TRISTEZA

"Não é uma tragédia. É uma chacina"

Mais do que simples números, até o presente momento, 121 pessoas perderam a vida - incluindo bebês e crianças - em tragédia jamais vista em Pernambuco

Fernanda Cysneiros
Fernanda Cysneiros
Publicado em 30/05/2022 às 12:38 | Atualizado em 07/06/2022 às 12:43
Notícia
TV Jornal
Chuva em Pernambuco deixa, pelo menos, 91 mortos em tragédia jamais vista - FOTO: TV Jornal

As fortes chuvas que atingem o Estado de Pernambuco desde a última quarta-feira (25) causaram um cenário de tragédia jamais vivenciado antes. 

Os números, que permanecem crescendo de maneira assustadora, relatam que 10 pessoas ainda seguem desaparecidas embaixo dos escombros do que restou.

No fim de semana da tragédia, as buscas pelas pessoas soterradas sob as ruínas de suas próprias casas foram iniciadas pelos moradores da região.  

Até o momento, foram confirmadas 121 mortes, incluindo as cinco vítimas do temporal de quarta-feira (25).

Muito além de simples números, são 121 pessoas - incluindo recém nascidos, crianças, adultos e idosos - que tiveram seus sonhos interrompidos bruscamente.

São 121 famílias destruídas que tentam reunir forças para dar o último adeus aos entes queridos. 

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Na comunidade do Betel, na UR-10 do Recife, um bebê de 10 meses perdeu a vida embaixo dos escombros. No Curado 4, Tiago José da Silva perdeu a mãe, a esposa e os dois filhos, uma menina de 2 anos e um menino de 4 anos.

Tantas outras histórias de tragédia se acumulam em meio as ruínas e, apesar de serem diferentes, todas compartilham o mesmo sentimento: o da dor.

Em entrevista à TV Jornal, familiares das vítimas tentaram conter as lágrimas para relatar o trágico momento em que suas vidas mudaram para sempre - e para pior.

Muitos denunciaram o descaso do Estado, uma vez que o próprio INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) emitiu um alerta vermelho na última sexta-feira (27) relativo às chuvas que iriam atingir Pernambuco durante o fim de semana, mas pouco foi feito pelo governo para retirar a população das áreas de risco.

FAMILIARES DAS VÍTIMAS

O mecânico Edson Souza é parente da jovem Taís Lucia Oliveira, de 22 anos, vítima do deslizamento de barreira que atingiu o Jardim Monte Verde, em Jaboatão dos Guararapes.

Beatriz, a filhinha de Taís, tinha 1 ano e 8 meses e também perdeu a vida no último sábado (28).

Reprodução/Instagram
Taís Lucia Oliveira, de 22 anos, e a filha Beatriz, de 1 ano e 8 meses. - Reprodução/Instagram

"Na verdade, isso não é uma tragédia. Isso é uma chacina. Porque todos os anos isso acontece, sendo que não tinha acontecido ainda nessa proporção. E isso, infelizmente, está longe de mudar

Edson também relata que houve um descaso do Estado com a população que reside em áreas de risco. 

"O povo constrói casa em barreira, porque não tem onde morar. É a necessidade. O governo não dá suporte ao povo para uma moradia digna. Ainda tem gente que diz: 'É perigoso fazer casa em barreira, e o povo faz'. Ou paga o aluguel ou come, essa é a realidade do pobre", disse. 

Tiago José da Silva conta, com lágrimas nos olhos, como perdeu a mãe Auderice de 62 anos, a esposa Jaidete de 40 anos e os dois filhos: Hadassa, de 2 anos, e Felipe de 4 anos: 

"Começou a chover, e minha esposa pediu para que eu saísse e pegasse uma enxada para desviar a água. Quando eu saí, a casa caiu com todo mundo. Saiu derrubando tudo. Parecia uma avalanche. Tá difícil de se levantar, mas tem que se reerguer."

Edson Tomé da Silva, o pai de Artur Tomé da Silva (19), perdeu o filho no sábado (28).

Artur foi resgatado pelos próprios moradores da Guabiraba, mas acabou falecendo.

A esposa e os dois filhos da vítima permanecem hospitalizados.

"A casa não oferecia risco, era muito longe da barreira. Mas o peso do entulho era grande e arrastou a casa. Ele (Artur) estava em casa com a esposa e com os filhos. Todos foram arrastados", disse Edson.

Reprodução/TV Jornal
Artur Tomé da Silva, de 19 anos, foi resgatado pelos próprios moradores da Guabiraba, mas acabou falecendo. - Reprodução/TV Jornal

"A esposa dele e os filhos foram encontrados primeiro e não vieram a óbito. Ele foi encontrado com vida ainda pelos moradores, porque os bombeiros não tinham chegado ainda. Mas ele não sobreviveu", finaliza.

A avó do bebê de 10 meses que perdeu a vida embaixo dos escombros, Érika, tentou reunir forças para explicar como tudo aconteceu:

"Ela (a mãe da criança) escutou a irmã do meu genro dizendo que a barreira estava caindo. Ela estava na cozinha e correu para pegar o bebê. Só sentiu os escombros. Ficou toda coberta, só estava com a perna para fora. Meu genro também foi atingido, e o sobrinho dele de 5 anos ficou só com a cabeça para cima."

Reprodução/ TV Jornal
Bebê de 10 meses perdeu a vida sob os escombros - Reprodução/ TV Jornal

"Quando conseguiram tirar todo mundo, começaram a procurar pelo bebê. Isso ainda pela manhã. Acharam o corpo dele às 15 horas da tarde. Mas quando ele chegou ao hospital, o médico disse que ele já estava morto há cerca de uma hora", disse.

No início da noite de domingo (29), os bombeiros localizaram o corpo de Andreza Fragoso da Silva, 30 anos.

Divulgação
Andreza Fragoso da Silva, 30 anos. - Divulgação

Ela estava soterrada a 50 metros da casa dela. Após uma hora, o corpo foi retirado da terra.

"Se o Governo e a Prefeitura fizessem alguma coisa, isso não acontecia todos os anos. Todo ano é família enterrando entes queridos. Isso não muda. Não sei se depois desse caso, que foi muito grande, eles vão tomar uma providência em relação a isso", diz Edson Souza, parente de Taís.

Veja também: Recomendações dos Bombeiros diante das chuvas em Pernambuco.

VIDAS PERDIDAS

De acordo com o governador Paulo Câmara, entre sexta e domingo (29), 121 pessoas foram vítimas das fortes chuvas.

Mais sete pessoas foram encontradas sob os escombros na manhã desta segunda-feira (30).

Outras cinco pessoas haviam perdido a vida entre quarta e quinta-feira da semana passada.

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A imensa maioria das mortes foi registrada em áreas de morro, onde houve deslizamentos e os moradores de comunidades pobres morreram soterrados. 

As vítimas são de todas as idades - incluindo bebês, crianças e adolescentes.

A previsão é de que a chuva continue com menor intensidade nos próximos dias. 

Populações de áreas de risco devem seguir as orientações da Defesa Civil e buscar áreas mais seguras. 

Divulgação
Números da Defesa Civil - Divulgação

CHUVA EM PERNAMBUCO; CHUVA NO RECIFE

Acompanhe AO VIVO a situação dos resgates, alagamentos e estradas:

Na última sexta-feira (27), a A Agência Pernambucana de Águas e Chuva (Apac) divulgou um aviso meteorológico indicando pancadas de chuva com intensidade forte.

O estado de alerta foi válido para o sábado (28) e atendeu às regiões:

  • Região Metropolitana do Recife (RMR);
  • Zona da Mata (Norte e Sul);
  • Agreste.

O Córrego do Jenipapo, na Zona Norte do Recife, foi a área que registrou o maior acúmulo de chuvas, 428 mm, nas últimas 96h.

Veja também: Até quando vai chover em Recife? 

Os dados, do Centro Nacional de Monitoramentos e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), foram informados pela Prefeitura do Recife.

Além de transtornos, alagamentos e destruições, 91 vidas foram perdidas, até o presente momento, no temporal que atingiu Pernambuco.

26 pessoas ainda seguem desaparecidas

PREVISÃO DO TEMPO PERNAMBUCO; PREVISÃO DO TEMPO RECIFE

Segundo informações repassadas pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), o fenômeno da Onda do Leste ainda persiste na região Nordeste.

Portanto, o aviso meteorológico emitido pela Apac no domingo (29), indicando possibilidade de pancadas de chuva de intensidade moderada, também é válido para esta segunda (30).

Apac/Reprodução
Alerta Pernambuco - Apac/Reprodução

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