A pandemia do novo coronavírus tem atingido fortemente a população mais pobre do Brasil. No Recife, não é diferente. Milhares de pessoas vivem sem a mínima estrutura para manter hábitos de higienização e distanciamento social.
Quem mora nas palafitas do bairro do Pina, na Zona Sul da capital pernambucana, por exemplo, está sempre mais exposto ao risco de contrair a doença, em uma cidade que possui um déficit habitacional de mais de 70 mil moradias.
A covid-19 escancara a ausência de estrutura das palafitas: quem não tem água encanada para lavar as mãos corre mais riscos e o período de isolamento é um desafio para quem tem que dividir um espaço pequeno com muitas pessoas. Na casa da dona de casa Sheila Barros, moram oito pessoas e a água só chega em baldes. "É muito difícil. Os barracos aqui não têm água, não tem como ficar lavando a mão direto", conta a mulher, que está grávida.
A dificuldade de prevenção, de tratamento e a impossibilidade de manter o distanciamento social são alguns dos fatores que evidenciam esta dura verdade, e mostram como o problema da urbanização irregular pode contribuir para a disseminação do coronavírus. "Tudo isso contribui para que qualquer doença possa alcançar com rapidez todos os moradores. O que nós necessitamos, na realidade, no Brasil, é ter uma política adequada de reurbanização dessas áreas, encarar isso com seriedade. Então, é uma questão que precisa ser debatida, precisa ser encarada, para que não nos foquemos apenas no coronavírus, mas sim na melhoria da condição de vida da população mais carente", considera o arquiteto e urbanista Fred Moreira Lima.
De acordo com a Prefeitura do Recife, o déficit habitacional na cidade é de cerca de 71 mil casas. Dados do último plano local de habitação de interesse social revelam que a cidade apresenta 4.725 residências consideradas precárias.
"Essa é uma reportagem que gera muitos questionamentos: lavar as mãos para se evitar doenças...como, sem água? E a covid-19 é só um entre tantos males que rondam e espreitam as nossas palafitas. Praticar distanciamento social? Falta espaço para que os moradores exerçam o que é, hoje, indispensável. Essa é uma reportagem que também destrói muitas certezas e cria uma linha infinita de reflexões: como será o amanhã da criança que está na barriga de Sheila, à espera de um futuro? Igual ao da mãe, do pai e dos outros irmãos? Como e de que forma poderemos enxergar e cuidar dessa nova vida e todas as outras que estão nas palafitas? O que podemos e devemos fazer, todos nós - o poder público, os eleitos, as autoridades, a sociedade - para que o filho mais novo de Sheila e todos os outros filhos das palafitas possam ter, enfim, dignidade e esperança?"
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