O sargento da Polícia Militar Carlos Arnaud Silva Júnior, acusado de matar o vendedor de balas Hiago Macedo de Oliveira Bastos, de 22 anos, está preso. Ele foi levado, na tarde desta segunda-feira (14), para a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
A morte ocorreu na Praça Arariboia, em frente à Estação das Barcas do centro da cidade.
A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) informou que, segundo a delegacia, o PM "responderá por homicídio doloso qualificado por motivo fútil", que é quando o autor tem intenção de matar.
A Secretaria de Estado de Polícia Militar (SEPM) disse que a 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) acompanha os trâmites do caso e instaurou inquérito policial militar (IPM) para apurar as circunstâncias do crime.
A Polícia Militar manteve a alegação de que o policial estava de folga e reagiu a uma tentativa de roubo em frente à Estação das Barcas. "O militar interveio na ação e um dos envolvidos teria investido contra sua integridade, sendo atingido por disparo de arma de fogo. O ferido não resistiu."
De acordo com a secretaria, o sargento que participou da ação e ainda um homem, que seria a vítima da tentativa de roubo, prestaram depoimento na DHNSG, onde o delegado optou pela prisão do militar.
Após o crime, um grupo de pessoas participou de manifestação no local. A PM disse que um homem atirou pedras em guardas municipais e policiais civis que faziam a perícia e foi preso por equipes do 12° BPM (Niterói). Ele também foi levado para a delegacia. Os policiais militares usaram gás de pimenta para reprimir os manifestantes.
Segundo a secretaria, durante a tarde, algumas pessoas tentaram "coagir comerciantes, impondo o fechamento dos estabelecimentos naquele perímetro". Dois homens foram presos por policiais do 12° BPM e levados para a 76ª DP (Niterói). Lá, um deles continuou detido por ter mandado de prisão em aberto contra ele. "Ambos vão responder por ameaça e constrangimento ilegal", disse a PM.
Vítima
A secretaria afirmou ainda que a vítima do crime, Hiago Macedo de Oliveira Bastos, tinha passagens policiais por crimes como tentativa de homicídio, furto e lesão corporal, e estava em liberdade condicional.
As versões da polícia, de pessoas da família e testemunhas que estavam no local sobre a morte são desencontradas.
Para a família, nada justifica a morte do vendedor de balas. A viúva Taís Santos, depois de prestar depoimento na delegacia, disse que o casal estava se organizando para fazer uma festa de aniversário para a filha que completa dois anos nos próximos dias.
"A gente já tinha pagado o salão e um monte de coisas. Ele só desceu para trabalhar, como diariamente. Ele não cometeu crime nenhum. Estava com uma caixa de balas na mão, vendendo e simplesmente ofereceu. Não sabia que oferecer bala é um crime. O ser humano que não quer comprar um doce não é obrigado. Agora, um homem vir e sacar uma arma, atirar e tirar a vida de um chefe de família, em que mundo que a gente está vivendo? O que é isso?", questionou Taís.
O corpo de Hiago Bastos será enterrado às 14h de hoje (15), no Cemitério do Maruí, no bairro do Barreto em Niterói.
Repercussão
Pelas redes sociais, influenciadores e políticos comentaram o assunto.
BARBÁRIE! Yago dos Santos, 21 anos, vendedor de balas, foi morto hoje por um policial, em frente à estação das barcas de Niterói. O motivo? Foi confundido com um criminoso pela cor de sua pele. Mas era apenas um trabalhador que queria fazer o aniversário da filha de 2 anos.
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) February 14, 2022
Vendedor de balas é morto por policial em frente às barcas de Niterói, após tentar oferecer balas ao policial que pensou ser um assalto, e atirou!
— Joel Luiz Costa (@joelluiz_adv) February 14, 2022
Fruto podre da nossa indiferença com a violência policial
A vida no Brasil não vale um pacote de balas https://t.co/XmhcsZmL5k