Curral Grande

Peça conta história esquecida dos campos de concentração no Ceará

TV Jornal / Márcio Bastos
TV Jornal / Márcio Bastos
Publicado em 14/09/2018 às 16:35

-Marília Cabral/Divulgação

É difícil encontrar nos livros citações a um dos episódios mais desumanos da história brasileira no século 20. Duas grandes secas no Nordeste, em 1915 e 1932, provocaram migrações em massa no Ceará, com milhares de pessoas fugindo do interior em direção à capital Fortaleza em busca de sobrevivência. Para barrar essas famílias de chegarem ao litoral, o governo criou espaços que se assemelhavam a campos de concentração. Essa história esquecida é trazida à tona na peça Curral Grande, que está em cartaz até o dia 22, na Caixa Cultural.

Chamados de Currais do Governo, os campos de concentração reuniam cidadãos que as autoridades identificavam como “flagelados” (estima-se cerca de 73 mil pessoas) em situações desumanas. A comida era mínima, as condições de higiene idem, o que causou muitas mortes.

Baianos residentes no Rio de Janeiro, os integrantes do Coletivo Ponto Zero desconheciam esse fato, assim como a maioria dos nordestinos e brasileiros. Mas, ao encontrarem o texto de Marcos Barbosa, de quem foram alunos na Universidade Federal da Bahia, sentiram que essa história precisava ser contada e que a tragédia encontra ecos em situações atuais.

“Foi um evento apagado da nossa história. É um episódio triste, mas que precisa ser lembrado. O que aconteceu foi uma tentativa de higienização social e vimos que isso ainda existe, é só olhar, por exemplo, a situação das desapropriações durante a Copa do Mundo, a tentativa do governo de esconder a pobreza. Criamos a peça em 2014, quando tudo isso estava muito latente – e ainda está”, afirma o ator Lucas Lacerda. Além dele, compõem o elenco Brisa Rodrigues, Brunna Scavuzzi, Carlos Darzé, que se revezam em cerca de 30 personagens.

A peça dirigida por Eduardo Machado é formada por oito cenas independentes que ajudam a montar um panorama da época, com personagens que vão dos retirantes às elites de Fortaleza. Como estratégias narrativas, o grupo vai do realismo à caricatura, passando pelo teatro épico e a narrativa popular.

Às sextas-feiras, após as sessões, o coletivo promoverá um bate-papo sobre o processo criativo do espetáculo.

Serviço

Curral Grande, do Coletivo Ponto Zero
Quando: de 13 a 22 de setembro (quintas e sextas, às 20h, sábados, às 18h e 20h)
Onde: Caixa Cultural (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: 3425-1915

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