Violência

"Minha menina brincava de bicicleta na rua, e eles já desceram atirando", diz pai de criança morta em Porto de Galinhas

Heloysa Gabrielle, de 6 anos, foi morta com um tiro no peito nessa quarta-feira (30)

Catêrine Costa
Catêrine Costa
Publicado em 31/03/2022 às 13:04
Notícia
Reprodução/ TV Jornal
Pai de criança de 6 anos morta em Porto de Galinhas - FOTO: Reprodução/ TV Jornal

O pai da criança de 6 anos que foi morta com um tiro no peito na última quarta-feira (30) na Comunidade Salinas, em Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco, negou que a tragédia tenha acontecido durante uma troca de tiros entre a Polícia Militar de Pernambuco e suspeitos de tráfico de drogas , como afirmou a corporação.

Não houve troca de tiros

Em entrevista a TV Jornal, Instituto Médico Legal (IML) do Recife, onde a família aguarda pela liberação do corpo de Heloysa Gabrielle, O pai deu sua versão dos fatos.

Segundo ele, que estava no momento em que a filha foi atingida, os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) já “desceram atirando”, e que não viu outro grupo revidar.

“Minha menina brincava de bicicleta na rua, e eles já desceram atirando. A vizinha disse que ela foi atingida. Peguei minha menina no braço, que já estava virando os olhos, e disse [ao policial] ‘seu filho da p***, você matou minha filha. Me jogaram na viatura para socorre-la para o hospital, e diziam: ‘vocês não viram que eles atiraram?’, e eu dizia que não vi nada”, disse o pai.

O tio também estava no local e disse que, aparentemente, a polícia estava seguindo um homem que passava de moto, mas que não atirou contra o BOPE.

“O menino não atirou em polícia nenhuma, ela que chegou atirando, amedrontando a população. A ação foi desnecessária. Naquela rua só tem criança brincando e pai e mãe assistindo televisão o dia todo”, afirmou.

As entrevistas foram dadas à TV Jornal no Instituto Médico Legal (IML) do Recife, onde a família aguarda pela liberação do corpo. Heloysa será enterrada no Cemitério de Nossa Senhora do Ó, também no município do Ipojuca.

Protesto


A população da Comunidade Salinas protestou nesta quinta-feira (31) pedindo por justiça e menos truculência nas operações policiais na região. Eles fecharam os dois sentidos da via que dá acesso à Praia de Maracaípe.

"Estou muito revoltada porque a polícia fez isso com uma criança. Ela chega atirando e não quer saber de nada. A gente só quer paz. Fora BOPE, a gente não aguenta mais", disse a moradora Ana Clara Maria Ferreira.

Há duas semanas, duas pessoas da vizinhança também foram mortas pela PMPE, que alegou ter revidado os disparos feitos inicialmente contra a guarnição.

Investigações


Sobre o caso, a Polícia Civil de Pernambuco informou que está "investigando as circunstâncias da morte de uma criança, na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas, onde há uma operação da PMPE para combater associações criminosas com atuação no tráfico de drogas". Ainda, afirmou que é "prematuro, neste momento, fazer afirmativas."

Já a Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) pontuou que, logo após tomar conhecimento do fato, determinou "a imediata averiguação". "O Departamento de Inspeção (DEPINSP) da Corregedoria, responsável pelo Grupo Tático de Ações Correcionais (GTAC), enviou equipes a Porto de Galinhas para colher as informações, para verificar se há indícios de autoria e de materialidade por conduta que represente infração disciplinar, visando a subsidiar um procedimento apuratório."

*Com informações dos repórteres Julianna Oliveira e Emerson Barros, da TV Jornal e Katarina Moraes do JC

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