Alerta

Candida auris: Ação de 'superfungo' é favorecida por lotação em hospitais por causa da covid-19, no Brasil; entenda

Candida Auris ganha espaço nas UTIs lotadas, com equipes de saúde trabalhando além do limite. Microorganismo que ganhou o apelido de "superfungo", pela rapidez com que resiste à medicamentos

Karina Costa Albuquerque
Karina Costa Albuquerque
Publicado em 21/05/2021 às 9:22
(Science Photo Library / BBC News Brasil)
FOTO: (Science Photo Library / BBC News Brasil)

Um grupo de pesquisadores coordenados pelo professor Arnaldo Colombo do Laboratório Especial de Micologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) publicou artigo no Journal of Fungi sobre os dois primeiros casos confirmados em dezembro do "superfungo" Candida Auris em um hospital de Salvador (BA).

Em entrevista à agência Fapesp, o professor Colombo informou que "Já foram identificados outros nove casos, no mesmo hospital, entre colonizados [quando o fungo está no organismo sem causar danos] e infectados. Embora ainda não exista registro desse agente em outros centros no país, há motivos para preocupação: estamos monitorando as características evolutivas de isolados de Candida Auris de pacientes internados naquele hospital baiano e notamos que já há amostras exibindo menor sensibilidade ao fluconazol e às equinocandinas, essas últimas pertencentes à principal classe de fármacos usada no tratamento de candidíase invasiva". Candida Auris é o microorganismo que ganhou o apelido de "superfungo", pela rapidez com que resiste à medicamentos", afirmou.

Cuidados

Para os pesquisadores, a C.Auris ganha espaço nas UTIs lotadas com pacientes com covid-19 e equipes de saúde trabalhando além do limite. Eles recomendam que sejam redobrados os cuidados de higiene e intensificadas as ações de controle de infecção hospitalar.

Segundo o estudo é importante também promover uso racional de medicamentos antimicrobianos nas unidades de terapia intensiva dos hospitais. "Desde o início da pandemia, antibióticos como a azitromicina têm sido amplamente prescritos, na grande maioria das vezes sem qualquer necessidade", concluem os pesquisadores.

Alerta

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um comunicado de alerta, em dezembro, após confirmar o primeiro caso de infecção por Candida Auris, fungo que representa uma grave ameaça à saúde global, no país. O diagnóstico ocorreu em um paciente adulto que estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital da Bahia.

"O C. auris sobrevive em ambientes hospitalares e, portanto, a limpeza é fundamental para o controle. A descoberta (do fungo) pode ser uma questão séria tanto para os pacientes quanto para o hospital, já que o controle pode ser difícil", explicou a médica Elaine Cloutman-Green, especialista em controle de infecções e professora da University College London (UCL).

Para confirmar a presença do fungo, a equipe submeteu a amostra coletada a duas análises, realizadas no Laboratório Central de Saúde Pública Professor Gonçalo Moniz (Lacen-BA) e no Laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFM-USP), que identificaram o microrganismo na ponta do cateter do paciente. Para acompanhar o caso e evitar a disseminação da doença em território nacional, representantes dos serviços de saúde e da vigilância sanitária da Bahia organizaram uma força-tarefa nacional.

O que ele faz?

Conforme dados divulgados pela Anvisa, o superfungo apresenta resistência a vários medicamentos antifúngicos e pode causar infecção em corrente sanguínea. Segundo a Agência, os sintomas mais comuns incluem febre, fadiga e dores musculares, que se não forem devidamente tratados podem levar à morte, especialmente se o paciente tiver outros problemas de saúde.

A identificação do Candida auris também requer métodos laboratoriais específicos, já que pode ser facilmente confundido com outras espécies.

Alerta de Candida auris no mundo

Em 2017, a Anvisa emitiu um alerta sobre o fungo após relatos de surtos da doença causada pelo C. auris na América Latina. À época, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgaram um comunicado solicitando que as autoridades sanitárias adotassem medidas de prevenção a fim de combater a propagação.

O Candida auris foi identificado como causador de doença em humanos em 2009, após seu isolamento em um paciente japonês. Desde então, infecções pelo superfungo ocorreram em vários países, incluindo Japão, Coreia do Sul, Índia, Paquistão, África do Sul, Quênia, Kuwait, Israel, Venezuela, Colômbia, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.