
O vulcão Cumbre Vieja, localizado nas Ilhas Canárias, na costa da África, entrou em erupção nesse domingo (19). Isso provocou medo, em alguns brasileiros, após a divulgação da possibilidade de um tsunami provocado pela erupção atingir o Nordeste do país.
As chances disso acontecer existem, no entanto, são mínimas. Quem tem enfrentado as consequências drásticas do vulcão são os moradores da ilha de La Palma.
"São muitas as casas destruídas. Não há um número estabelecido ainda", informou um porta-voz do governo regional das Canárias à AFP. Já em entrevista à televisão pública, o prefeito de uma das localidades afetadas afirmou que, pelo menos, 20 casas foram destruídas.
Apesar da destruição, até o momento o governo espanhol não registrou vítimas fatais por conta do vulcão, segundo informou a Radio Televisión Canaria (RTVC). Isso acontece porque, antes de a erupção acontecer, autoridades realizaram evacuação preventiva de alguns moradores.
Pedro Sánchez, presidente do governo espanhol, anunciou que vai às Ilhas Canárias para observar a situação. Ele suspendeu uma viagem aos Estados Unidos, onde participaria da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (21).
As pesquisas sobre possível tsunami
Foi em 2001, há 20 anos, que dois dos maiores pesquisadores do mundo, Steven Ward, do Instituto de Geofísica da University of Califórnia (EUA), e Simon Day, do Departamento de Ciências Geológicas da University College, de Londres (Inglaterra), levantaram a hipótese do vulcão Cumbre Vieja causar um tsunami que poderia atingir o Brasil.
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Na época, os dois chegaram a publicar um artigo científico alertando diversos países do Atlântico sobre a possibilidade. Para isso, eles realizaram o mapeamento da atividade sísmica, do histórico de erupções, das correntes marítimas e de diversos outros pontos relacionados ao fenômeno.
Contudo, segundo os pesquisadores, as últimas erupções do Cumbre Vieja ocorreram nos anos de 1949 e 1971 e, em nenhuma das vezes, a erupção causou problemas relacionados a tsunamis.
Brasil não precisa ter pânico
Para Marcelo Rocha, mestre em ciências ambientais pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o risco desse fenômeno atingir o Brasil é mínimo.
"Pelas imagens que vi, o que ocorreu foi uma erupção efusiva, só derramamento de lava e fumaça. Para um tsunami atingir a costa brasileira, necessitaria de uma erupção explosiva, quando todo o material seria despejado de uma só vez", explica o especialista.
De acordo com Rocha, ao contrário do que pode parecer, as chances de um tsunami atingir o Brasil ficaram mais remotas. "Teria que ser um evento catastrófico, sem precedentes, para atravessar todo o oceano e chegar ao Brasil", afirmou. Com isso, não há motivos para pânico, enfatiza o profissional.
No entanto, o especialista reforçou a importância de monitorar a evolução da situação. "É importante acompanhar a evolução da erupção e analisar se se mantém estável", ponderou o especialista.
A professora Tereza Araújo, do Departamento de Oceanografia, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explicou que existe uma possibilidade, mas bem pequena, sem motivo para pânico. "O vulcão ter registrado atividade não significa que ele de fato vá entrar em erupção, nem que irá um tsunami que irá atingir o Brasil", acrescentou.
O que esperar?
O Brasil está posicionado no centro de uma placa tectônica, a sul-américa, isso faz com que em seu território quase não haja perigo de atividades decorrentes de abalos sísmicos (tsunamis ocorrem, geralmente, por causa de terremotos).
No entanto, uma erupção vulcânica no Cumbre Veija - considerada difícil de acontecer - poderia colocar em risco essa estabilidade. Por isso, especialistas alertam para que a população fique atenta e vigilante ao monitoramento da atividade vulcânica e sísmica.
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Brasil não está preparado para tsunamis
Em 2017, um trabalho da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conduzido pelo geólogo Mauro Gustavo Reese, alertou para os efeitos, na costa brasileira, dos processos vulcânicos e dos movimentos de massa na Ilha de La Palma.
O especialista afirma que o Brasil não está preparado para qualquer tipo de tsunami, e que é necessário que o país tome medidas preventivas quanto ao evento. No estudo, o geólogo aponta os estados do Norte e Nordeste como os mais afetados.
"Os danos resultantes das ondas na costa brasileira seriam grandes, devido ao despreparo do país. Todo o ambiente costeiro seria afetado, perdas humanas ocorreriam, perdas materiais, e prejudicariam o turismo nas regiões" aponta Reese.
"A devastação causada seria o primeiro impacto para a população, isso somado ao despreparo e falta de agilidade do país, resultaria em meses para a recuperação dos danos na infraestrutura", analisou Reese, ressalvando, porém, "que as chances de ocorrência são remotas e longínquas".