Aos 29 anos de idade, o arrumador Jonas Correia de França foi informado que perdeu a visão do olho direito. O rapaz foi atingido por uma das balas de borracha disparadas pela Polícia Militar de Pernambuco, no último sábado (29), durante protesto no centro da capital pernambucana contra a condução do Governo Federal e do presidente Jair Bolsonaro da pandemia da covid-19.
Jonas Correia não participava do ato, mas foi atingido quando passava pelo centro do Recife.
O fotógrafo do JC Imagem Felipe Ribeiro conversou, nesta segunda-feira (31), com Jonas falou sobre o diagnóstico do rapaz. "Ele [o médico] fez uns exames e disse que, completamente, eu não tenho visão mais. Mas eles querem tratar mais para não tirar o globo, mas a visão ele disse que eu não tenho mais.
>> Atingidos por balas de borrachas disparadas por policiais no Recife serão indenizados pelo Estado
O jovem está sendo acompanhado pela equipe oftalmológica da Fundação Altino Ventura (FAV), no Recife. Em comunicado à imprensa, a FAV informou que "desde o primeiro dia de atendimento, foi observado um comprometimento importante da visão de Jonas". Segundo a unidade, o rapaz irá passar por uma nova avaliação na próxima quarta-feira (2).
Veja a nota completa:
"O paciente Jonas Correia de França foi atendido na emergência da Fundação Altino Ventura (FAV), no último sábado (29/5), após encaminhamento do Hospital da Restauração. Nessa primeira consulta, o paciente relatava forte dor no olho direito; o exame oftalmológico identificou um edema periocular, além de sangramento intraocular.
Jonas vem sendo acompanhado, desde então, pela equipe médica da FAV, mas continua internado no Hospital da Restauração, onde é medicado para que o edema seja minimizado. Desde o primeiro dia de atendimento, foi observado um comprometimento importante da visão de Jonas.
Novos exames foram realizados nesta segunda-feira (31/5), e o paciente irá retornar para nova avaliação no dia 02/6. No momento, nenhuma cirurgia foi indicada para o caso, mas a conduta pode mudar a partir da evolução do paciente e dos resultados dos novos exames."
Preocupado com o diagnóstico, Jonas Correia demonstra preocupação com seu futuro, já que não possui emprego fixo. "Agora, nessa situação que eu me encontro, como é que meus filhos, minha esposa vão ficar? Eu não trabalho fixo. Eu trabalho descarregando containers, sou arrumador, mas no momento, eu não posso levar o pão. E agora, como vai ser a minha família?, questionou o jovem.
Veja o vídeo da entrevista de Jonas:
Apesar do consolo do irmão, Jonas não conteve as lágrimas ao refletir sobre sua situação. "Hoje eu acordei muito triste porque é difícil pra mim acordar e me ver nessa situação. Só Deus sabe como eu tô (sic). Acordar de manhã para levar o pão de cada dia para a minha filha e me encontrar assim, perder minha visão. Meu irmão que me consolou falando de Deus, que a última palavra vem do Senhor. Eu sei. Mas a gente é ser humano, a gente sente. Mas Deus tá no controle de toda situação, eu creio", desabafou.
O arrumador Jonas Correia de França, de 29 anos, e o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51, foram atingidos nos olhos por balas de borracha disparadas por policiais militares no protesto contra o governo Bolsonaro, realizado no último sábado (29), na área central do Recife. Os dois estavam no centro da cidade a trabalho e foram surpreendidos pela violência policial.
As vítimas estão internadas no Hospital da Restauração, mas o acompanhamento oftalmológico está sendo feito na Fundação Altino Ventura.
Nesta segunda-feira (31), familiares se reuniram pela primeira vez com o governo do estado, que prometeu indenizar as vítimas. A reunião durou cerca de 30 minutos, e a imprensa não foi autorizada a acompanhar.
O secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, recebeu a esposa e o irmão do arrumador Jonas Correia de França, de 29 anos, que saíram revoltados. Segundo eles, o governo não está dando assistência.
Segundo a esposa, Jonas tinha largado do trabalho quando se deparou com o protesto. Parou para filmar e mostrar à família, quando foi atingido por policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar com as balas de borracha.
Os familiares de Jonas querem justiça e afirmam que vão procurar a Polícia Civil.
Além deles, outras pessoas também ficaram feridas no ato, foi o caso da vereadora Liane Cirne Lins (PT). De dentro da viatura, policiais dispararam spray de pimenta no rosto da vereadora, que, sob o efeito do gás, caiu no chão após a agressão. Ela prestou uma queixa crime contra os policiais.
Em entrevista ao Passando a Limpo, o presidente da OAB Pernambuco, Bruno Baptista, afirmou que além da apuração interna, a esfera criminal deve ser avaliada, diante da ação da PM.
O Ministério Público de Pernambuco instaurou um inquérito civil para apurar os excessos militares no centro da capital. O MPPE irá atuar por meio das promotorias, em relação a todos os atos da PM pernambucana.
A instituição ainda pede que a população repasse informações e imagens dos atos violentos, o que pode ser feito anonimamente pela ouvidoria do órgão. As informações podem ser informadas pelo WhatsApp (81) 99679.0221.
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