Atraso menstrual

Menstruação atrasada: idade, exercício físico intenso, estresse e alimentação podem causar mudanças no ciclo menstrual, explica ginecologista

Apesar de gravidez ser primeira hipótese a ser investigada, mulheres devem ficar atentas a outras causas relacionadas ao atraso menstrual

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Gabriel dos Santos

Publicado em 11/12/2023 às 11:24 | Atualizado em 11/12/2023 às 11:25
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É natural que as mulheres com atraso menstrual suspeitem de gravidez. Segundo os médicos, essa deve ser, de fato, a primeira hipótese investigada. Mas é importante alertar que outros fatores também interferem no ciclo menstrual.

“Para ocorrer a menstruação, ocorre uma cascata de eventos complexos envolvendo hormônios produzidos no hipotálamo e hipófise, no sistema nervoso central (cérebro) e que vão agir nos ovários e útero. Chamamos de Eixo Hipotálamo-hipófise-ovário. Adolescentes, no início da vida fértil, podem ter ciclos muito irregulares nos primeiros dois anos, devido a imaturidade desse eixo, ou seja, os mecanismos estão ainda se desenvolvendo”, explica o ginecologista Paulo Henrique Aureliano.

“Da mesma forma no período do climatério, final da vida fértil da mulher, que antecede a menopausa, ocorre escassez de células ovarianas e os ciclos também passam a ser irregulares, cada vez mais espaçados, podendo alternar com períodos de sangramento mais exacerbado, Até que a menstruação não venha mais. Quando temos a menopausa”, detalha o médico.

Exercícios físicos intensos podem afetar o ciclo menstrual?

Sim. “Os exercícios intensos estão relacionados com a liberação de beta-endorfinas, que são hormônios do bem estar, da euforia durante a prática de exercícios. Acontece que as beta endorfinas em grande quantidade inibem a secreção dos hormônios liberados pelo hipotálamo, no cérebro, e vai interferir naquele Eixo Hipotálamo-hipófise-ovário , culminando nas alterações ovulatórias e menstruais. Além disso, perda exacerbada e rápida de gordura corporal, assim como gasto energético rápido podem comprometer a formação dos hormônios femininos, que são formados a partir do colesterol, que é um tipo de gordura”, responde o ginecologista.

O estresse impacta o ciclo menstrual?

Sim. “O estresse atua em outro mecanismo que culmina aumentando o cortisol sanguíneo, considerado o hormônio do estresse. O cortisol, na corrente sanguínea, vai agir inibindo o eixo Hipotálamo-hipófise-ovário, culminando nas irregularidades menstruais”, esclarece Aureliano.

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Paulo Henrique Aureliano é médico ginecologista e obstetra - Divulgação

E o peso corporal?

“Os hormônios que participam do ciclo ovulatório da mulher são formados a partir do colesterol, gorduras. Dessa forma, uma mulher com baixo percentual de gordura, tanto uma mulher atlética como uma mulher com anorexia, podem apresentar atrasos na menstruação devido a menor produção dos hormônios femininos”, comenta o médico.

Alimentação interfere na menstruação?

“Isso depende de duas substâncias relacionadas à alimentação. A leptina, um hormônio produzido pelo tecido adiposo que inibe o apetite, e o neuropeptídeo Y, que aumenta o apetite. Mulheres anoréxicas, desnutridas, bulímicas, com baixo percentual de gordura, tem baixos níveis de leptina que leva ao aumento dos níveis de neuropeptídeo Y. Este último também inibe o eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovário, culminando nas alterações menstruais”, diz o profissional de saúde.

A mulher pode permanecer menstruada por quantos dias? Quando é considerado atraso?

“Em relação ao número de dias de menstruação e quantidade de sangue, isso varia de mulher pra mulher e também pode mudar no decorrer do tempo. É considerado normal um período menstrual de 3 a 8 dias”, afirma Paulo Henrique Aureliano.

“Atraso menstrual é quando a menstruação não desce na data que geralmente costumava descer. Varia de mulher pra mulher, se ela tem um ciclo regular ou irregular, se o ciclo dela é de 28 dias, 25 dias, 30 dias. Não existe um consenso sobre quantos dias de atraso seria anormal, mas, em média, atraso menstrual seria mais de 7 dias além da data que a menstruação deveria descer”, define.

Existe tratamento?

“Não existe um tratamento para o atraso menstrual. Como falei, ele é um sinal que deve gerar a investigação para descobrir a causa base. Aí sim, descobrindo a causa podemos ver o melhor tipo de tratamento. É errado achar que iniciar anticoncepcional para todas as mulheres não grávidas com atraso menstrual irá resolver o problema por trás do atraso. Estimular boa alimentação, prática de exercícios físicos regulares, sono regular, evitar estresse e uso indevido de medicações já seria uma boa forma de prevenir alterações menstruais de modo geral e, portanto, um tratamento”, responde o médico.

A reportagem foi feita após entrevista com o ginecologista Paulo Henrique Aureliano (CRM-PE 24255). Ele é médico pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), especialista em Ginecologia e Obstetrícia pelo IMIP, Fellowship em Uroginecologia pelo IMIP, Fellowship em Uroginecologia pelo IMIP, Preceptor da Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia no setor de Urgência/Emergência Obstétrica e Sala de Parto do Hospital da Mulher do Recife.

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