Após 11 dias de buscas, Lázaro Barbosa, suspeito do assassinato de uma família em Ceilândia, no Distrito Federal, ainda não foi capturado. Conhecido como "serial killer de Brasília", ele é procurado em Goiás, por uma operação de mais de 200 policiais, mas a equipe tem tido dificuldade para conseguir capturá-lo.
Por que é tão difícil?
Especialistas consultados pelo SBT News apontam que alguns dos motivos que dificultam a localização do suspeito são a imprevisibilidade do tipo de patologia de Lázaro e as dificuldades logísticas das forças de segurança.
Segundo Cássio Thyone, perito criminal aposentado da Polícia Civil do Distrito Federal e membro do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apesar das críticas da população à demora na captura de Lázaro, as forças de segurança atuam com os recursos disponíveis. Ele também destaca que Lázaro é considerado um foragido imprevisível.
A imprevisibilidade do suspeito é reforçada pelo especialista em segurança pública Leonardo Sant'Anna.
"A preparação para esse tipo de evento é impossível, pois depende muito da característica do agressor. Normalmente é imprevisível, não é possível avaliar quando vão ser os surtos. Alguns tipos de patologia podem ficar inertes durante determinado tempo e aflorar em outros momentos", destaca.
Fake news
A Secretaria de Segurança de Goiás também aponta dificuldades de apuração do caso, pelo excesso de fake news. Os agentes têm recebido falsas informações sobre o suspeito, o que, segundo Miranda, tira tempo das investigações.
"É um problema sim. Não só essa fake news [de que Lázaro estaria em um cemitério], como outra de que ele já havia sido baleado, que já estava morto. Tudo isso atrapalha, porque não só a nossa Inteligência, como as unidades de operação, tem que checar. Às vezes a gente deixa de atender mais rapidamente uma informação procedente, para atender uma que não tem relevância", disse, na última 5ª feira.
Mais perto de capturá-lo
Com o cerco policial se fechando, a tendência é que Lázaro sofra mais estresse, aponta Thyone. "Ele precisa dormir, se alimentar, vencer o próprio estresse psicológico. Tempo é o fator que favorece quem está tentando encontrar a pessoa e não quem está tentando fugir", complementa.
Segundo Cássio Thyone, a imprevisibilidade de Lázaro pode resultar em diferentes desfechos. "A gente não sabe qual vai ser a reação dele em um eventual momento no qual as forças de segurança o encontrarem. Ele pode desistir.
Ele pode partir para o confronto. Se for pensar no que ele já fez, em relação a família feita refém em Cocalzinho de Goiás (GO), na última terça-feira (15), que foi resgatada pela polícia, ele foi para o confronto e atirou em um policial. Se ele mantiver essa tendência, infelizmente há chances de ele não ser capturado vivo".
Dificuldades de logística
A operação, que conta com agentes das polícias civil, militar, rodoviária federal e força nacional, dura dez dias. Para Leonardo Sant'Anna, é preciso haver sinergia entre as forças de segurança para solucionar o caso. "É a união entre as diferentes instituições. O perfil psicológico vem de um grupo da polícia civil, ações que devem ser feitas são definidas pela polícia militar, a parte de logística é feita pela polícia militar. São muitos agentes e a coordenação deve ser centralizada e única".
"É algo comum a dificuldade de estabelecer uma comunicação efetiva entre as pessoas da operação, o exercício efetivo do comando da operação. É difícil comandar uma operação de pessoas que não estão acostumadas a trabalhar juntas", ressalta Cássio Thyone.
As forças de segurança do DF, do Goiás, corporações federais, e agora a força nacional estão em busca de Lázaro. A operação, realizada em uma área rural, também é outro ponto que dificulta o andamento das buscas, segundo o especialista.
De acordo com Cássio Thyone, a operação de Lázaro é planejada diariamente. "As equipes recebem as informações do dia e planejam o dia seguinte. É preciso sempre rever o planejamento". Segundo o especialista, o objetivo é antecipar os passos futuros de Lázaro.
"É preciso fazer a mesma leitura que ele faria, antecipar, só assim a chance de captura é maior. Isso depende das informações buscadas também pelos núcleos de inteligência das forças". Cada uma dessas informações é utilizada para ver como ele agiu e o que poderia tentar fazer novamente.
É preciso repensar o sistema judicial
Para os dois especialistas, o caso de Lázaro mostra as falhas do sistema judicial por completo. É o que reitera Cássio. "O caso de Lázaro reflete as mazelas de todo o sistema judicial, ele é preso, depois foge, não cumpre mandato de prisão, ele muda de estado e a informação não é compartilhada".
Leonardo Sant'Anna ressalta a necessidade em se pensar problemas estruturais do sistema prisional: "É pensado primeiro a punição da pessoa e pouco a ressocialização do apenado. Há baixíssimo investimento no sistema prisional brasileiro e não há investimento na pessoa que deve ser reintegrada na sociedade de forma saudável".
Para os especialistas, após a resolução do caso, é necessário rever onde ocorreram as falhas, o que pode ter acontecido para ele chegar onde ele chegou e analisar o que aconteceu com precisão. "Tudo desemboca na segurança pública, ela é o resultado de falhas sistêmicas. Enfrentar o crime é uma das questões de segurança pública. A prevenção é mais importante do que o combate", destaca Cássio Thyone.
Os crimes
Lázaro é acusado de matar, a tiros e facadas, três pessoas na zona rural de Ceilândia no último dia 9 de junho. Os mortos eram Cláudio Vidal de Oliveira, de 48 anos, e os filhos Gustavo Marques Vidas, de 21 anos, e Carlos Eduardo Marques Vidal, de 15 anos.
O foragido também é apontado como responsável pelo sequestro da mulher de Cláudio, Cleonice Marques de Andrade. O corpo dela foi encontrado no dia 12 à beira de um córrego, próximo da casa onde a família morava. Na terça-feira (15), ele fez uma família refém em uma chácara e atirou em um policial, que foi atingido de raspão.
Lázaro também é investigado pela morte de um caseiro em Girassol, no dia 5 de junho, quatro dias antes do assassinato da família.
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Desabafo do pai
O aposentado afirmou que está "envergonhado" com os delitos que o filho cometeu. "Dizem que é filho meu, registrei, mas a própria mãe falava que ele não é filho meu. Nem ele, nem o outro, que eram dois", disse o pai de Lázaro.
O homem disse que se casou muito jovem com a mulher, na Bahia, e que ela "pegou o menino para criar" e que ele "era bandido". O casal se separou quando Lázaro ainda era criança.
"'Tá' uma revolução no país praticamente inteiro e eu não tenho onde 'socar' mais o meu rosto de vergonha. Cada crime que ele pratica é uma facada no meu coração!", afirmou o aposentado, que vive em Cocalzinho de Goiás.
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Quem é Lázaro Barbosa?
O homem mais procurado do Distrito Federal, atualmente, é o baiano Lázaro Barbosa Sousa, de 32 anos, nasceu no município de Barra do Mendes, na Bahia, a 500 km de Salvador. O suspeito é casado e tem dois filhos. Criado na mata, no passado, ele já ficou foragido da polícia da Bahia por 15 dias.
Em Barra do Mendes, ele cometeu ao menos dois assassinatos, depois mudou de estado para dar sequência a sua empreitada criminosa.
Lázaro Barbosa é serial killer?
Oficialmente, a polícia do Distrito Federal não trata Lázaro Barbosa de Sousa como um "serial killer". Ele é suspeito de assassinar quatro pessoas de uma mesma família, na semana passada, e está fugindo dos policiais, desde então. Na fuga, ele já trocou tiros e fez reféns.
O termo "serial killer" para tratar este caso foi adotado por usuários das redes sociais, tecnicamente, de forma errada.
Confira a cobertura sobre o caso