Riscos dos anabolizantes

Uso de anabolizantes para fins estéticos pode causar problemas sexuais e até a morte; médica explica como conquistar corpo sarado de forma saudável

Saúde mental e funções hepáticas também podem ser vítimas de uso de anabolizantes para fins estéticos; Na adolescência, hormônios podem interferir na massa óssea

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Gabriel dos Santos

Publicado em 28/11/2023 às 12:25 | Atualizado em 28/11/2023 às 15:37
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Ter o corpo musculoso está na moda. Para chegar até esse padrão de forma saudável, médicos, nutricionistas e educadores físicos concordam que o caminho é longo: exige muita dedicação nos treinos e disciplina na alimentação. Mas, na ansiedade por resultados mais rápidos, algumas pessoas decidem pegar “atalhos”, usando anabolizantes, sem calcular os riscos desses hormônios sintéticos para a própria vida.

“Os riscos variam de acordo com a substância utilizada, a dose cumulativa e o tempo de uso, envolvendo desde alterações reversíveis como acne, distúrbios psicológicos, disfunção sexual e distúrbios específicos do sexo (ginecomastia e infertilidade em homens e virilização em mulheres), até efeitos graves e potencialmente fatais como doenças cardiovasculares”, alerta a médica Danielle Seabra, que é especialista em Nutrologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, mestre pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e tutora da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS).

O QUE ANABOLIZANTES PODEM CAUSAR AOS HOMENS?

“Nos homens, essas substâncias acabam por reduzir a produção natural de testosterona. Os anabolizantes sinalizam para a hipófise (glândula considerada o maestro da orquestra hormonal do corpo) que não há necessidade de estimular a produção testicular de testosterona endógena pois já há androgênios circulantes suficientes, e assim o uso de esteróides anabolizantes culmina com atrofia testicular e infertilidade, que podem ser revertidas com a suspensão do uso por um período variável de meses a anos, ou até resultar em infertilidade permanente”, detalha Danielle Seabra.

A médica alerta que o uso de anabolizantes em homens pode provocar ainda um efeito contrário ao desejado pelos usuários. “Os homens podem transformar parte dos anabolizantes em estrogênios, isto é, hormônios femininos, num processo chamado de aromatização, e justamente através dessa conversão podem apresentar crescimento do tecido mamário, a ginecomastia”, comenta a especialista.

E EM MULHERES?

“Já nas mulheres, os efeitos específicos dos anabolizantes envolvem justamente o potencial androgênico da droga que está sendo utilizada, podendo aparecer as características corporais tipicamente masculinas como a queda de cabelo nas têmporas, padrão de calvície ou o surgimento de pelos na face e região peitoral, o que denominamos hisurtismo", exemplifica.

"Além dessas alterações citadas que costumam ser reversíveis, podem ocorrer mudanças irreversíveis na voz e crescimento do clitóris (virilização)”, elenca a médica, acrescentando que algumas usuárias também podem sofrer mudanças nos ciclos menstruais, “podendo contribuir para ciclos anovulatórios, e portanto, reduzindo a fertilidade”.

Em homens e mulheres, o uso de anabolizantes também pode provocar “alterações no perfil lipídico com redução dos níveis de HDL-colesterol e aumento dos níveis de LDL-colesterol, tornando o usuário mais suscetível a eventos aterogênicos tromboembólicos como o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular cerebral”, diz a médica.

Riscos para adolescentes

Entre adolescentes, a médica alerta que o uso de anabolizantes pode provocar danos ao crescimento.
“Assim o uso de anabolizantes na adolescência pode interferir com a massa óssea e causar puberdade precoce ou tardia. Além de promover impactos negativos no desenvolvimento psicológico”, garante Danielle Seabra.

Risco para o fígado

O uso de anabolizantes também pode comprometer as funções do fígado, especialmente aqueles que são administrados via oral, já que tornam o metabolismo hepático mais lento.
“A hepatotoxicidade pode ocorrer de maneira transitória com elevação de marcadores como as trasaminases, mas também podem ocorrer aumento do volume hepático e até formas mais graves como síndrome colestática aguda, a peliose hepática e tumores hepáticos”, explica a nutróloga, afirmando ainda que “o uso prolongado e altas doses de anabolizantes injetáveis também podem causar danos hepáticos”.

Doutora, os anabolizantes podem ter efeitos negativos na saúde mental?

“Certamente”, responde a médica. “Os efeitos dos anabolizantes na saúde mental dos usuários costumam ser negligenciados, pois numa fase inicial do uso costumam ser percebidos como um bem-estar, uma sensação de autoconfiança e auto-eficácia. O indivíduo se sente mais forte, mais disposto, com menor necessidade de sono e até com melhora do desejo e impulso sexual, mas justamente por esses comportamentos podem vir os quadros de hipomania, que seriam um estado desproporcional de elevação do humor”, detalha Danielle.

“Numa segunda fase, costumam acontecer oscilações de humor, agressividade e perda da capacidade de julgamento. Há ainda a terceira fase, típica da abstinência, uma vez interrompido o uso de anabolizantes, os usuários costumem sentir-se com humor deprimido, fadiga, sensação de impotência e aumentam a frequência de transtornos do humor, ansiedade e até mesmo tentativa de suicídio”, alerta a médica.

Quais são as alternativas seguras e saudáveis para alcançar objetivos de ganho de massa muscular sem recorrer a anabolizantes?

“Equilibrar a balança entre treino e alimentação. Especificamente, a prática de exercícios resistidos, que costumamos chamar de musculação. Essa quando realizada dentro dos princípios do treinamento de força (respeitando volume, intensidade, intervalo de recuperação entre as séries, ordem dos exercícios) é responsável por ganhos substanciais na massa e a força muscular, desde que o organismo esteja recebendo os nutrientes necessários para permitir o crescimento muscular, o que envolve uma alimentação balanceada e ajustada às necessidades individuais e horário de treinamento, especialmente para atletas”, observa Danielle.

“Além disso, é importante perceber que outros aspectos do estilo de vida estão diretamente relacionados aos resultados obtidos com o treinamento de força, uma vez que, por exemplo, tempo reduzido de sono e consumo excessivo de álcool podem impedir a adequada hipertrofia muscular por danos diretos e indiretos à musculatura esquelética”, conclui a profissional.

A reportagem foi feita após consulta à médica Danielle Seabra (CRM-PE 16600) Ela é pós-graduada em Nutrologia pelo Hospital Albert Einstein, mestre em Saúde da Conjunção Humana pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e tutora da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS). 

“A matéria apresentada neste portal tem caráter informativo e não deve ser considerada como aconselhamento médico. Para obter informações fornecidas sobre qualquer condição médica, tratamento ou preocupação de saúde, é essencial consultar um médico especializado.”

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