Saúde

Pela 1º vez, estudo identifica infecção pulmonar em feto de mãe que teve covid-19

Pesquisas demonstraram vestígios do vírus no cordão umbilical

TV Jornal
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Publicado em 20/08/2021 às 20:00 | Atualizado em 17/03/2022 às 19:04
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FOTO: Ilustrativa/Pixabay

Com informações de Agência Brasil.

Um recente estudo feito no Brasil demonstrou, pela primeira vez, a presença do novo coronavírus, em diferentes órgãos de um feto, como coração, traqueia, rins, cérebro e fígado.

Anteriormente, outras pesquisas tinham demonstrado vestígios do vírus no cordão umbilical e na placenta, mas agora é a primeira vez que ele é detectado em tecidos do feto. 

A pesquisa também pode observar que o Sars-CoV2 provocou uma infecção pulmonar no feto de uma mãe que estava com o vírus.

Nós conseguimos, de maneira inédita, demonstrar a presença do vírus nos tecidos fetais, através de técnicas sofisticadas. Esse vírus, quando acomete uma grávida, passa para o feto e pode circular nos tecidos fetais e, nesse caso específico que publicamos [em revista científica], a covid-19 acabou levando ao óbito esse feto, o que é uma coisa rara”, disse Arnaldo Prata, médico pediatra e pesquisador do IDOR - Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino, um dos responsáveis pelo estudo, em entrevista à Agência Brasil.

O caso em que se refere foi no feto de uma mulher de 33 anos que estava entre a 33ª e 34ª semana de gestação e, em outubro do ano passado, testou positivo para a covid-19, porém, não apresentou quadro grave da doença, tendo apenas febre leve, dores no corpo e na cabeça.

A mulher, ao ser diagnosticada com a doença, recebeu as orientações para ficar em isolamento social por 14 dias e procurar um médico caso seu quadro piorasse. Os exames feitos no dia da confirmação do diagnóstico para a covid-19 não mostraram nenhuma alteração ou problemas com a gravidez.

Naquela época, ainda não havia muito conhecimento sobre como a covid-19 se comportava com as grávidas e nem vacina. A orientação que existia até então é que, apresentando casos leves, a grávida deveria se manter em isolamento e só voltar ao médico após 14 dias, desde que o caso não se agravasse. Mas esse estudo apresenta mudanças para essa diretriz.

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Após o isolamento

Passado o período de isolamento para a doença, essa gestante retornou ao médico.

“Após 14 dias dessa consulta, ela percebeu que o bebê não estava mais se mexendo e aí ela retornou à maternidade. E então foi constatado o óbito do feto”, disse Prata. A família autorizou que os pesquisadores estudassem o caso.

Com esse estudo, os pesquisadores observaram que havia vestígios do novo coronavírus não só na placenta, mas em diversos órgãos desse feto, como o pulmão.

Mas que essa infecção no pulmão não tinha sido responsável por sua morte. Segundo os pesquisadores, o feto morreu por causa de uma grave trombose na placenta materna, que interrompeu o fluxo de sangue e oxigênio para a criança.

“Só a presença do vírus nos tecidos fetais não necessariamente significaria que teria havido uma infecção do feto pelo vírus. Poderia significar que o vírus passou pela placenta e circulou pelo feto. Mas conseguimos identificar, através de um exame de imunohistoquímica, a presença de células de defesa, os linfócitos, no pulmão deste feto. Ele tinha uma pneumonia causada pela covid-19. Então o feto também teve uma doença causada por essa infecção. Mas essa não foi a causa morte”, explicou ele.

“Sabe-se que, durante a gravidez, acontece uma tendência maior à coagulação. A gestação propicia isso. Mas a própria covid-19 também tem uma tendência à coagulação. No caso dessa gestante, ela infelizmente, por conta da covid-19, teve um estado de coagulação muito alto. E essa coagulação aconteceu na placenta, que ficou obstruída por coágulos e impediu a passagem do sangue materno ao feto”, explicou.

Essa mãe, segundo ele, não sentiu quaisquer sintomas relacionados à trombose.

“A trombose pode acontecer na placenta sem que a gestante sinta nada. Então, a grande mensagem desse artigo publicado é que a covid-19 costuma não ser grave para a gestante, mas precisa de atenção”, disse ele. “A grande lição é que, talvez para uma gestante com covid-19, ela precisa retornar [ao médico] antes dos 14 dias [de isolamento]. Ela precisa ter acompanhamento de seus marcadores de coagulação [como o dímero D] e de infecção”, alertou.

Quatro meses após a morte do feto, a mãe passou por novos exames para identificar se ela tinha alguma característica que possibilitava esse quadro de trombose, tal como a trombofilia, o que não foi identificado nos exames.

Isso, segundo Prata, reforçou aos pesquisadores que o quadro de trombose decorreu da covid-19, que pode predispor a casos de coagulação.

Apesar desse caso, Prata alerta as gestantes que os casos de complicações na gravidez relacionados à covid-19 são extremamente raros.

“A perda fetal de uma gestante que tenha contraído covid-19 é uma coisa rara. Não é comum. Existe, mas é rara”, disse ele. “A chance de perda do feto é pequena. Mas temos que estar atentos para essas situações onde isso pode acontecer”, destacou ele.

Além disso, hoje já há vacinas contra a covid-19 que são indicadas e estão sendo aplicadas em mulheres grávidas, tais como a Pfizer/BioNTech. Passado tudo isso, essa mulher está novamente grávida e agora vacinada contra a covid-19.

“Ela já tomou a vacina e está muito esperançosa”, falou Prata.

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O estudo

O estudo foi realizado de forma conjunta por pesquisadores de diversos institutos e universidades como a Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Departamento de Pediatria do Instituto D’or de Pesquisa e Educação e a Escola de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, e foi publicado esta semana na revista cieníifica Frontiers in Medicina.