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Aos 71 anos, Naná Vasconcelos morre no Recife

Site Da TV Jornal/ Com informações do NE10
Site Da TV Jornal/ Com informações do NE10
Publicado em 09/03/2016 às 9:00

-Reprodução/TV Jornal
O percussionista Naná Vasconcelos, de 71 anos, morreu nesta quarta-feira (9), no Hospital Unimed III, Ilha do Leite, área central do Recife. O músico estava internado desde o último dia 29, depois de passar mal em um show em Salvador, na Bahia, e desde então, o quadro clínico só se agravou. Na última semana, ele chegou a ser internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), respirando com a ajuda de aparelhos. Naná lutava contra um câncer no pulmão desde o ano passado.

O velório ocorre às 14h na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na Rua da Aurora, área central da capital. O enterro será nesta quinta-feira (10), no Cemitério de Santo Amaro, também no centro. Sempre perseverante, o ícone da música pernambucana ficou 20 dias internado, ao descobrir sobre a doença, no ano passado. Com a estabilidade na saúde, o percussionista recebeu alta, mas continuou com o tratamento, fazendo mais de 40 sessões de quimioterapia.

Um funcionário do percussionista, Edelvan Barreto, trabalhou durante 20 anos ao lado do percussionista e falou sobre o legado do amigo no estado. “Ele era uma pessoa que não queria ver ninguém mal, um gênio da música. Ele fazia coisas que ninguém faz e não conseguirá fazer. Não vai existir outro Naná Vasconcelos”, pontuou o homem com a voz embargada. Outros amigos, como o mestre da Nação Porto Rico, Chacon Vieira, prestaram a homenagem ao ícone. “Ele mesmo com a doença, com toda a dificuldade do mundo, não parava de trabalhar. Este é um dos seus grandes legados”, contou.

A última vez que o musicista subiu ao palco em Pernambuco foi na abertura do Carnaval do Recife deste ano. No evento, ele comandou 400 batuqueiros e dividiu o palco com vários convidados como o Clube Carnavalesco Misto Pão Duro, homenageado do evento, Maracatu Nação Porto Rico e Lenine. Naná deixa a esposa e duas filhas.



Trajetória

Filho de um violonista do Recife, Naná teve na infância influências musicais que iam de Villa-Lobos a Jimi Hendrix. Especializou-se em instrumentos de percussão brasileiros, particularmente o berimbau. A primeira universidade a que teve acesso foi a Universidade do Samba de Sítio Novo, imaginária entidade nascida das lucubrações do professor Jomard Muniz de Britto nos idos de 1966, onde Naná se graduou no instrumento que o fez ganhar o mundo. Juvenal de Holanda Vasconcelos (nome de batismo) nasceu no Recife mas ficou conhecido em outros países - morou 27 anos nos Estados Unidos e outros cinco em Paris, onde trabalhou e gravou discos.

Depois de tocar por algum tempo em cabarés e bandas da capital pernambucana, ainda jovem mudou-se para o Rio de Janeiro, onde conheceu Luiz Eça, Wilson das Neves, Gilberto Gil, e passou a acompanhar Milton Nascimento e o Som Imaginário. Em 1970 foi convidado para integrar a turnê do saxofonista argentino Gato Barbieri pelos Estados Unidos e Europa.

Foi nessa época que Naná radicou-se em Paris, onde gravou seu primeiro disco, “Áfricadeus”. Em 1973 gravou no Brasil “Amazonas”, que se tornou um marco na combinação de percussão e voz na MPB. De volta ao País, trabalhou com Egberto Gismonti por oito anos, tendo gravado juntos três álbuns, entre eles o aclamado “Dança das Cabeças”.

Na década de 70, o pernambucano tocou com grandes nomes da música internacional como Pat Metheny, B.B. King e Paul Simon. Foi eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo pela revista americana Down Beat e ganhador de oito prêmios Grammy.

Naná, que tem uma África dentro de si, é responsável há muitos anos pela abertura do Carnaval do Recife. Em 2013, foi um dos homenageados da folia, ao lado do fotógrafo Alcir Lacerda. O percussionista, muitas vezes desconhecido dos brasileiros, é admirado por artistas nacionais como Maria Bethânia que, um dia, em entrevista, o usou como exemplo do mais completo significado de cultura popular brasileira: aquele que não é estático, que renova a tradição.

O pernambucano foi um dos autores da trilha sonora da animação O Menino e o Mundo, do diretor paulista Alê Abreu, o único filme brasileiro que concorreu ao Oscar em 2016. Em setembro de 2015, descobriu um câncer no pulmão – na mesma semana, recebeu a informação de que seria Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Foi com seu berimbau que o músico esteve em dezembro de 2015 na UFRPE para receber o título de doutor.

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