relação ao dia marcado [para tomar a dose]”, disse, acrescentando que a situação não exclui os estudos cruzando o uso de duas vacinas para atestar a eficácia.

Crítica aos movimentos antivacinas

O movimentos antivacinas têm usado o argumento de que pessoas imunizadas sofreram reações alérgicas. Sobre a situação, a especialista critica duramente essas manifestações.

“Eu considero os movimentos antivacinas marginais e criminosos. Não vacinar um idoso ou uma criança com qualquer vacina eu considero um ato absolutamente de violação de direitos humanos, considerando que as vacinas foram o grande modificador de nossas vidas no século 20".

VEJA TAMBÉM: NOVA VACINA: Anvisa e Butantan avaliam desenvolvimento de vacina trivalente contra covid-19

"O que impede uma criança, hoje, de morrer de uma doença simples com difteria ou sarampo são as vacinas. Não há dúvida nenhuma. Para as viroses respiratórias, como a covid-19, a grande solução, igualmente, são as vacinas", disse.

"Não estamos apostando em tratamentos ou em remédios porque sabemos que para uma virose aguda o melhor tratamento é a vacina”, afirmou.

“Reações alérgicas são facilmente controláveis (...) Não houve nenhum choque anafilático ou efeito adverso grave. Usar esses argumentos me parece obscurantista e fora de qualquer propósito”, completou Margareth Dalcolmo.

De acordo com a médica, os relatos de que pessoas imunizadas têm sido bastante otimistas.

“O que estamos recebendo de feedback de colegas e familiares que já se imunizaram em outros países, os efeitos colaterais são felicidade, alívio, grande contentamento nos núcleos familiares pelo fato das pessoas estarem sendo vacinadas”, contou.