175 transexuais e travestis foram assassinadas no Brasil em 2020. O levantamento foi divulgado hoje (29) pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
O número representa aumento de 29% em relação a 2019, quando foram registradas 124 mortes.
A média é de uma pessoa transexual ou travesti assassinada a cada 48 horas no Brasil. Em números absolutos, São Paulo foi o estado com mais casos em 2020, com 29 mortes, seguido pelo Ceará, com 22 assassinatos, e a Bahia, com 19.
Os três estados foram também os que apresentam o maior número de mortes nos últimos quatro anos (de 2017 a 2020).
Nesse período, foram registrados 641 assassinatos de pessoas trans, sendo 80 em São Paulo, 62 no Ceará e 59 na Bahia.
A maioria das pessoas trans mortas no ano passado no Brasil 2020 eram negras (78%). “Os índices médios se mantêm em uma faixa de 80% desde que iniciamos o levantamento”, enfatiza o relatório. Mais da metade das vítimas (56%) tinha entre 15 e 29 anos.
Os crimes registrados em 2020 ocorreram principalmente em espaços públicos (71%), e oito das vítimas eram pessoas em situação de rua.
As profissionais do sexo também estão entre os mais expostos, totalizando 72% das transexuais assassinadas ao longo do ano passado.
“É exatamente dentro desse cenário que se encontra a maioria esmagadora das vítimas, tendo sido empurradas para a prostituição compulsoriamente pela falta de oportunidades, encontrando-se em alta vulnerabilidade social e expostas aos maiores índices de violência, a toda a sorte de agressões físicas e psicológicas”, destaca o relatório.
O documento chama a atenção para a necessidade de políticas e ações que promovam a inclusão e proteção das pessoas trans a partir de suas complexidades.
“É preciso analisar o transfeminicídio e a violência que ele admite contra pessoas trans sob um olhar transversal, que entenda a complexidade do contexto em que essas pessoas são colocadas e os processos que enfrentam”, ressalta o texto.
Ainda segundo a Antra, é necessário naturalizar “as relações sociais com as histórias, vivências e corpos LGBTI+ [lésbicas, gays, bissexuais, transgênero ou trans, queer, intersexuais+] em todos os ambientes e espaços”.
No Rio de Janeiro, a organização não governamental (ONG) Impulse Rio e ativistas pelos direitos da população trans convocaram um ato na escadaria da Câmara Municipal, para o fim da tarde de hoje (29).
Para exaltar personalidades históricas e atuais da luta por visibilidade e direitos, serão exibidos no Rio de Janeiro banners com fotos de 25 pessoas trans que se destacaram na história do movimento trans.
São figuras como Marsha P. Johnson, uma das protagonistas da Revolta de Stonewall, e João W. Nery, o primeiro homem trans brasileiro a passar por uma cirurgia de redesignação sexual. A ativista e atriz Dandara Vital foi a responsável pela seleção das homenageadas e homenageados.
Para ela, o Dia da Visibilidade Trans não é um dia de comemoração, já que os assassinatos de pessoas trans ainda são frequentes no país e grande parte das travestis e transexuais está na "prostituição compulsória", como única forma de ter renda e sobreviver.
"Isso mostra que aqui no Brasil, apesar de a gente ter conquistado algumas coisas, ainda temos muito a evoluir, ainda mais quando falamos de direito à vida e direito à sua essência", diz Dandara. "A gente espera que em um futuro bem próximo seja uma data de comemoração".
Depois do ato, os banners com os 25 homenageados serão doados à Casa Nem, abrigo para pessoas trans em situação de vulnerabilidade que funciona no Flamengo, na zona sul.
Terão suas histórias contadas no ato: Marsha P. Jhonson e Silvia Rivera, Xica Manicongo, Brenda Lee, Giselle Meirelles, Hanna Suzart, Claudia Wonder, Claudia Celeste, João W. Nery, Janaina Dutra, Duda Salabert, Erika Hilton, Benny Briolly, Erica Malunguinho, Renata Carvalho, Jovanna Cardoso, Indianara Siqueira, Andrea Brazil, Alessandra Ramos, Bruna Benevides, Keyla Simpson, Leonardo Peçanha, Ventura Profana, Tiffany Abreu, Patrick Lima e Maria Eduarda (Duda).
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