Brecha nas defesas

Demagogia de políticos com faixas salarias da PM pode ter erodido de vez Pacto pela Vida. Violência em Pernambuco disparou em agosto

Estado de Pernambuco aguarda nova política de segurança, enquanto assiste políticos conservadores interessados em votos adotando discursos sindicais para fazer média com tropa da PM

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Jamildo Melo

Publicado em 18/09/2023 às 11:11 | Atualizado em 18/09/2023 às 17:54
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Eleições, com suas promessas de campanha, são momentos de exaltação demagógica ao limite. Quando a demagogia é voltada para a área de segurança, as consequências podem ser ainda mais perigosas. A derrocada final do Pacto pela Vida tem, ao certo, vários fatores, mas a polêmica criada em torno das faixas salariais na PM pode ter tido um papel preponderante, por desestimular os quadros da corporação.

A mudança foi realizada no governo Paulo Câmara, sem qualquer polêmica à época, uma vez que no seu bojo trazia um substancial gasto com os militares. O problema é que, atualmente, essa discussão pode estar causando fadiga interna e deixando Raquel Lyra em uma sinuca de bico, porque foi adotada para conter os gastos com os militares, que somam boa parte da folha de pessoal, quando incluído aposentados e pensionistas.

O deputado bolsonarista Alberto Feitosa (PL), disse no plenário da Assembleia Legislativa que a extinção das faixas salariais dos policiais militares e civis e bombeiros não foi sequer falado na apresentação do Programa Juntos pela Segurança.

“A promessa não cumprida de extinção das faixas salariais dos policiais é o maior estelionato eleitoral desse atual governo. ... Os policiais estão desamparados, a população abandonada e os bandidos livres para agir a luz do dia”, disse.

O governo Raquel Lyra prometeu uma nova política de segurança para o final de setembro, mas com um novo secretário de segurança recém-chegado ao cargo há duas semanas é pouco crível que saia no prazo.

Governador sanciona lei que reajustou soldo de militares em 2017, junto com as faixas

No começo de 2017, o governador Paulo Câmara sancionou a lei que alterava a estrutura remuneratória das carreiras de praças e oficiais da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) e do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE). A estrutura passava a ser integrada por subdivisões em faixas de soldos, indicando o nível de progressão no respectivo posto ou graduação. "Trata-se do maior acordo de valorização funcional da história de Pernambuco, num grande esforço do Governo do Estado em meio a mais forte crise econômica que o País enfrenta. A PM e o CBM vão ter um reajuste médio de 25%", afirmou na época Paulo Câmara.

O reajuste representava um acréscimo de R$ 303 milhões na folha de pagamento de 2017, conforme detalhado nos demonstrativos de impacto financeiro, que acompanhvaam o projeto.

"O PL estabelece as correções nos vencimentos para os meses de Maio de 2017, Abril de 2018 e Dezembro de 2018. A lei viabilizava também o nivelamento salarial dos militares com a Polícia Civil. Além disso, garante o crescimento e o dinamismo na carreira dos militares".

"Nos últimos dois anos, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar receberam um aumento médio de 20% em 2015 e 20% em 2016. A política salarial tem objetivado reduzir a diferença de soldo entre os oficiais e os praças", disse na época Paulo Câmara.

Na tabela abaixo, veja os valores até então atuais e os corrigidos até o final do ano seguinte

Estado
Primeira tabela com as faixas salariais modificadas em 2017 - Estado
 

Em agosto de 2022, Miguel Coelho promete acabar faixas salariais

Um dia após o primeiro grande ato político de sua campanha eleitoral, em Petrolina, o candidato a governador Miguel Coelho defendia o seu plano de governo e dizia que as propostas da coligação “Pernambuco com força de novo” (UB, Podemos, Patriota e PSC) iriam resgatar a dignidade do povo pernambucano. Durante entrevista a uma rádio da cidade sertaneja, Miguel falou expressamente sobre o tema, entre pontos como saúde,infraestrutura, educação e impostos.

Na segurança, o candidato do União Brasil garantia que iria integrar as guardas municipais com as demais forças, acabar com as faixas salariais da PM e modernizar e melhorar o salário da Polícia Civil.

Anderson criticou faixas salariais da PM e cobrou Governo Paulo Câmara por escalada da violência

Em abril de 22, durante entrevista concedida pelo ex-prefeito do Jaboatão dos Guararapes e então pré-candidato ao Governo de Pernambuco, Anderson Ferreira, às rádios Cabo FM e Folha FM, na Região Metropolitana, o tema foi abordado pelo liberal como um dos pontos que contribuem para a desvalorização da categoria.

"A extinção das faixas salariais dos servidores da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) voltou ao centro do debate sobre a valorização dos profissionais da segurança pública no estado. O tema demonstra a falta de articulação e capacidade do atual governo em lidar com a segurança pública como um pilar fundamental na manutenção de uma sociedade íntegra”.

"A criação das faixas salariais, instituída em 2017 pelo governador Paulo Câmara (PSB), resultou em profundas críticas junto à categoria por criar desigualdades entre militares que ocupam um mesmo posto, além de ir contra os princípios de paridade e integralidade. O tema voltou a ser debatido na Assembleia Legislativa (Alepe) em 2021, mas, sob orientação do governador, a análise sobre a constitucionalidade do dispositivo acabou atropelada pelo rolo compressor da base aliada sob argumentos de que seria discutida em outras ocasiões, o que não ocorreu até o momento".

O presidente do PL em Pernambuco sacou o tema ao comentar o episódio em Porto de Galinhas, em que moradores e turistas ficaram sob estado de sítio devido à insegurança e à violência.

Raquel acabou com a exigência de metas de redução da violência

No final de julho, o deputado estadual Rodrigo Farias (PSB) dizia que o atraso na implantação de uma política pública de combate à violência tem feito crescer o medo entre os pernambucanos.

"Depois de sete meses de governo e com pelo menos três meses de atraso, o plano de segurança da gestão Raquel/Priscila foi apresentado sem metas de redução de índices de violência e sem citar uma política pública que ganhou destaque nos últimos anos com eficácia e prêmios, que é o Centro Comunitário pela Paz (Compaz). No evento, quando se esperavam as estratégias para diminuir a sensação de insegurança que vem crescendo nos últimos meses em Pernambuco, se anunciou uma nova data para o anúncio do plano: 28 de setembro".

“A governadora Raquel Lyra levou sete meses para apresentar um cronograma e não um plano. Acabaram com uma política pública vitoriosa e premiada pela ONU, que é o Pacto pela Vida, e até agora não mostraram estratégias nem metas”, destacou Farias.

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Lançamento do programa "Juntos pela Segurança"! no Centro de Convenções - Divulgação

Discurso sindical de Meira no lançamento do "Juntos pela Segurança"

O deputado federal Coronel Meira (PL/PE) participou do evento de lançamento. Na ocasião, o parlamentar falou do empenho dos policiais que teriam sido esquecidos e passaram por dificuldades nos governos anteriores e reforçou "seu apoio" a Raquel, se colocando à disposição para ajudar a Governadora no combate da criminalidade. Ao que parece, apoio se o governo atender as demandas sindicais.

"A senhora é uma mulher determinada, de palavra, e vai cumprir o que propõe em seu planejamento, que é entregar ao Estado de Pernambuco o melhor programa de Segurança Pública; porém, a senhora tenha certeza que, para que tenhamos êxito, o Estado precisará investir nas tropas, e em cada homem e mulher policial que aqui está. Acredito que a segurança em Pernambuco vai mudar, por isso Governadora, deposito toda minha confiança na senhora e em sua equipe, da qual também faço parte; conte com o 'Soldado' Coronel Meira para enfrentar a bandidagem", disse o parlamentar.

Um saia justa do evento foi a concessão de fala ao deputado federal Meira, do PL de Bolsonaro. Conforme revelou o blog, com exclusividade, Meira fez um acordo na Justiça, foi obrigado a pagar uma multa e desmentiu e acusação de que delegada Carla Patrícia 'protegia PSB' na chefia da PF em Pernambuco. Carla Patrícia cuidava da SDS, pasta que é responsável pelo novo Pacto pela Vida. No começo de setembro, ela entregou o cargo.

Joel da Harpa critica 'Juntos pela Segurança': 'A tropa ficou frustrada'

No começo de setembro deste ano, logo depois do evento oficial de Raquel, o deputado estadual Joel da Harpa comentou o projeto Juntos pela Segurança, lançado na tarde desta segunda-feira (31) pelo Governo do Estado. “Não vamos tapar o sol com a peneira. A nossa obrigação é expressar o sentimento da tropa”, disse.

"Especialmente, policiais civis, militares e bombeiros ficaram frustrados pela ausência de uma divulgação de novas propostas para a segurança pública, quanto a políticas de valorização profissional e salarial, cujo foco deve ser o fim das faixas salariais".

“Vamos permanecer na Assembleia Legislativa lutando pelas categorias de segurança pública, especialmente polícias e bombeiros militares para que a valorização chegue. Esperamos que a governadora acabe com as faixas salariais, assim como prometido por ela em campanha”, disse o parlamentar.

Joel afirmou que estaria "preocupado com o clima de desânimo que tomou conta da tropa, a qual vem enfrentando muitas dificuldades desde a criação das faixas no governo anterior".

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Alberto Feitosa e Gilson Machado disparam críticas a governadora Raquel Lyra e ao prefeito João Campos - Divulgação

Alberto Feitosa diz que a promessa de Raquel Lyra não cumprida para policiais foi o maior estelionato eleitoral do atual governo

Na metade de agosto, o deputado bolsonarista Alberto Feitosa voltou a cobrar no plenário da Assembleia Legislativa a extinção das faixas salariais dos policiais militares e civis e bombeiros. O assunto foi promessa de campanha da governadora Raquel Lyra e o deputado reclamou que não foi sequer falado na apresentação do Programa Juntos pela Segurança, do novo governo do PSDB.

A promessa não cumprida de extinção das faixas salariais dos policiais é o maior estelionato eleitoral desse atual governo. Os pernambucanos não aguentam mais tanta insegurança. Os policiais estão desamparados, a população abandonada e os brandidos livres para agir a luz do dia”, disse Feitosa.

Na fala, o parlamentar não explicou o custo da medida, adotada no governo Paulo Câmara em uma reformulação da carreira militar no Estado.

Agosto de 2023 registra recorde de mortes violentas em Pernambuco

SDS
Veja evolução mês a mês do número de mortes violentas - SDS

A violência em Pernambuco disparou, no mesmo mês em que caiu a primeira secretária mulher da SDS Carla Patrícia, chamando de volta Alessandro Carvalho, ex-auxiliar de Eduardo Campos e Paulo Câmara. Pernambuco registrou 292 homicídios em Agosto de 2023. Um aumento de 36%, em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram anotados 214 assassinatos.

Protesto no Sete de setembro e audiência pública na quarta da semana passada

No Desfile de 7 de setembro, na Imbiribeira, Joel da Harpa esteve junto a um grupo de pensionistas que aproveitaram a presença de várias autoridades e realizaram um ato público trajadas com roupas pretas e com faixas com reivindicações, como as faixas salariais.

Por iniciativa do deputado Joel da Harpa, na quarta–feira, dia 13 de setembro, chegou a ser realizada uma audiência pública para discutir a questão, especialmente policiais e bombeiros militares da ativa, aposentados e pensionistas. O fim das faixas salariais foi um dos temas do evento, no auditório Ênio Guerra. Entidades representativas das categorias estiveram presentes.

"O Legislativo precisa estar acompanhando de perto essas demandas para a construção de soluções para os problemas apresentados. A segurança é um tema de interesse público e urgente. A tropa está frustrada com a ausência de novas propostas para a segurança pública, quanto a políticas de valorização profissional e salarial”, diz.

Coronel Alberto Feitosa defende mudança na Constituição para acabar faixas salariais dos policiais e bombeiros

O deputado estadual Coronel Alberto Feitosa defendeu que a Proposta de Emenda à Constituição, PEC 17/2023, de sua autoria, é uma ferramenta legal para finalmente promover a extinção das faixas salariais de policiais e bombeiros. Atualmente existem subdivisões de salários por faixas dentro da corporação. Ele diz que elas são "famigeradas", em um aceno às corporações militares.

A PEC 17/2023 do parlamentar propõe acabar com os intervalos remuneratórios, faixas vencimentais ou equivalentes para servidores militares que ocupem o mesmo posto ou graduação.

O parlamentar diz que o tema é um pleito antigo da família dos servidores militares e foi, mais uma vez, trazido à tona na Audiência Pública sobre Segurança no Estado realizada no início de agosto, que lotou o auditório da Assembleia Legislativa de Pernambuco.

Coronel Alberto Feitosa vem cobrando a promessa de campanha, não cumprida, da governadora desde o primeiro trimestre.

“Da forma que está hoje isso representa uma ofensa ao princípio da meritocracia e da eficiência no serviço público. A PEC está em total conformidade com os mandamentos constitucionais. Não há razão para a não extinção das faixas salariais ”, defendeu Feitosa.

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