Polícia

"Isso foi uma execução, tiro no peito", diz tio de adolescente morto em abordagem policial no Recife

O adolescente foi morto após uma abordagem policial

Catêrine Costa
Catêrine Costa
Publicado em 13/12/2021 às 14:35 | Atualizado em 13/12/2021 às 14:39
Notícia
ALEX OLIVEIRA/JC IMAGENS
Vitor Kauã Souza da Silva, 17 anos. - FOTO: ALEX OLIVEIRA/JC IMAGENS

A família do adolescente Vitor Kauã Souza da Silva, de 17 anos, morto em uma perseguição policial no bairro de Sítio dos Pintos, Zona Norte do Recife, no último sábado (11), está abalada com a partida prematura do jovem.

O tio da vítima afirmou, durante entrevista à reportagem da TV Jornal, que o garoto nunca teve nenhum envolvimento com a criminalidade.

"O menino não tem passagem nenhuma pela polícia, um menino de família. Os policiais foram brutos com eles, porque isso foi uma execução", disse o vigilante Manoel José de Souza. 

O familiar ainda conta que o jovem teria saído com amigo antes do fato ocorrer. "O colega dele tinha chamado pra ir fazer um serviço de capinagem. Aí a polícia passou por eles pediram parada e eles não pararam porque parece que o rapaz estava sem o capacete e ficou com medo de perder a habilitação", relatou. 

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Entenda o caso

De acordo com a família, o adolescente estava na garupa da moto de um amigo que pilotava a moto. Em abordagem, policiais teriam pedido para que eles parassem, mas o motociclista não obedeceu, por não ter carteira de habilitação.

Os parentes contam ainda que, após uma perseguição da polícia, com disparos efetuados, o adolescente teria sido baleado. Vitor Kauã chegou a ser socorrido para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), com um tiro no peito, mas não resistiu ao ferimento.

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Denúncia

Os familiares do adolescente estiveram no Instituto de Medicina Legal (IML) para realizar a liberação do corpo, que foi sepultado neste domingo (12), no Cemitério de Casa Amarela, no bairro de mesmo nome. Muito abalados, eles lamentavam a perda do rapaz.

Segundo eles, o laudo da polícia apontava que o adolescente carregava uma arma no momento da abordagem, e que houve uma troca de tiros. Quem convivia com ele, entretanto, defende que o objeto teria sido implantado. O vigilante Manoel de Souza, que é tio do adolescente, diz que ele era muito esforçado e não tinha nenhum tipo de envolvimento com crimes.

"Os policiais foram brutos com eles, tiro no peito é execução. Isso não é modo de abordar alguém. O menino não tinha passagem pela polícia, na minha família ninguém nunca se envolveu com droga, com nada. É uma dor muito grande, a gente sempre vê isso, mas achava que nunca ia acontecer na minha família. Hoje, vou enterrar meu sobrinho, um menino novo, com um futuro brilhante pela frente, trabalhador, esforçado e estudioso", disse o tio, o vigilante Manoel José de Souza.

A irmã de Vitor, que também não quis se identificar, contou que ele já havia sido abordado diversas vezes na comunidade, mas que nunca foi encontrado nada. "A educação da minha mãe é muito boa. Se ele visse um policial, ele ficava quieto, não corria, só andava com documento. A gente sempre tinha medo dessas coisas. O laudo diz que uma arma foi achada com meu irmão, e que foi trocado tiro entre eles. Eu quero saber como foi essa troca de tiro. Quero exame, perícia, tudo. Quero saber cadê a pólvora, a digital. A gente só quer resposta, porque nada disso vai trazer ele de volta mais. O que resta agora para a gente é sofrimento", lamentou.

Justiça

A família procurou a corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), nesta segunda-feira (13), e que o caso precisa ser investigado.

Disseram também que será feito um protesto no bairro de Dois Irmãos, Zona Norte da cidade, pelo mesmo motivo. "Quero que a justiça seja feita, que a gente vai lutar para que não fique mais um caso impune, que não venha acontecer com mais pessoas o que aconteceu", afirmou Manoel.

Secretaria de Defesa Social

A Corregedoria Geral da SDS tomou conhecimento do fato e está colhendo informações e elementos. Em paralelo, a PCPE está investigando a ocorrência e esse inquérito subsidiará também a atuação na esfera disciplinar por parte da Corregedoria.

Polícia Militar

A Polícia Militar informa que na tarde de ontem (11), Guarnições Táticas do 11º batalhão estavam empenhadas em uma ocorrência no bairro de Dois Irmãos, quando se depararam com populares afirmando que uma dupla, em uma motocicleta, estava praticando assaltos no local.

De posse das características dos suspeitos e da moto, os policiais seguiram em diligências e visualizaram os suspeitos, que ao perceberem a presença do efetivo policial efetuaram disparos de arma de fogo contra os PMs, que revidaram a injusta agressão, atingindo um dos suspeitos.

Ele foi socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento da Caxangá mas não resistiu aos ferimentos. O segundo envolvido foi encaminhado para Central de Plantões da Capital e posteriormente ao DHPP para serem tomadas as medidas legais cabíveis. Durante a ação foi apreendido um revólver calibre 38 com seis munições.

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