Superação

CASO MIGUEL: Dor e luta por justiça marcam vida de Mirtes sem o filho

Mirtes Renata vivia para o único filho, Miguel Otávio, 5 anos, e se esforçava todos os dias para não deixar nada faltar

Marcelo Soares
Marcelo Soares
Publicado em 04/06/2021 às 12:36 | Atualizado em 21/11/2022 às 17:24
Reprodução/TV Jornal
FOTO: Reprodução/TV Jornal

Perder um filho é sentir saudade do que viveu e do que poderia ter vivido.

Esse é o sentimento que Mirtes Renata Santana de Souza convive há um ano, desde que Miguel Otávio Santana da Silva, 05 anos, caiu do 9º andar de um prédio de luxo no Centro do Recife, quando a acompanhava em um dia de trabalho como empregada doméstica.

Ele era a vida dela. Era pelo filho que Mirtes saía todos os dias para trabalhar, se esforçava para pagar escola particular, plano de saúde, passeios em família e não deixava faltar nada.

“Eu pedi tanto. Eu falei ‘filho, fica com mamãe’. Eu clamei tanto para Nossa Senhora tirar a minha vida e deixar ele vivo”, desabafa Mirtes Renata, com os olhos cheios de lágrimas, ao falar do momento que encontrou o filho caído no chão.

Foi na perda de Miguel que Mirtes descobriu sua maior força. Para superar a dor, ela resolveu voltar a estudar e transformar sua história em luta.

“Por tudo isso que eu venho passando, me vi na necessidade de fazer uma faculdade de direito para entender melhor o processo do meu filho e também ajudar outras pessoas a não passar o que eu venho passando”, conta Mirtes Renata.

 

A partida precoce de Miguel também está ajudando a salvar vidas. Um núcleo de pesquisa e projetos voltados para os direitos humanos foi criado na Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE) e ganhou o nome de Instituto Miguel.

De acordo com os coordenadores, Hugo Monteiro e Humberto Miranda, a ideia foi unir iniciativas relacionadas ao cuidado com a vida, da infância ao envelhecimento, além de se aproximar da promoção da justiça social.

“A gente, quanto Universidade, buscou funcionar em busca por justiça por Miguel, nessa sociedade que é racista, adultocêntrica e classista”, comentou Humberto Miranda, coordenador do Instituto Miguel e professor da UFRPE.

“Miguel, esse grande guerreiro, motivou a gente a homenageá-lo, a torná-lo patrono deste Instituto Menino Miguel, e a fazer com que a gente não pare de pensar e continuar a dizer ‘Vidas Negras Importam’”, completou Hugo Monteiro, coordenador do Instituto Miguel e professor da UFRPE.

Mirtes Renata participa ativamente do Instituto Menino Miguel com a força que teve após viver o momento mais difícil da sua vida.

Processo contra a ex-patroa da mãe de Miguel, Sari Corte Real

No dia da morte de Miguel Otávio, a ex-patroa da mãe Sari Corte Real, que cuidava do garoto enquanto Mirtes Renata passeava com a cachorra da família, pagou na delegacia R$ 20 mil de fiança para responder ao processo em liberdade.

No início das investigações, o delegado entendeu o caso como homicídio culposo quando não há intenção de matar.

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Depois dos depoimentos das testemunhas e das perícias realizadas no edifício, a tipificação do crime foi alterada e Sari Corte Real foi indiciada por abandono de incapaz com resultado morte.

"A ideia do abandono de incapaz é você ter o desiderato de abandonar com o objetivo de expor a perigo. E dessa exposição resulta morte", explica Érica Babini, coordenadora estadual do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.

"Essa morte não é desejada. Não é buscada. Ela é uma consequência decorrente de uma ação descuidada", disse.

A primeira audiência de instrução e julgamento aconteceu no dia 03 de dezembro, seis meses depois da morte de Miguel Otávio. Foram ouvidas oito testemunhas de acusação e três de defesa.

Uma outra testemunha de defesa foi ouvida sem a presença do advogado de Mirtes, o que gerou protestos e um pedido de anulação do depoimento. O pedido dos advogados de Mirtes foi aceito pelo Ministério Público de Pernambuco.

O processo está na fase de análise de cartas precatórias, que são os depoimentos de testemunhas de defesa que moram em outras cidades.

E a expectativa é pelo interrogatório de Sarí Corte Real que, de acordo com o Tribunal de Justiça de Pernambuco, ainda não tem data definida.