Saúde

Tontura: O que pode ser e quando é hora de procurar um médico? Especialistas dão orientações

Tontura não deve ser banalizada e médico deve ser procurado para realização de diagnóstico adequado

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Cadastrado por

Gabriel dos Santos

Publicado em 01/12/2023 às 11:31 | Atualizado em 01/12/2023 às 11:47
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Sentir-se tonto é uma queixa comum de pessoas de várias idades - especialmente, entre idosos -, mas que nem por isso deve ser tratado como algo banal. Segundo especialistas, a tontura é um alerta importante para que um médico seja procurado, a fim de se encontrar o diagnóstico certo do problema.

“As causas mais comuns de tonturas são decorrentes de alterações no labirinto [região do ouvido ligado à audição e equilíbrio]. E, entre essas, a mais comum é a vertigem posicional paroxística benigna, popularmente conhecida como os cristais do labirinto”, explica a otorrinolaringologista recifense Lívia Noleto, especialista em zumbido e tontura pela Universidade de São Paulo.

Neurologista no Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, no Recife, a médica Ester Campos Tavares acrescenta que a tontura também pode estar ligada a outros fatores. “Quadros neurológicos podem ser responsáveis por tontura, situações cardiológicas também até condições médicas gerais, desidratação e efeito de medicação”, comenta.

“Não é normal sentir-se tonto. Então, é um equívoco acreditar que uma tontura que é leve, ou que é pouco frequente, não merece atenção médica. Em outras palavras, toda tontura merece uma avaliação médica”, reforça Ester.

Em alguns casos, busca por médico deve ser imediata!

A neurologista afirma que a busca por um médico deve ser feita com urgência quando a tontura estiver associada a outros sintomas, como alteração de força, sensibilidade, equilíbrio, ou da visão, por exemplo.

“Se sintomas cardiovasculares do tipo, palpitações, dor no peito ou falta de ar acompanham a tontura. Ou mesmo se a tontura é muito incapacitante e ela promove um desequilíbrio, uma instabilidade na postura ou até mesmo queda. Nesse cenário, a avaliação médica deve ser realizada com ainda mais brevidade, ainda mais rápido”, alerta Ester.

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Ester Campos Tavares, médica neurologista do Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, no Recife - Divulgação

Tontura ou dor de cabeça ao levantar (após um cochilo ou noite de sono, por exemplo), pode indicar algo?

“A tontura ao se levantar e principalmente ao movimento pode ser um da vertigem posicional paroxística benigna. Agora se o que o paciente sente é uma sensação de desfalecimento, ele pode estar apresentando algum sinal de disautonomia do sistema cardiovascular. Já as dores de cabeça devem ser investigadas por um neurologista. Mas pode ser um sinal de enxaqueca do labirinto”, responde a otorrinolaringologista Lívia Noleto.

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Lívia Noleto, otorrinolaringologista no Recife - Reprodução

Quais exames são necessários?

As duas médicas ouvidas pela reportagem concordam sobre a elevada importância de uma entrevista detalhada feita pelo médico com o paciente para se entender a situação.

“São as várias informações coletadas durante a entrevista médica, durante anaminese, que vão compondo o verdadeiro quebra-cabeça para que possamos chegar no diagnóstico correto e assim propor uma investigação, eventualmente, exames complementares e principalmente um tratamento adequado”, diz a neurologista Ester Campos Tavares. Ela afirma que o médico deve descobrir “se há relação com alguma postura específica ou com os movimentos da cabeça, se a tontura só acontece em situações específicas, se existem sintomas associadamente ou não”.

Lívia detalha: “Os exames devem ser individualizados. O mais importante é uma boa conversa e um bom exame físico, com isso já temos 90% do diagnóstico. Porém, em alguns casos, podemos lançar mão de exames de imagem, testes auditivos, testes vestibulares, exames de sangue e testes eletrofisiológicos”.

É, inclusive, a descoberta da causa específica da tontura que definirá o tratamento necessário para o paciente. Segundo as médicas, o tratamento pode variar bastante de um caso para outro e pode incluir medicamentos ou até mudanças na rotina, como correção na alimentação ou no sono.

Qual o perfil mais comum de pacientes com tontura?

“A tontura pode acometer qualquer idade e, dependendo da faixa etária, encontramos doenças mais comuns. Por exemplo, nas crianças é comum encontrar a enxaqueca vestibular. Nos adultos, a tontura funcional que está muito relacionada com a ansiedade e nos idosos a vertigem posicional paroxística benigna. Mas se compararmos as faixas etárias, a tontura possui uma incidência maior em idosos”, responde a otorrinolaringologista.

Tontura em grávida é normal?

“É muito comum grávidas sentirem tonturas, por diversas causas como: anemia gestacional, hipotensão arterial e o aumento do hormônio progesterona, que está alto nas grávidas, causando um inchaço do labirinto”, diz Lívia.

Ester lembra: “Mas vale ressaltar que não é normal sentir tontura, então toda queixa de tontura merece uma avaliação, merece uma consulta médica, para que possa ser com segurança diferenciado um quadro benigno, um quadro associado a doenças ou condições mais banais que não oferecem risco de situações potencialmente mais grave”.

O que fazer no instante em que se sente tontura?

“Praticamente todas as condições que promovem a tontura, acontecerá uma piora dos sintomas durante a movimentação da cabeça, então um repouso é altamente recomendado. Além do repouso realizar os movimentos habituais, os movimentos cotidianos de forma lenta, e gradual, evitar movimentos bruscos, movimentos rápidos principalmente da cabeça, é uma forma de aliviar o sintoma da tontura até que haja uma avaliação médica adequada”, responde Ester. As médicas reforçam a importância de que um médico seja consultado em casos de tontura.

Como se prevenir de tonturas?

“Como prevenção de tontura os pacientes podem adotar hábitos saudáveis, como exercício físico e alimentação, além de uma acompanhamento médico para avaliação de doenças de base, como Diabetes e Hipertensão arterial sistêmica. É sempre importante a mudança de estilo de vida, combater o estresse e melhorar a qualidade do sono”, diz Lívia.

Ester acrescenta chamando atenção para a alimentação. “Como para alguns tipos de tontura, fatores alimentares, como, por exemplo, substâncias ricas em cafeínas como o próprio café e chás, chá branco, chá preto, chá mate, principalmente alimentos processados, ricos em uma substância chamada de xantina, eles podem funcionar como desencadeantes de crises de tontura de algum perfil específico. Então, evitar esse tipo de alimento pode ser uma forma de evitar crises de tontura”, conclui.

A reportagem foi feita após consulta às médicas:

  • Lívia Noleto (CRM-PE 19906) é otorrinolaringologista, mestre em otoneurologia pela UNIFESP-SP e especialista em zumbido e tontura pela USP-SP. A médica atua na clínica Instituto Rezende de Oliveira, no Recife.
  • Ester Campos Tavares (CRM-PE 17814 / RQR 3893), neurologista no Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, no Recife. Especialista em Neurologia pelo Hospital Universitário Oswaldo Cruz.

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