ACIDENTE

Entregador do Ifood morre, enquanto levava pedido, e empresa bloqueia conta da vítima por ''má conduta''

Yuri de Souza Fontes tinha 24 anos

Catêrine Costa
Catêrine Costa
Publicado em 05/09/2022 às 15:48 | Atualizado em 05/09/2022 às 17:33
Notícia
Divulgação
Entregador sofreu um acidente enquanto fazia entrega - FOTO: Divulgação

Dia 15 de maio sempre será uma data que remete a muita tristeza para a família de Yuri de Souza Fontes.

O entregador de aplicativo que prestava serviço para o Ifood morreu após se envolver em um acidente quando seguia para uma entrega.

Os parentes souberam da tragédia após o irmão da vítima, Yago de Souza Fontes, 29 anos, receber um vídeo no WhatsApp. “Eu olhei a placa da moto e vi que era a dele”, disse em entrevista ao The Intercept Brasil.

Após isso, a família foi até o local na esperança de encontrar o jovem de 24 anos vivo, mas já foi possível.
Tudo ocorreu na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca, em frente ao Shopping Metropolitano, na zona oeste do Rio de Janeiro.

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SAGA CONTRA O IFOOD

Diante do momento de dor, a família buscou o auxílio-funeral e o seguro de vida prometidos pelo iFood, mas até o momento não receberam nada.

De acordo com informações do The Intercept Brasil, menos de um mês antes do acidente, a plataforma havia divulgado um pacote de quatro novas coberturas de seguro aos entregadores ou "parceiros'', como a empresa chama os prestadores de serviço.

As coberturas para acidentes, morte, invalidez e lesão temporária foram somadas a uma proteção especial para mulheres, cobertura para educação de filhos de entregadores e, em caso de acidente, suporte com um programa de recomeço para famílias de vítimas e o auxílio-funeral de R$ 5 mil.

O irmão de Yuri relata que a família não conseguiu contato a tempo com o Ifood para o auxílio-funeral.

"MÁ CONDUTA" 

A equipe de reportagem da TV Jornal entrou em contato com o Ifood e a empresa afirma que "entregador ativo e regularmente cadastrado na plataforma, e que esteja em rota ou na volta para a casa, está coberto gratuitamente. Após análise, foi constatado que o entregador parceiro utilizava uma conta com dados cadastrais atribuídos a terceiros".

A tal conta estava sendo usada no momento do acidente. A plataforma disse ainda que "a situação irregular infringe os termos de uso da plataforma e inviabiliza a cobertura do seguro"

"Conforme o protocolo, o iFood informou a inconsistência dos dados à família durante o acolhimento e disponibilizou apoio psicológico", disse ainda.

Ao The Intercept Brasil a família informou que não houve nenhum tipo de apoio psicológico.

A "situação irregular" mencionada pela empresa, na verdade, é comum entre os entregadores do Ifood devido ao grande número de penalizações aplicadas pela plataforma, afirmam os parentes. 

Em novembro de 2021, Yuri criou uma conta com o CPF de sua namorada, mas com seu nome, foto e CNH.

A criação foi para quando a conta original fosse bloqueada ele tivesse uma alternativa. Isso ocorreu em 9 de maio de 2022.

A família não sabe o motivo e diz que a suspensão foi indevida. Após o bloqueio, naquela semana, Yuri passou a usar a conta com o CPF da namorada. Era ela que estava em uso quando ele se acidentou.

No dia 17 de maio, a família viu que a conta dele e a com os dados da namorada estavam bloqueadas.

No dia 21, a família entrou com recurso apenas contra o bloqueio da conta “principal” do Yuri.

Dia 26, cinco dias depois, o iFood ligou para a família e respondeu ao recurso com a desativação definitiva da conta principal de Yuri por suposta “má conduta dentro da plataforma”.

“Enquanto era conveniente, o Yuri podia rodar burlando o sistema na cara deles. Mas na hora do seguro, aí não pode”, disse Luciana, irmã de Yuri.

O ACIDENTE

O acidente de Yuri ocorreu perto de uma cabine da Polícia Militar. Os agentes afirmaram que o entregador teria escorregado e caído sozinho.

Os familiares e entregadores da região, amigos de Yuri, afirmam que foi um atropelamento e que o motorista fugiu sem prestar socorro.

Em maio eles fizeram um protesto cobrando que o caso fosse investigado e que as imagens do acidente, registrado em vídeo, fossem periciadas. Isso não aconteceu, segundo a família.

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*Com informações do The Intercept Brasil.

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