SAÚDE

Anticoncepcional masculino que "banha os testículos" do homem com ultrassom realmente funciona? Entenda

O Coso é um anticoncepcional que funciona como uma pequena banheira para uso doméstico do homem.

Gustavo Henrique
Gustavo Henrique
Publicado em 20/10/2021 às 18:33 | Atualizado em 03/04/2022 às 18:45
Foto: Reproduçao / Instagram
FOTO: Foto: Reproduçao / Instagram

Um aparelho projetado pela designer alemã Rebecca Weiss, em parceria com pesquisadores americanos, pode se tornar um dos poucos anticoncepcionais masculinos.

Batizado de "Coso", o anticoncepcional foi projetado para dar um “banho” de ultrassom nos testículos e, assim, impedir a mobilidade dos espermatozoides. O protótipo ganhou o prêmio nacional de design do James Dyson Awards.

O Coso funciona como uma pequena banheira para uso doméstico onde o homem coloca os testículos a cada dois meses para impedir a movimentação dos gametas masculinos responsáveis pela reprodução, e consequentemente evitar que eles cheguem ao óvulo e o fertilizem.

Como o anticoncepcional masculino funciona?

A ação é proporcionada por meio de um ultrassom. Segundo o especialista em reprodução humana e diretor científico do Fertility Medical Group, em São Paulo, Edson Borges, o anticoncepcional masculino faz com que a cauda do espermatozoide perca a mobilidade.

O estudo por trás do Coso foi conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos e publicado na revista científica Reproductive Biology and Endocrinology. O experimento funcionou quando foi testado em ratos, mas os responsáveis destacaram que ainda são necessárias mais pesquisas para lançar o anticoncepcional masculino pra humanos.

O especialista em reprodução humana destaca, por exemplo, que não se sabe o quanto as ondas de ultrassom conseguiriam diminuir a mobilidade dos espermatozoides, e se essa redução seria suficiente para evitar a fecundação.

A criadora do Coso espera que o prêmio do James Dyson Awards, de dois mil euros na categoria nacional e trinta mil na categoria internacional — da qual é um dos finalistas — ajude a financiar testes clínicos para uma eventual confirmação da eficácia e aprovação do aparelho pelas agências reguladoras.

Dificuldades para o anticoncepcional masculino

Desde a criação da pílula anticoncepcional na década de 1960, cientistas buscam um método contraceptivo que funcione de forma parecida e possa ser direcionado aos homens. Porém existem dois principais motivos que tornam esse procedimento um desafio para a medicina, explica Edson Borges.

Produção de óvulos e espermatozoides

O primeiro problema tem a ver com a produção dos óvulos e dos espermatozoides. A mulher, mesmo antes de nascer, já produziu todos os óvulos que serão liberados durante a sua vida. Assim, o processo de ovulação é responsável apenas pela liberação de um desses gametas por mês.

Já os espermatozoides são produzidos pelo homem a cada 75 dias, e em quantidade suficiente para que, a cada ejaculação, sejam liberados em média de 25 a 200 milhões de gametas.

Hormônios presentes nas pílulas anticoncepcionais

Uma segunda dificuldade é em relação aos principais hormônios responsáveis pelos ciclos reprodutivos: o estrogênio e a progesterona, no caso da mulher, e a testosterona, no caso do homem.

Na formulação da pílula anticoncepcional feminina, geralmente é feita uma combinação do estrogênio e da progesterona em dose baixa, mas suficiente para que o organismo da mulher entenda que não precisa mais produzi-los. Assim, não há mais a quantidade necessária para provocar a ovulação.

Outros métodos contraceptivos masculinos

De acordo com o especialista em reprodução humana, há outras pesquisas que buscam métodos diferentes de contracepção masculina.

Um deles, na Índia, envolve a injeção de um polímero no canal deferente para bloquear a passagem dos gametas masculinos. O canal é como um tubo que leva os espermatozoides dos testículos para o epidídimo, onde são armazenados para posterior ejaculação.

O procedimento seria como uma vasectomia, que envolve o bloqueio permanente deste canal, só que reversível por meio da injeção de uma outra substância que dissolve o polímero e libera a passagem. Chamado de RISUG, o método também é conhecido por Vasalgel e ainda está em testes.

O RISUG é mais invasivo, mas tem apresentado uma alta taxa de eficácia nos testes sem apresentar grandes efeitos colaterais.