TRAGÉDIA

VÍTIMAS DAS CHUVAS RECIFE: com 106 vítimas, tragédia em Pernambuco torna-se maior desastre natural em número de mortos do Estado

Desastre ultrapassou a quantidade de 104 pessoas que morreram nas cheias de 1975.

Catêrine Costa
Catêrine Costa
Publicado em 31/05/2022 às 16:43
Foto: Severino Soares
Número de mortos já é de 106 vítimas - FOTO: Foto: Severino Soares

Os elementos do combo que levou Pernambuco a registrar o maior desastre natural em número de mortos em toda a sua história foram: chuvas intensas, falta de infraestrutura e de controle urbano.

Já são 106 vítimas confirmadas e ainda 10 desaparecidos - a maioria soterrada por deslizamentos de barreiras e outras levadas pelas correntezas.

Com este número o Estado ultrapassou o número de 104 pessoas que morreram nas cheias de 1975, quando a cidade ficou submersa.

O número foi atualizado às 15h45 desta terça (31), a partir da localização de corpos de mais seis vítimas por volta das 14h pelo Corpo de Bombeiros de Pernambuco

Três pessoas foram encontradas na Vila dos Milagres e outras três em Jardim Monteverde – nessa localidade, os trabalhos de buscas se encerram, uma vez que todos os desaparecidos foram encontrados.

VÍTIMAS DAS CHUVAS RECIFE 

As fortes chuvas no Grande Recife começaram na noite da última terça-feira (24). Com elas, vieram as primeiras tragédias. 

A primeira vítima confirmada foi o idoso, de 62 anos, José Cláudio da Silva. Ele morava sozinho em uma casa no Córrego do Abacate, no bairro de Águas Compridas, em Olinda, quando uma barreira desmoronou. 

Próximo a casa de seu José, no bairro de Caixa D'água, morava o casal Rosimere Hipólito da Silva, de 44 anos, e Sérgio Pimentel, de 54 anos, que também foram vítimas de deslizamento de barreira. 

Os bombeiros levaram mais de 24h para encontrar os corpos das vítimas, que só foram localizados na manhã da última quinta-feira (26). 

Reprodução/ TV Jornal
Casal foi encontrado hoje (26) - Reprodução/ TV Jornal

A poucos quilômetros dali, na madrugada da quarta-feira (25), Aureogildo Vasconcelos, de 36 anos, voltava de uma pelada no bairro de Jardim Brasil. 

Gildo, como era conhecido, também era ex-jogador de futebol profissional. Ele trafegava de motocicleta na Avenida Presidente Kennedy, no bairro de Peixinhos, Olinda, quando foi puxado pela água e caiu no Canal Lava Tripa.

Divulgação
O corpo foi encontrado na tarde de hoje (26) - Divulgação

A motocicleta foi encontrada por populares na manhã do mesmo dia. O corpo dele foi encontrado na tarde da quinta-feira (26), no bairro de Cajueiro, já no Recife, pelo irmão da vítima e alguns amigos.

Mesmo Gildo tendo desaparecido na madrugada da quarta-feira (25), o Corpo de Bombeiros de Pernambucoiniciou as buscas na manhã da quinta.

Foi informado à imprensa e a familiares da vítima que: "os Bombeiros estiveram no local, avaliaram o cenário da ocorrência e informaram que quando o nível da água baixar é que as buscas poderão ser realizadas".

Na manhã da sexta-feira (27), mais uma morte foi confirmada. 

Dessa vez, foi encontrado o corpo do jardineiro Alex Rodrigo da Luz, 41 anos, que estava desaparecido desde a quarta-feira (25).

Arquivo pessoal
O jardineiro Alex Rodrigo da Luz mora no bairro da Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. - Arquivo pessoal

O corpo estava próximo ao local onde ele desapareceu, no bairro da Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes.

Ele morreu afogado enquanto tentava salvar seus animais, que criava no sítio em que morava. 

O mecânico Edson Souza é parente da jovem Taís Lucia Oliveira, de 22 anos, vítima do deslizamento de barreira que atingiu o Jardim Monte Verde, em Jaboatão dos Guararapes.

Beatriz, a filhinha de Taís, tinha apenas 1 ano e 8 meses e também perdeu a vida no último sábado (28).

Reprodução/Instagram
Taís Lucia Oliveira, de 22 anos, e a filha Beatriz, de 1 ano e 8 meses. - Reprodução/Instagram

"Na verdade, isso não é uma tragédia. Isso é uma chacina. Porque todos os anos isso acontece, sendo que não tinha acontecido ainda nessa proporção. E isso, infelizmente, está longe de mudar

Edson também relata que houve um descaso do Estado com a população que reside em áreas de risco. 

"O povo constrói casa em barreira, porque não tem onde morar. É a necessidade. O governo não dá suporte ao povo para uma moradia digna. Ainda tem gente que diz: 'É perigoso fazer casa em barreira, e o povo faz'. Ou paga o aluguel ou come, essa é a realidade do pobre", disse. 

Tiago José da Silva conta, com lágrimas nos olhos, como perdeu a mãe Auderice de 62 anos, a esposa Jaidete de 40 anos e os dois filhos: Hadassa, de 2 anos, e Felipe de 4 anos: 

"Começou a chover, e minha esposa pediu para que eu saísse e pegasse uma enxada para desviar a água. Quando eu saí, a casa caiu com todo mundo. Saiu derrubando tudo. Parecia uma avalanche. Tá difícil de se levantar, mas tem que se reerguer."

Edson Tomé da Silva, o pai de Artur Tomé da Silva (19), perdeu o filho no sábado (28).

Artur foi resgatado pelos próprios moradores da Guabiraba, mas acabou falecendo.

A esposa e os dois filhos da vítima permanecem hospitalizados.

"A casa não oferecia risco, era muito longe da barreira. Mas o peso do entulho era grande e arrastou a casa. Ele (Artur) estava em casa com a esposa e com os filhos, um de 10 anos e um de 4 meses de vida. Todos foram arrastados", disse Edson.

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Artur Tomé da Silva, de 19 anos, foi resgatado pelos próprios moradores da Guabiraba, mas acabou falecendo. - Reprodução/TV Jornal

"A esposa dele e os filhos foram encontrados primeiro e não vieram a óbito. Ele foi encontrado com vida ainda pelos moradores, porque os bombeiros não tinham chegado ainda. Mas ele não sobreviveu", finaliza.

A avó do bebê de 10 meses, Antoni Miguel, que perdeu a vida embaixo dos escombros, Érika, tentou reunir forças para explicar como tudo aconteceu:

"Ela (a mãe da criança) escutou a irmã do meu genro dizendo que a barreira estava caindo. Ela estava na cozinha e correu para pegar o bebê. Só sentiu os escombros. Ficou toda coberta, só estava com a perna para fora. Meu genro também foi atingido, e o sobrinho dele de 5 anos ficou só com a cabeça para cima."

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Bebê de 10 meses perdeu a vida sob os escombros - Reprodução/ TV Jornal

"Quando conseguiram tirar todo mundo, começaram a procurar pelo bebê. Isso ainda pela manhã. Acharam o corpo dele às 15 horas da tarde. Mas quando ele chegou ao hospital, o médico disse que ele já estava morto há cerca de uma hora", disse.

No início da noite de domingo (29), os bombeiros localizaram o corpo de Andreza Fragoso da Silva, 30 anos.

Divulgação
Andreza Fragoso da Silva, 30 anos. - Divulgação

Ela estava soterrada a 50 metros da casa dela. Após uma hora, o corpo foi retirado da terra.

A equipe do Corpo de Bombeiro encontrou na tarde desta segunda-feira (30) o corpo de Leandro Severino, 37 anos, marido de Andreza.

Uma outra vítima das chuvas em Pernambuco, foi um idoso de 60 anos que vivia em uma casa no bairro dos Estados, na cidade de Camaragibe.

No mesmo momento em que vizinhos tentaram alertar o homem do perigo que corria, a barreiras por trás da residência dele deslizou vitimando Mauro Jorge Cardoso e ferindo várias pessoas.

O momento foi registrado. Veja vídeo clicando aqui. 

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Mauro Jorge Cardoso, 60 anos, mais uma vítima das chuvas em Pernambuco. - Reprodução/ TV Jornal

VÍTIMAS DAS CHUVAS EM PERNAMBUCO

A equipe de reportagem da TV Jornal relembra o nome e idade de algumas das 91 vítimas, vidas que se foram. 

1. Rosenilda Maria de Oliveira da Silva, 42 anos


2. Helena Beatriz Bezerra dos Santos, 04 anos


3. Richarlison Nascimento Aguiar, 12 anos


4. Anderson Nascimento de Aguiar, 26 anos


5. José Estevão de Aguiar, 72 anos


6. Francisca Estevão dos Santos, 63 anos


7. Maria Vandeilza Ramos de Aguiar, 58 anos


8. Beatriz Santos da Silva, 1 ano e 8 meses


9. Thays Lucia Oliveira da Silva, 21 anos


10. Elisangela da Silva Rocha, Idade: NÃO INFORMADO


11. Kaique Marques da Silva, 7 anos


12. Emile Marques da Silva, 5 anos


13. Raissa Marize Bezerra de Souza,24 anos


14. Marize Maria de Souza Silva, 43 anos


15. Elize Beatriz Souza dos Santos, 1 ano e 04 meses


16. Fábio


17. Maria Jose Gomes da Silva, 82 anos


18. Rayonara Ribeiro de Oliveira, 30 anos


19. Thais Thayane Soares dos Santos, 13 anos


20. Ivandeque Carlos de Lima, 47 anos


21. Antony Miguel de Souza Silva, 10 meses


22. Hadassa Lima da Silva, 2 anos


23. Victor Henrique Silva de Lima, 1 ano


24. Andreza Fragoso da Silva, 30 anos


25. Artur Tomé da Silva, 19 anos


26. Antoni Miguel, 10 meses


27. Alex Rodrigo da Luz, 41 anos


28. José Cláudio da Silva, 62 anos


29. Rosimere Hipólito da Silva, de 44 anos


30. Sérgio Pimentel, de 54 anos


31. Aureogildo Vasconcelos, de 36 anos

32. Leandro Severino, 37 anos

33. Mauro Jorge Cardoso, 60 anos

34. Leandro Severino, 37 anos.

De acordo com a UPA do bairro do Ibura, no Recife, dentre as vítimas cinco pessoas ainda seguem desconhecidas, sendo um homem, duas mulheres e duas crianças do sexo masculino, com idade estimada em nove anos.

DESABRIGADOS

O número de desabrigados também só aumenta. Informações do Governo Estado indicam que, até o momento, 6.198 pessoas estão desabrigadas, de acordo com o balanço atualizado na manhã desta terça-feira (31).

Em todo o Estado, aumentou para 24 o número de municípios que já decretaram situação de emergência por conta dos impactos provocados pelas chuvas. São estes:

  • Recife
  • Olinda
  • Jaboatão dos Guararapes
  • São José da Coroa Grande
  • Moreno
  • Nazaré da Mata
  • Macaparana
  • Cabo de Santo Agostinho
  • São Vicente Ferrer
  • Paudalho
  • Paulista
  • Goiana
  • Timbaúba
  • Camaragibe
  • São Lourenço da Mata
  • Abreu e Lima
  • Araçoiaba
  • Igarassu
  • Aliança
  • Glória do Goitá
  • Vicência
  • Bom Jardim
  • Limoeiro 
  • Passira

PREVISÃO DO TEMPO EM PERNAMBUCO

A Agência Pernambucana de águas e Clima (Apac) prevê a continuidade de chuvas rápidas ao longo do dia, com volumes moderados, tanto na Região Metropolitana do Recife como na Mata Norte.

CHEIA DE 1975

Não é a primeira vez que o Recife é acometido por tragédias desse tipo. No século passado, a população vivenciou momentos de terror semelhantes.

Em 1975, mais precisamente na madrugada do dia 17 e o início da tarde do dia 18 de julho, a capital pernambucana sofreu a maior catástrofe natural de sua história, causada pelo transbordamento do Rio Capibaribe.

Sérgio Bernardo/JC Imagem
Transbordamento do Rio Capibaribe marcou Recife em 1975 - Sérgio Bernardo/JC Imagem

A enchente provocada pelo transbordamento do Rio Capibaribe causou a morte de 104 pessoas e deixou cerca de 350 mil desalojados, cobrindo 80% do território do Recife.

A tragédia atual, espera-se que supere a vivida no século XX e torne-se a maior tragédia do século XXI. 

BRENDA ALCÂNTARA/AFP
BALANÇO Governo do Estado contabiliza 84 mortes entre quarta-feira (25) e ontem, mas em março outras duas pessoas morreram vítimas das chuvas - FOTO:BRENDA ALCÂNTARA/AFP
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Casal segue desaparecido - FOTO:Reprodução/ TV Jornal
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Vítima segue desaparecida - FOTO:Divulgação
Arquivo pessoal
O jardineiro Alex Rodrigo da Luz mora no bairro da Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes. - FOTO:Arquivo pessoal
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Taís Lucia Oliveira, de 22 anos, e a filha Beatriz, de 1 ano e 8 meses. - FOTO:Reprodução/Instagram
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Artur Tomé da Silva, de 19 anos, foi resgatado pelos próprios moradores da Guabiraba, mas acabou falecendo. - FOTO:Reprodução/TV Jornal
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Bebê de 10 meses perdeu a vida sob os escombros - FOTO:Reprodução/ TV Jornal
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Andreza Fragoso da Silva, 30 anos. - FOTO:Divulgação
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Mauro Jorge Cardoso, 60 anos, mais uma vítima das chuvas em Pernambuco. - FOTO:Reprodução/ TV Jornal
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Transbordamento do Rio Capibaribe marcou Recife em 1975 - FOTO:Sérgio Bernardo/JC Imagem